Preparando alunos brasileiros para o mundo 4.0

DO TEXTO:

Não há mais espaço para dúvidas. A automatização é certa e a substituição de pessoas por softwares será muito rápida. O alerta vale não só para os países desenvolvidos, como Estados Unidos e Japão, mas também para o Brasil. Estima-se que cerca de 8% de todas as posições de trabalho em 2030 serão postos que não existiam antes. Entre os principais pilares dessa mudança está a disseminação do uso da inteligência artificial, garantem os especialistas. Estudo divulgado pela consultoria Mckinsey, em 2017, alerta que a nova tecnologia já ameaça 50% dos empregos nos Estados Unidos e na Europa.

Nos países emergentes poderá colocar em risco 70% das posições de trabalho. Mas, nada de se desesperar. Há luz no fim do túnel. De acordo com pesquisa feita pelo Grupo Gartner, o uso de inteligência artificial levará à criação de cerca de 2 milhões de novos empregos até 2025. Esse número envolve não apenas novas vagas para engenheiros de software, mas também trabalho sem especialização, como treinamento de robôs para reconhecer objetos ou atividades humanas, por exemplo.

“Trata-se de um caminho sem volta, que exigirá mudanças significativas na formação da nova mão-de-obra”, afirma Yukin Pang, diretora de marketing internacional da chinesa Dobot. A empresa, fundada há apenas quatro anos, trabalha no desenvolvimento de uma nova geração de ferramentas inovadoras voltadas para a educação, que mesclam inteligência artificial e robôs, para serem usadas no ensino prático.

Segundo a executiva, as escolas têm um desafio muito grande pela frente, porque precisam repensar o modo como preparam seus alunos para o futuro. “A tecnologia será a base de tudo, estará presente no cotidiano das pessoas de uma maneira cada vez mais intensa, permeará a indústria, o comércio, os serviços, a rotina e o funcionamento das casas, da saúde, da própria educação”, reforça. “À medida que a tecnologia avança, a educação se torna ainda mais importante.”

Um dos caminhos apontados por ela para acompanhar com melhores resultados essa transformação foi o adotado pela China. As escolas chinesas passaram a usar, há cerca de uma década, o sistema educacional STEAM (Sciences, Technology, Engineering, Arts e Math). Trata-se de uma metodologia, desenvolvida nos Estados Unidos, que considera os conhecimentos inter-relacionados de Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, como ponto de acesso para guiar a pesquisa do aluno e o seu pensamento crítico. Com uma abordagem de problemas-orientados e de prática-orientada, o sistema capacita os alunos de todos os níveis educacionais a transformarem seu conhecimento fragmentado, suas habilidades práticas e sua mentalidade inovadora para exploração do mundo real.


Há menos de quatro anos, os chineses combinaram o método de ensino com inteligência artificial, melhorando significativamente seus índices de aprendizado. Não só Shangai, mas todas as províncias passaram a alcançar bons índices no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). “Ao agregar ferramentas tecnológicas e inteligência artificial à essa proposta de ensino, as escolas abriram muitas oportunidades para os alunos se tornarem programadores de pensamentos mais criativos e críticos”, afirma Yukin.

Entre as ferramentas adotadas pelas escolas chinesas está o Dobot Magician, braço robótico de mesa, leve e compacto, voltado principalmente para a educação STEAM, lançado pela Dobot em 2016. A solução de educação de inteligência artificial desempenha diversas funções, entre elas, impressão 3D, gravação a laser, escrita e desenho profissional, permitindo que os usuários combinem a programação de software com o desenvolvimento de hardware.

O Brasil na rota do novo aprendizado

De acordo com Simon Chen, diretor de venda da Dobot para as Américas, a tecnologia da Dobot pode ser usada desde o ensino fundamental até a pós-graduação, sempre concebida para atender às necessidades de cada instituição de ensino. De fácil usabilidade e multifuncionalidade, o Dobot Magician já ganhou espaço nos laboratórios de universidades de peso, como Tokyo University, Oxford University, Universidade de Sidney e MIT.

No Brasil, a Dobot começou a atuar em 2018, em parceria com a Minipa, líder no segmento de instrumentos de medicação, que tem no braço educacional um de seus pilares. “Trata-se de um mercado gigantesco, com grandes oportunidades, que ainda tem muito a agregar de tecnologia na área de educação”, observa Chen. “Nosso objetivo é ajudar as escolas brasileiras não só com a introdução da nova metodologia, mas também abrindo portas para investimentos com esse fim.”

O trabalho não será fácil, disso ninguém tem dúvida. “O primeiro passo nós já demos ao buscar a validação do braço robótico como ferramenta pedagógica segundo as normas da Base Nacional Curricular Comum”, afirma Carlos Antunes, diretor comercial da Munipa. “Estamos na terceira e última fase, que é validação prática, que deverá ser concluída no início do segundo semestre deste ano”. Só após o encerramento desse processo é que a ferramenta poderá ser colocada no Guia de Tecnologia do MEC, viabilizando o financiamento público para a sua aquisição. Cada unidade do Dobot Magician custa em torno de R$ 14 mil, valor que inclui treinamento e roteiro educacional.

As expectativas, garante Antunes, são muito boas, porque sabemos que o mercado demanda essa mudança. “Investimos cerca de US$ 1 milhão no projeto e contamos com mais de 300 robôs e acessórios disponíveis para pronta-entrega”, diz o executivo, observando que os Estados Unidos já compraram mais de 5 mil robôs Magician nos últimos dois anos. A proposta é trabalhar todos os níveis da educação pública e privada, desde o ensino básico até a universidade. O colégio Porto Seguro, um dos mais tradicionais de São Paulo, e algumas ETECs e Fatecs foram os primeiros a abraçar a novidade.

Para Flavio Yamamoto, diretor executivo da NTU Software Technology, e responsável pelos primeiros experimentos envolvendo o Dobot Magician no Brasil, o preço não é o maior desafio. “Financiamentos e apoio resolvem a questão dos custos, mas a principalmente barreira está no capital humano para trabalhar com a nova metodologia no ensino fundamental”, afirma. “Nosso ensino é compartimentado, o professor de matemática não interage com o de física e vice-versa. Em escolas técnicas e universidades isso até acontece, mas no ensino fundamental, não.”

A estratégia é entregar um problema real a ser resolvido e ver na prática a solução proposta. “É possível fazer muito e será necessário pensar assim, porque o mercado demandará a nova formação com foco na indústria 4.0”, garante. “Mas, antes é preciso driblar obstáculos como a baixa qualidade do aprendizado, boa parte dos alunos não sabe interpretar um texto, e melhorar a infraestrutura da internet.”

O diretor da NTU observa, ainda, que é preciso adaptar o novo sistema de ensino à realidade da educação nacional. “Se não é possível deixar cada aluno interagir com um robô, é totalmente viável transportar o desafio para a nuvem e depois de solucionado, o grupo programar um só robô físico”, exemplifica. “É isso que temos feito nos nossos experimentos.”

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