Predisposição à trombose é causa comum de falhas em procedimentos de Fertilização In Vitro

DO TEXTO: Uma vez que o tratamento vascular esteja devidamente encaminhado, é possível seguir normalmente com a Fertilização In Vitro

Apesar de possuir altas taxas de sucesso, a Fertilização in Vitro, um dos procedimentos de reprodução humana mais populares entre casais inférteis, não é infalível e pode não resultar em gravidez, o que pode ser realmente decepcionante para o casal tentante.


Trombofilia pode prejudicar implantação de embrião durante Fertilização In Vitro, além de aumentar risco de abortos e partos prematuros, mas tratamento multidisciplinar é solução para um gestação bem-sucedida.

São Paulo – Abril/2022 - Apesar de possuir altas taxas de sucesso, a Fertilização in Vitro, um dos procedimentos de reprodução humana mais populares entre casais inférteis, não é infalível e pode não resultar em gravidez, o que pode ser realmente decepcionante para o casal tentante. E uma causa comum, mas pouco comentada desse problema é a trombofilia. “A trombofilia é a tendência do indivíduo a sofrer com trombose devido a uma circulação prejudicada, o que favorece a formação dos coágulos sanguíneos, característicos da trombose, no interior das veias. Mas é importante ressaltar que são problemas diferentes. Uma pessoa com trombofilia pode nunca ter uma trombose na vida. E quem sofre com trombose não necessariamente tem trombofilia”, afirma a cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Mas, afinal, o que a circulação tem a ver com a Fertilização In Vitro? Segundo o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, a resposta está no momento da implantação do embrião fecundado em laboratório no útero. “Para que a gravidez aconteça, o embrião formado a partir do óvulo e do espermatozoide precisa se fixar corretamente no endométrio, tecido que reveste o útero, para que então comece a se desenvolver. No entanto, as alterações na circulação causadas pela trombofilia, com aumento do risco da formação de coágulos, podem atrapalhar esse processo, impedindo que a implantação embrionária ocorra como deveria”, diz o médico.

E, mesmo que a implantação aconteça da maneira adequada e a gravidez se concretize, a trombofilia ainda pode causar complicações durante a gestação. “Isso porque as alterações sanguíneas causadas pela trombofilia podem provocar obstrução da circulação placentária, com consequente redução do fluxo de sangue para o local. Em casos em que apenas parte das veias é obstruída, o resultado pode ser uma diminuição do fornecimento de nutrientes para o bebê com consequente redução do crescimento fetal. Já em casos mais graves, pode ocorrer o descolamento da placenta e até mesmo a morte do feto, levando a partos prematuros e aumentando o risco de aborto”, destaca o Dr Rodrigo.

O problema é que a trombofilia é difícil de ser diagnosticada. “Inchaço repentino e duradouro, principalmente nos membros inferiores, dor constante, mudança de coloração e aumento de temperatura no local são sinais de alerta para a formação de um coágulo. Mas a trombofilia é, em muitos casos, assintomática, visto que nem sempre leva à formação de coágulos”, diz a Dra Aline, que, por isso, recomenda que pessoas que tem antecedentes pessoais ou histórico familiar de abortos, trombose ou trombofilia na família mantenham um acompanhamento vascular. “É muito comum, inclusive, que as mulheres recebam o diagnóstico de trombofilia justamente após múltiplas tentativas de fertilização in vitro sem sucesso, quando o médico vai investigar o motivo das falhas na implantação do embrião”, diz o Dr Rodrigo.

Em caso confirmado de trombofilia, o tratamento é indispensável não apenas para garantir que a mulher consiga engravidar por meio da Fertilização In Vitro, mas também para assegurar a sobrevivência do bebê e o bem-estar da gestante. Mas a abordagem pode variar dependendo do caso. “Podemos prescrever o uso de anticoagulantes, como a heparina, e a adoção de um estilo de vida saudável, abandonando hábitos que figuram como fatores de risco para o problema. Recomenda-se, por exemplo, que a mulher pare de fumar e ingerir álcool, consuma bastante água, adote uma alimentação balanceada, realize exercícios físicos regularmente e evite passar muito tempo na mesma posição. Peso excessivo também figura entre os fatores agravantes, pois o excesso de gordura aumenta o estado inflamatório e dificulta o retorno venoso, tornando a circulação venosa mais lenta”, diz a cirurgiã vascular.

Uma vez que o tratamento vascular esteja devidamente encaminhado, é possível seguir normalmente com a Fertilização In Vitro, pois, apesar da trombofilia ser uma das causas para falhas no procedimento, a FIV, segundo o Dr Rodrigo Rosa, é um dos tratamentos mais recomendados nesses casos, justamente por permitir um maior acompanhamento e controle de todo o processo. “Com a condição controlada, podemos seguir normalmente com a realização da fertilização in vitro, na qual, após um período de estimulação ovariana, os óvulos são coletados para serem fecundados com os espermatozoides em laboratório. Após formado e desenvolvido até um certo estágio, o embrião é então transferido de volta ao útero”, afirma o médico.

E, mesmo com o resultado de gravidez positivo, é importante manter o acompanhamento vascular e obstétrico, pois, apesar dos cuidados, a gestação de grávidas com trombofilia ainda é de alto risco. “Por isso, um pré-natal rigoroso é fundamental para garantir a saúde da mãe e do bebê. Além disso, é recomendado o tratamento multidisciplinar do paciente, que deve seguir sendo acompanhado de perto tanto por um obstetra quanto por um médico vascular”, completa o Dr Rodrigo Rosa. “Em casos graves, podemos continuar com o uso de anticoagulantes durante toda a gestação para prevenir o espessamento do sangue e a formação de coágulos. Já em casos em que o risco é menor, apenas o acompanhamento redobrado com um pré-natal reforçado e a adoção de um estilo de vida saudável é suficiente”, finaliza a Dra Aline Lamaita.

*DRA. ALINE LAMAITA: Cirurgiã vascular, Dra. Aline Lamaita é membro da diretoria (comissão de marketing) da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Membro da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia, do American College of Phlebology, e do American College of Lifestyle Medicine, a médica é formada pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (2000) e hoje dedica a maior parte do seu tempo à Flebologia (estudo das veias). Curso de Lifestyle Medicine pela Universidade de Harvard (2018). A médica possui título de especialista em Cirurgia Vascular pela Associação Médica Brasileira / Conselho Federal de Medicina. RQE 26557
*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa

 


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