Publicada por
Tâmara Oliveira Santana

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Banheiro neutro uma realidade no badalado Méqui 1000 |
Por: Tâmara Oliveira Santana
Fotos: Divulgação
Como uma jornalista, mulher, negra, solteira, estou sempre a procura de novidades. Há meses com o furor da inauguração do novo Méqui 1000 em um tradicional casarão na Avenida Paulista, em São Paulo, me vi empolgada em conhecer o mais novo point “cult” da cidade. Marquei com uma amiga e fomos experimentar o recém inaugurado restaurante da popular rede de fast food norte americana, McDonald´s.
Apesar da onipotência externa do belo imóvel, na parte interna você é remetida rapidamente à atmosfera tecnológica e moderna como de qualquer outra loja da rede McDonald´s: filas intermináveis, gente demais bailando com suas bandejas pelo salão, terminais eletrônicos espalhados em pontos estratégicos do restaurante, seguranças com seus uniformes impecáveis. Mesmo dentro de um casarão antigo, com sua suntuosa escadaria de mármore os clientes são levados instantaneamente ao “mundo” McDonald´s.
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Arquitetura tradicional do Méqui 1000 "hospeda" a modernidade do banheiro misto |
Após uma “suruba” gastronômica (afinal quem vai ao Méqui para ficar só na casquinha?) me vi obrigada a visitar o banheiro. Meio perdida sai a procura da placa de indicação de banheiro feminino, com aquela sensação de aperto total. Perguntei a um funcionário que indicou-me uma fila que levava ao toalete. Entrei na fila com gente de distintas identidades de gêneros, orientação sexual, etnias. Dialoguei comigo mesma: “assim que chegar mais próximo haverão cabines separadas para mulheres e homens”. Ledo engano, ao chegar minha vez entrei em um boxe onde um jovem homem havia acabado de usar.
Ao fechar a porta do compartimento, senti-me constrangida. Sem saber o motivo, a urina que minutos antes tanto queria se despedir do meu corpo, pareceu tímida ao eu tirar minha roupa e ficar de cócoras para então poder fazer o tão esperado xixi. Urinei, mas urinei me contorcendo, para que o barulho do mijo não vazasse para o lado de fora da cabine e a imensa fila não escutasse o barulho do meu ato de privacidade.
Ao sair da cabine senti-me extremamente envergonhada, lavei minhas mãos rapidamente, evitando o enorme espelho a minha frente e declinando contato visual com qualquer pessoa. A impressão que eu tinha é que todos da fila, sobretudo os homens haviam se incomodado com o som estarrecedor do meu xixi, que algum “espírito de porco” havia visto a minha calcinha furada da Intimissimi, que alguém se divertiu com o “vai e vem” da cordinha do absorvente interno que estava a usar enquanto sofria para liberar a urina naquela minúscula cabine com luz baixa.
Ao retornar à mesa fiquei a me perguntar indignada o motivo que me levou a ficar tão constrangida e irritada ao usar um banheiro unissex?
Me considero uma mulher de mente aberta, viajada, um tanto estudada, sem muitas frescuras na vida.
Por muitas vezes fiz xixi em beira de estrada, em “parede viva” feita por amigos e amigas em diferentes ruas, por incontáveis ocasiões transformei cabines telefônicas de Londres em banheiros públicos, assim como já fiz xixi em um balde de alumínio em um compartimento pequeno tendo na cortina de tecido um jovem de 13 anos como “vigia” em uma remota comunidade no interior da Jamaica.
Talvez o que pesou no banheiro do Méqui foram os ensinamentos de quando pequena, para fazer xixi sem fazer barulho, da imagem quando criança em escoltar minha mãe e minhas tias a banheiros públicos ou casas de amigos e as mesmas abrirem torneira para que o som da água da torneira se misturasse com o barulho de suas urinas, pois mulher deve ser educada ao mijar.
Quando cheguei à mesa comentei o meu desconforto com minha amiga Thaísa que é trans, e no ato de querer experimentar a proposta do banheiro, nem esperou eu acabar de falar direito e encaminhou-se para a fila do polêmico sanitário unissex.
Thaísa voltou do banheiro com um semblante de contentamento, escancarou um enorme sorriso e disse: “LUXO, esse banheiro misto! Isso sim é diversidade de verdade!”
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Atualidades
Autora:Tâmara Santana

Um ser Em Construção
Tâmara Oliveira Santana, nasceu em Salvador/BA, foi criada em Macaé/RJ e atualmente mora em São Paulo/SP. Formada em jornalismo pela extinta Faculdade de Filosofia de Campos/RJ, atual UNIFLU – Universidade Norte Fluminense. Aos 18 anos fez intercâmbio para Kingston/Jamaica onde cursou teatro na Edna Manley College of The Visual and Performing Arts e Inglês na Universidade West Indies.
Com experiência em assessoria de imprensa, produção, redações de jornais e revistas no Brasil e exterior.
Entrevistou ícones como: o escritor e roteirista britânico indicado ao Oscar, Hanif Kureishi; o diretor do documentário SENNA, Asif Kapadia; o ativista da ONG inglesa Plane Stupid, Alistair Tamlit; a banda portuguesa os “Deolinda”; o cantor, compositor e ex Ministro da Cultura do Brasil, Gilberto Gil; a escritora e funcionária do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Benedita Gouveia Damasceno Simonetti, a benzedeira carioca, baseada em São Paulo, Maria Eliza de Luca; a criadora da Festa Literária Internacional de Paraty/FLIP, Liz Calder, entre outros magnos/magnas.
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legal adorei
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