Auto-cancelamento, quem nunca?

DO TEXTO: Todos nós conhecemos alguém que se cancelou, que nunca se perdoou por um erro do passado, por uma escolha...
Cancelamento é o conceito da vez, palavrinha famosa que tem passado de boca em boca sempre ganhando roupas novas. Na essência, nada mais é do que um julgamento perpétuo ao que consideramos um erro grave do outro. Diante da nossa incapacidade de perdoar e esquecer, cancelamos as pessoas.


Por: Juliana Valentim*


Cancelamento é o conceito da vez, palavrinha famosa que tem passado de boca em boca sempre ganhando roupas novas. Na essência, nada mais é do que um julgamento perpétuo ao que consideramos um erro grave do outro. Diante da nossa incapacidade de perdoar e esquecer, cancelamos as pessoas.


Nada que nunca tenha sido feito ao longo da história, mas, nos tempos atuais, o cancelamento ganha proporções compatíveis com o alcance da Internet. Ou seja, o cancelado é cancelado publicamente e por muito mais gente.


Talvez a pessoa tenha feito mesmo algo muito grave, mas o que vemos é um movimento para que repensemos este tipo de punição. Às vezes, ela é justa, às vezes, não. E isso serve pra gente com a gente mesma, quem nunca sofreu uma autopunição?


Todos nós conhecemos alguém que se cancelou, que nunca se perdoou por um erro do passado, por uma escolha, por uma estrada, por uma palavra que não deveria ter sido proferida. Há quem se cancele por toda uma vida! E sofre, é claro!


São pessoas que andam por essa terra sem se olhar nos olhos, com os espelhos sempre tampados para não enxergar o próprio reflexo. Todo mundo já se sentiu assim alguma vez na existência, como se não fosse digno de perdão.


Faz parte da natureza humana a vergonha de si mesmo, mas, em algum momento, ela precisa passar. E dar lugar a uma coisa bonita que nos faz seguir, sem carregar tantas culpas. Porque as coisas essenciais, invisíveis que são, cabem dentro do bolso ou na palma da mão. O resto é peso na alma, tralha que não compensa levar, é corrente que prende ao chão e atrapalha o caminhar.


Há indivíduos que possuem uma enorme facilidade em perdoar os outros, mas quando o assunto é o próprio erro, tratam-se com desdém. E não é justo negar a si mesmo um abraço! Se você não faz, quem o fará?


No fim das contas, no fim do mundo, qualquer que tenha sido o erro, a gente sempre pode voltar pra casa, para o aconchego do próprio peito, onde tem a cama pronta e rango no fogão, onde a música toca bem alto. Lulu Santos, talvez. A gente sempre pode voltar pra casa, para nossa casa de dentro... Outra vez!


*Juliana Valentim é jornalista e escritora, com vasta experiência também na área de comunicação corporativa. Autora de três livros, transita por diferentes gêneros literários, passando pelas crônicas, poesias e romances. É palestrante, consultora de escrita criativa e gerencia o perfil no Instagram @palavrasquedancam. 


Richard Clayderman - Ballade Pour Adeline


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