Beto Bruno poderia seguir o caminho simples de tocar a vida com o nome Cachorro Grande, banda que liderou durante 20 anos, e lançar mais um álbum pela franquia vitoriosa. Mas aceitou o risco de cunhar seu nome próprio como assinatura do novo trabalho e coloca-lo à prova do público. Algo (o disco) me diz que a história vai lhe fazer justiça e o início deste capítulo principia uma nova trajetória longeva.
Porque, resumindo: “Depois do Fim”, seu primeiro trabalho solo, é uma lufada de ar fresco roqueiro em período que cheira a retrocesso de 50 anos no país.
Não que o trabalho não traga referências do mesmo período. Mas o flerte com os anos 1960 e 70 remete ao insuperável criativo da época.
“Depois do Fim” soa como se uma banda hard roqueira gravasse composições de Brian Wilson da época de “Pet Sounds” e, principalmente, “Smile”. Ou o inverso disso. Tem os dois melhores lados de duas moedas que possuem ambas as faces virtuosas.
Fora que funcionaria tranquilamente como uma sequência dos recentes trabalhos da Cachorro Grande, “Costa do Marfim” e “Electromod”.
Minto.
“Depois do Fim” é um upgrade nestas duas décadas do conjunto, que encerrou carreira em julho recente. Beto Bruno concebe o melhor da fusão que a Cachorro mostrou principalmente nos mais recentes discos, quando incluiu na receita a cena de Madchester.
“A Ruptura da Linearidade do Tempo...” abre o trabalho como um mantra. Guitarra psicodélica e o texto: “O tempo passando/O mundo girando/O vento soprando/E o povo cantando”. Quase uma vinheta de minuto e meio, que faz a ponte para “Por Isso o Meu Samba é Diferente”. Um riff gêmeo bivitelino setentista com uma guitarra emulando Keith Richards em um canal e a outra, Pete Townshend, timbre de rock de arena, sopro da cena ecstasy britânica, rockão de escutar em air guitar e air piano.
“Por Que Eu Te Amo Muito e Há Tanto Tempo” (os títulos mereciam um release à parte) encharca em psicodelia, sonoridade de cravo com baixo, guitarra e bateria flutuam pela composição.
Já “Depois do Fim” remete a Mutantes meets indie rock. Uma costura quase instrumental e viajandona em “Marlon Brando, Beatles e Pelé” e uma pancada no tímpano batizada “Não É Todo Mundo que Tá de Boa Contigo” (não falei que os títulos mereciam release à parte?).
A música carrega o melhor de uma disputa mod x rockers, Clash versus Small Faces, hard rock setentista e dá a deixa para “Porco Garrafa” em levada synth soprar para os ares da gravadora Elephant 6, que lançou o melhor da sonoridade psicodélica norte-americana registrada nos últimos 20 anos.
Pedal steel, violão baladeiro, conduzem o clima como se para um filme do Elvis com trilha composta pelo Byrds em “A Mais Linda do Verão”, que disfarça o tom para uma nova pancada hard roqueira em “Digby, O Maior Cão do Mundo”.
E no violão o disco entra na levada final com “...Ou Provavelmente Estarei Dormindo”.
Ok, não falarei pela terceira vez sobre os títulos, as referências, timbres ou qualquer outra legenda para surdo. Mas que fique a advertência: nem um mês depois de fechar a tampa da Cachorro Grande, Beto Bruno corre o sério risco de estar lançando o disco que marcará o 2019 roqueiro brasileiro.
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