Obra com estudo inédito sobre a Santíssima Trindade será lançada no MAS


Iconografia da Santíssima Trindade de Christiane Meier traz, de maneira inédita, uma viagem para se compreender um dos maiores mistérios da fé

Já imaginou conhecer a fundo o mistério central da fé e da vida cristã por meio de uma verdadeira viagem histórica pelo mundo das imagens, mas de maneira simples e acessível? É, justamente, o que nos propõe Christiane Meier em sua obra Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética, da Editora Lumen et Virtus, que será lançada no dia 31/08, a partir das 14h, no Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS).

No livro, Christiane refaz o percurso de pintores e mosaístas, desde o século III até o século XV, para compreender seu atrevimento e as fontes das quais se valeram não apenas na criação da iconografia de Jesus, como também, e de modo particular, da Santíssima Trindade. “Iniciaremos nossa análise, averiguando a origem das primeiras imagens cristãs, procurando entender como o artista atreveu-se a criar obras pictóricas do divino, a ponto de chegar ao antropomorfismo (forma de pensamento que atribui características humanas a animais, deuses e elementos da natureza)”, afirma a autora.

 A ousadia dos artistas, descrita por Christiane, pode soar estranho para algumas pessoas nos dias de hoje, devido à quantidade de imagens a que estamos submetidos, incluindo as da Santíssima Trindade e as de Cristo. Todavia, nem sempre foi assim, afinal retratar a divindade, imageticamente, era proibido nos primórdios do cristianismo: “Há culturas e épocas que proibiram parte das imagens, como a lei mosaica, no judaísmo, os períodos iconoclastas cristãos (movimento contra a veneração ou adoração de imagens religiosas), o islã; mas, dado que o homem necessita de imagens para a construção de seu mundo e de sua religiosidade, o artista acabou encontrando caminhos para produzi-las”.

O Prof. Dr. Jack Brandão, um dos grandes especialistas em imagem no Brasil, que prefacia a obra de Christiane Meier, define esse comportamento humano, marcado pelo consumo voraz imagético, de iconotrópico. “Algo semelhante acontece com a religião, todavia não se trata aqui de uma adoração imagética, mas de um reforço da fé. Algo semelhante acontece com a fotografia, quando recorro a ela para trazer da memória algo que me marcou, por exemplo. Assim, atendendo a essa demanda imagética, muitos artistas ousaram retratar Cristo e a Trindade, como nos coloca Christiane, ao abordar um tema tão sensível sob um ponto de vista ainda pouco explorado, por meio da construção e concretização imagética”.

No livro, Brandão faz um retrospecto de como o dogma da Santíssima Trindade foi sendo construído e percebido ao longo da história. Emprega, para isso, a autoridade dos Padres da Igreja para se compreender como se deu a construção do dogma, já que nem sempre foi visto da forma como conhecemos hoje. “Apesar de a ideia trinitária estar presente na Igreja, mesmo que de forma não clara desde a Era Apostólica, afinal foi declarada pelo próprio Cristo quando determinou que seus discípulos saíssem pelo mundo e batizassem todos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o conceito de um Deus Uno e Trino demandou intensos debates durante mais de três séculos para ser, oficialmente, declarado”, ressalta Brandão.

Segundo o pesquisador, foi somente após essa longa maturação que o conceito foi, oficialmente, declarado, no Concilio de Niceia, convocado pelo próprio Imperador Constantino, em 325 A.D. e ratificado por mais de trezentos bispos que representavam ali toda a cristandade. “Abria-se, de certa maneira, a partir daquele momento, a possibilidade de se representar, inclusive por meio de imagens, a Santíssima Trindade, conforme veremos no decorrer da obra”.

Ainda segundo Brandão, por mais que a Santíssima Trindade seja um dogma de fé, a obra proporciona um estudo rico e racional sobre o tema, permitindo com que o leitor perceba toda sua complexidade ou os meandros que levaram a sua concretização: “É próprio do dogma o não questionamento; todavia, muitos daqueles que abraçaram os ensinamentos do Mestre de Nazaré já estavam imbuídos de diversas teorias e do espírito racionalista. Além disso, tentar explicar questões de fé por meio da razão tornou-se o anseio de muitos conversos a nova fé que buscavam antes apaziguar seus próprios anseios que levar outros a acreditar em suas proposições”.

Portanto, compreender a fé por meio da razão não significa, necessariamente, duvidar dela, mas recorrer a meios que permitem seu aprofundamento, até mesmo como forma de fortalecê-la. Essa é uma reflexão trazida, de maneira magistral, pela obra de Christiane Meier, que não faz uma investigação de cunho religioso, mas iconográfico, atraindo crentes e não crentes. A obra “não se restringe apenas a abordar a ousadia de pintores do século III à primeira metade do XV, vai além, ao demonstrar como um dos maiores artistas sacros da contemporaneidade, Cláudio Pastro, ousou representar a Trindade não de forma antropomorfa, mas tão-só usando uso da palavra”, conclui a autora.

Portanto, Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética não só traz uma série de imagens que auxiliarão o leitor a compreender melhor o maior mistério cristão, no decorrer dos séculos, tanto no Oriente quanto no Ocidente, como também é uma verdadeira viagem histórica e imagética no tempo, representando uma abordagem investigativa nunca vista antes, envolvendo Arte e Religião.

Em breve, a autora também nos brindará com um curso, aprofundando melhor tal assunto, que está previsto para acontecer neste segundo semestre de 2019.

Sobre a autora
Christiane Meier é mestre em Ciências Humanas pela Unisa/SP, pós-graduada em História da Arte pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP/SP), bacharel em Tradução pela Johannes Gutenberg Universität, Mainz/Alemanha. Membro-integrante e pesquisadora do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS Imago Lab.

Sobre o Prof. Dr. Jack Brandão
Doutor em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP). Diretor do Centro de Estudos Imagéticos CONDES-FOTÓS Imago Lab, editor da Lumen et Virtus, Revista interdisciplinar de Cultura e Imagem, pesquisador sobre a questão imagética em diversos níveis, como nas artes pictográficas, escultóricas e fotográficas.   


SERVIÇO:
Lançamento do livro Iconografia da Santíssima Trindade: uma historiografia imagética
Data: 31 de agosto de 2019 (sábado)
Horário: 14h
Atividade gratuita
Não é necessário fazer inscrição.
Informações: (11) 5627.5393 – mfatima@museuartesacra.org.br
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo
Endereço: Avenida Tiradentes, 676, Luz. Metro Tiradentes.
Estacionamento gratuito (ou alternativa de acesso): Rua Jorge Miranda, 43
Estacionamento sujeito à lotação
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