A espera da fiel amiga do Ricardo Boechat

DO TEXTO:

Dizem, e com toda a propriedade, que o cão é o maior amigo do homem. Eu também assino por baixo.

Em Portugal, tinha um cão que apanhei em fuga na ilha do Faial por ocasião do sismo de 1998, visto que lá me encontrava de férias. O cão, que devia ter umas duas a três semanas, saiu para a rua assustado com uma réplica forte, eram cerca das 17 horas. Trouxe-o no avião para a ilha Terceira e, deste modo, passou a ser mais um companheiro dentro de casa, tratado com todo o carinho. Quando eu viajava, o cão sentia a minha falta e, no regresso, ao colocar a mala em cima da cama  saltava à espera de algo que eu sempre trazia para ele. Um cão inteligente.

Vem esta estória à tona para que se medite quão é importante a presença de um animal de raça, por exemplo. E não nos causou admiração o que a esposa do falecido Ricardo Boechat contou no Instagram em relação à sua cadela que, à porta de casa, está sempre à espera do Boechat. Mais um (dos muitos) caso de amor entre o cão e o seu dono. É difícil prever quanto tempo será essa espera, ou seja, que o animal se aperceba que o Boechat não volta mais.

Vejamos o que contou a esposa do Ricardo Boechat: 

A cadela Nina, 3, ainda não se acostumou com a ausência de Ricardo Boechat, e diariamente espera que o tutor volte do trabalho.

“Toda noite ela fica no alto da escala esperando ele voltar da Band”, escreveu em rede social Veruska Seibel Boechat, viúva do jornalista.

E aproveito para deixar aqui registado uma carta que escrevi ao Ricardo Boechat no dia do seu triste falecimento:

Carta ao monstruoso Ricardo Boechat 

Meu querido companheiro, permite-me que assim te chame. Sou jornalista a completar 55 anos de carreira no dia 10 de março e cheguei ao Brasil de visita em 20 de agosto de 2004. Gostei deste país, apesar de todos os problemas que o rodeiam (violência, corrupção e por aí fora), e acabei por ficar por aqui arreigado às coisas boas que este Brasil também tem e que, infelizmente, não passam para o exterior,

Como homem que tem pelo jornalismo uma paixão desmedida (quem me acompanha nesta encruzilhada sabe que isso corresponde à verdade), tenho seguido regularmente os jornais das principais televisões brasileiras, com o intuito de analisar e aprender. Sempre digo que aprendemos uns com os outros, quer queiram quer não.

Quando foste chamado para âncora da Bandeirantes, passaste a ser o meu preferido. Confesso que delirava com os teus comentários, a tua sagacidade, a forma corajosa em como enfrentavas os "lobbies" deste país. No meu portugalzinho, diz-se, um tanto sarcasticamente, "pegar o touro pelos cornos". 

E neste caso de "pegar o touro pelos cornos", considerei-te um "diestro" que levantava bancadas e que, consequentemente, chamava a si uma "aficion" sem precedentes. Este um paralelo que fiz à-parte, mas creio que dá para entender.

Meu caro Ricardo Boechat, ainda hoje a ficha não caiu. E nunca vai cair porque, para mim, continuas sempre vivo. E confesso que foste para este cidadão português um MESTRE, um paradigma de enorme profissionalismo e, sobretudo, um ser humano fora do comum. A forma em como abordavas os temas com um "ex-professo" digno dos maiores encómios, daí seres considerado, sem qualquer espécie de demagogia, o maior âncora da televisão brasileira. Nesse sentido, um ror de opiniões em uníssono.

Ricardo Boechat deixa um legado que deve ser seguido por gerações vindouras, sobretudo aqueles que pretenderão seguir a carreira de jornalista. E quando se recordar a figura de Ricardo Boechat tire-se o chapéu e se pronuncie esta tão significativa frase: um monstro sagrado da comunicação brasileira e que, no meu entender, não terá substituto à altura. Diz-se que não há insubstituíveis, mas, neste caso, Ricardo Boechat é exceção à regra.

Meu caro Ricardo Boechat, repito que a ficha ainda não caiu e, por conseguinte, até mais logo no jornal da TV-Bandeirantes. 

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