Mulheres angolanas ganham voz e espaço no empreendedorismo feminino

DO TEXTO: A brasileira Camila Silveira, diretora da Câmara do Comércio da Angola, capacita mulheres angolanas para entrar no empreendedorismo.
Camila Silveira e formandas-Divulgação

Por meio de cursos voluntários focados na liderança e empoderamento feminino, Camila Silveira já capacitou mais de mil mulheres que se tornaram empreendedoras e se libertaram das amarras impostas pela sociedade


Angola, país localizado no sul da África que concentra mais de 30 milhões de habitantes. Conhecida pela sua capital Luanda, o país tem mais em comum com o Brasil do que imaginamos. Isso se dá pela sua colonização, também pelos portugueses, que fizeram ser um dos poucos países do continente africano que tem como língua oficial o português. Seus habitantes também não divergem muito dos brasileiros se adaptando e se reinventando as necessidades de um país com grande desigualdade social e mais de 3 milhões e meio de desempregados. Mas, o que mais chamou a atenção da atual Diretora da Câmara de Comércio Angola Brasil, Camila Silveira, foram as suas mulheres que, apesar de serem símbolo de força e batalha como todas as outras do mundo, possuem particularidades dentro da luta de estar e permanecer em um mercado de trabalho que já foi, majoritariamente, masculino. 

“As mulheres africanas são grandes empreendedoras, mas sem ter essa consciência. Trabalham normalmente em mais de uma atividade e acabam por não evoluir o quanto podem por não enxergarem o caminho da descoberta de quem realmente são”, explica Camila, empresária que ao ver a necessidade dos habitantes do continente africano criou e conduz cursos voluntários que ensinam a empreender e gerir um negócio próprio que transforma vidas. Uma dessas capacitações tem como foco o empoderamento feminino, tema escolhido na intenção de ajudar o máximo de mulheres das mais de 15 milhões que habitam em Angola. “São mulheres que estão cansadas de serem vistas e rotuladas como sempre resistentes e que estão se abrindo a novos direcionamentos e se desapegando das amarras do passado.Foi ao me deparar com cada história e suas dores que entendi que para ter mulheres vencedoras e empreendedoras de sucesso precisaria trabalhar um pilar inicial, a estrutura emocional”.

Além desse desafio encontrado, o ensino para mulheres, que antes já foi algo proibido em diversos países, apresenta uma instigação diferente para a empreendedora que teve que se adequar a forma com que compreendem e interagem com o mundo. “Mulheres possuem o dom do julgamento e questionamento, o que torna o desafio muito mais saboroso. Não basta apenas falar de sucesso temos que mostrar, transformar e presenciar o resultado, o que faz o processo ser muito mais completo e impactante. É o que transformou a capacitação em algo realmente intenso onde cada participante também me fortalece cada vez mais”. Além dessa adaptação,a também palestrante foi uma das muitas pessoas que foram surpreendidas com a chegada da pandemia e precisou transformar o método em uma criação digital que segue ultrapassando fronteiras e ensinando de forma segura seus alunos ao redor do mundo.

Com um panorama de 360º do universo do empreendedorismo, o projeto exclusivo também oferece as angolanas cursos focados em pilares do empreendedorismo, liderança, introdução empresarial em meios digitais, vendas e marketing, gestão financeira e gestão de padarias, que apesar de diferente é uma das principais necessidades da região e uma forma simples de impulsionar a empreendedora a gerar alimentos e lucros. Com um conjunto completo e momentos intensos, Camila acompanha de perto as 47% das mulheres de 25 a 50 anos que se certificam com seu projeto e renascem para a plenitude que merecem. “Temos um grupo onde posso acompanhar mesmo após o curso suas histórias e ver a mudança pessoal e profissional que vão desde o recomeço de vidas amorosas até lucros nunca obtidos antes. Mas,o mais bonito é ver elas criarem a consciência que não precisam ser a famosa ‘mulher maravilha’ para serem perfeitas e que são exatamente incríveis com tudo que lhes falta”, comenta.


Camila Silveira e formandas
Para a surpresa dela e de muitos, as mudanças conquistadas nessa luta, que segue sendo necessária e constante, acabam afetando não só as mulheres, mas também os 53% dos homens africanos e ao redor de todo o mundo que se capacitam no projeto voluntário e que acabam contestando os seus preconceitos, ações e educação depois de presenciarem, de forma cada vez mais próxima e igualitária, o sucesso dessas mulheres. A empreendedora descreve que mesmo com diferentes nacionalidade e histórias esses homens, de idades entre 20 a 65 anos, passam a estar mais dispostos a assumirem suas vulnerabilidades e entenderem o que lhes afasta de suas realizações. Dessa forma, o projeto que antes ultrapassava apenas fronteiras está cada vez mais unindo não só o comércio dos dois países, mas também os gêneros.

Apesar dos avanços constatados e de ter ajudado a mudar a vida de mais de cinco mil pessoas espalhadas pelos sete continentes do mundo, a empreendedora entende que as dificuldades e empecilhos encontrados por mulheres e também homens na Angola são históricos e se estendem pela forma em que os outros países enxergam o cenário do território africano como um todo. “Apenas doações não fortalecem pessoas capazes culturalmente de reescrever uma história, o país precisa disto. Afinal, não nascemos para sobreviver e sim para viver com plenitude. Por isso, tento fazer com que todas as pessoas do mundo independente de seu território entendam que são únicas e podem fazer coisas ímpares por onde permitirem que seus pés estejam e suas mentes alcancem”, conclui.

Sobre Camila Silveira 
Natural de São Paulo-SP,  formada em Negócios internacionais e Comércio exterior, além de diretora da Câmara de Comércio Angola Brasil, ela é embaixadora e fundadora da Federação das Câmaras de Comércio de Angola, empresária, está à frente do grupo Terra Brasil - empresa de máquinas e equipamentos, escreveu mais de seis livros e tem o ‘Vencedor ou Vítima’ como sua mais nova obra publicada. “Ele foi inspirado totalmente nos meus erros, na busca desenfreada de dar certo, mas sem direcionamento e não identificando o caminho, digo que fui minha melhor experiência de erros e acertos. Quando decidi sair do lugar de vítima, precisei assumir a culpa do que não havia construindo por anos”, comenta. 

Camila também é palestrante e desenvolve um trabalho voluntário que destina ao empreendedorismo estável dentro do país com as abordagens: Pilares do empreendedorismo, estrutura emocional empreendedora, liderança, introdução empresarial em meios digitais, Vendas e Marketing, empoderamento feminino, gestão financeira e gestão de padarias (uma das principais necessidades e forma simples de impulsionar o empreendedor a gerar alimentos e lucros ).  

Sobre a Câmara de Comércio Angola Brasil
A Câmara de Comércio Angola Brasil promove e auxilia o comércio e os negócios internacionais entre os dois países, estimulando a iniciativa privada e a livre concorrência em Angola. Visando a elevada demanda por novos negócios surgida no país, a Câmara estabelece redes de apoio mútuo na oferta de serviços e produtos. Isto fará com que a economia angolana vá muito além da atual concentração de riqueza na exploração de petróleo e diamantes
Mais informações: www.fcca.ao

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