É possível analisar o psicológico de um autor a partir de sua obra?

DO TEXTO:

Em "Lacan, Leitor de Joyce", a psicanalista francesa Colette Soler repensa se o escritor James Joyce era realmente louco e traz efeitos surpreendentes

Em 1975, o psicanalista Jacques Lacan dedicou um seminário ao escritor irlandês James Joyce intitulado O Sinthoma. Nele, Lacan se debruça na obra de Joyce e repensa a experiência analítica. Segundo a psicanalista, autor e obra são inseparáveis, uma vez que é possível encontrar, nas entrelinhas da ficção, estímulos e dados para investigar os laços sociais que foram possíveis para o escritor.

Na obra Lacan, Leitor de Joyce, publicada no Brasil pela Aller Editora, a psicanalista Colette Soler analisa a bibliografia de James Joyce seguindo os passos de Lacan, mas também deixando suas próprias impressões, e convida o leitor a repensar a análise lacaniana de maneira ampla.

Soler traz um novo olhar para a análise que Lacan fez da vida e obra de Joyce. A psicanalista revisita questões como a relação conturbada que o escritor irlandês tinha com o pai alcoólatra e identifica a busca de uma figura paterna em sua obra.

Os temas que Colette resgata são de extrema importância para a psicanálise nos dias de hoje. É a partir de sua nova análise que os lacanianos poderão rever a estrutura teórica que os sustentam. Mas engana-se quem pensa que as mudanças propostas pela francesa tem a intenção de superar Lacan. A própria autora destaca que é preciso seguir as etapas do caminho percorrido pelo psicanalista, entendendo o que foi desenvolvido naquela época e o que mudou.

Ficha Técnica:
Título: Lacan, Leitor de Joyce
Autora: Colette Soler
ISBN: 978-85-94347-09-1
Páginas: 224
Formato: 14x21

Sobre a autora: Colette Soler pratica a psicanálise e a ensina em Paris. Agrégée da Universidade em filosofia, diplomada em psicopatologia e doutora em psicologia. Foi seu encontro com o ensino e a pessoa de Jacques Lacan que a fizeram escolher a psicanálise. Foi membro da antiga Escola dissolvida por Jacques Lacan em 1980 e, após a cisão com a AMP em 1998, esteve na origem do movimento dos Fóruns do Campo Lacaniano e de sua Escola Internacional de Psicanálise.

Sinopse: Acompanhar Soler neste livro é uma oportunidade de fazer, parafraseando Joyce, uma recirculação de volta a Freud, Lacan e cercanias. Poderíamos colocar no início desse livro: “Cuidado, tinta fresca, work in progress”. Isso porque, apesar da leveza com que a autora escreve, ela nos convoca a pensar sobre assuntos que giram dias na cabeça, que tiram as certezas já empoeiradas das prateleiras e que obrigam a pensar sobre temas aparentemente resolvidos. “Joyce era louco?”, pergunta Lacan. Soler nos afirma que os lacanianos, inclusive ela, se precipitaram a responder que ele era um psicótico. E essa afirmação apoiou vários teóricos em suas construções. No entanto, Soler desconstrói essa sua resposta e mostra, ponto a ponto, como ela errou anteriormente e como pensa em se corrigir.

Para rever os diagnósticos, Soler nos entrega sua própria leitura da obra de James Joyce, trazendo exemplos nos trechos dos textos desse autor. Damos, com Soler, uma volta a mais sem voltar ao mesmo lugar, sem nos acomodar. Acompanhamos cada retomada, feita a partir de perguntas que abrem o caminho.

Estar à altura de seu tempo é o convite final deste livro. O final da obra lacaniana aberto a partir da proposta de Joyce: Finn again.

POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários