Filme Paraíso Perdido marca o retorno de Monique Gardenberg à direção e de Erasmo Carlos às telonas

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VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO (foto: VITRINE FILMES/DIVULGAÇÃO)

Com homenagem à música brega brasileira e defesa da liberdade sexual longa chega às salas brasileiras

Walter Felix

O cancioneiro romântico e popular brasileiro inspirou a cineasta Monique Gardenberg em seu novo longa-metragem, Paraíso perdido, que estreia nesta quinta (31) nos cinemas. O filme põe fim a um hiato de 11 anos na carreira da diretora, cujo lançamento anterior foi Ó paí, ó, ambientado na Bahia. A ode ao brega feita por Paraíso perdido está presente em cenários, figurinos e nos dramas que assolam a família de artistas chefiada por José (Erasmo Carlos), dono da boate que dá nome ao filme, definida como “um lugar para quem sabe amar”.
Após a morte da esposa, o patriarca abandonou a carreira acadêmica e se refugiou na casa noturna localizada no Centro de São Paulo. A vocação para sofrer por amor foi herdada por seus descendentes: o filho Ângelo (Júlio Andrade), que canta nos palcos a dor de um romance interrompido; a filha Eva (Hermila Guedes), presa por 20 anos após matar em legítima defesa; a neta Celeste (Júlia Konrad), grávida de um namorado infiel; e o neto Ímã (Jaloo), travesti cujo amado não aceita sua condição sexual. Soma-se ao clã Teylor (Seu Jorge), filho adotivo de José, que sonha em ser ator.

Confira os horários de exibição de Paraíso perdido nos cinemas de BH, Contagem e Betim 

O espectador conhece esses singulares personagens por meio de Odair (Lee Taylor), policial que salva Ímã de um ataque homofóbico e é contratado como segurança do artista. Aos poucos, ele percebe que o passado esconde uma relação entre aqueles familiares e sua mãe, Nádia (Malu Galli), ex-cantora que ficou surda.

Os desencontros entre os personagens centrais de Paraíso perdido são embalados por clássicos da “sofrência”. O talento musical dos atores é bem aproveitado nas cenas em que interpretam canções como Tango para Teresa, de Ângela Maria, Tortura de amor, de Waldick Soriano, e 120... 150... 200... km por hora, de Roberto Carlos. A direção musical ficou a cargo de Zeca Baleiro, convidado por Monique Gardenberg para a tarefa por compartilhar de sua paixão pelo estilo. “Esse repertório popular sempre me encantou. Foi a temática intensa dessas canções que me levou ao estado de delírio para criar a história”, afirma a diretora.

Ela conta que o longa foi concebido a partir da tristonha Impossível acreditar que perdi você, sucesso de Márcio Greyc na década de 1970. “Ouvindo essa música, imaginei quatro mulheres: uma chorando em frente ao espelho, com um teste de gravidez nas mãos; outra indo se vingar de alguém que lhe fez mal; uma terceira, em coma, com o rosto enfaixado e só os olhos de fora; e uma travesti, que a cantaria”, lembra a cineasta.

Não à toa, portanto, as figuras femininas são aqui o grande destaque, com atrizes que estão à altura do desafio. Mallu Galli compõe uma figura doce e frágil da ex-artista, enquanto Hermila Guedes imprime um misto de força e sensibilidade à sua Eva. Já na segunda metade da história, o time feminino ganha reforço: Marjorie Estiano surge como Milene, namorada de Eva no presídio. Monique queria aproveitar o talento musical da atriz e cantora dando-lhe o papel de Celeste, que acabou sendo defendida por Júlia Konrad. “Conforme fui escrevendo Milene, ela veio com o jeito, a fala e uma personalidade ambivalente que me remetiam à Marjorie. Tudo nela é ambíguo e malicioso”, diz a diretora.

Monique conta que, em seu processo criativo, deixa a mente fluir e não traça um fim pré-definido para suas histórias, o que a leva a uma experiência de descoberta semelhante à do espectador. Talvez por isso, haja em Paraíso perdido um excesso de tramas e acontecimentos em detrimento de uma exploração mais aprofundada dos dramas individuais de cada personagem. O trunfo da produção é mesmo seu elenco, composto por atores totalmente entregues a personagens tão característicos – mas que escapam da caricatura, graças ao talento e carisma de cada um.

BANDEIRAS

Paraíso perdido defende a diversidade sexual e levanta a bandeira do amor livre, valores que se manifestam na postura dos membros da família diante de seus interesses amorosos. Em especial, com o personagem Ímã, que se define como travesti, mas faz questão de ser tratado com pronomes masculinos. “Pode não parecer, mas adoro ser homem”, ele garante.

“Para interpretar Ímã, eu queria alguém que tivesse o magnetismo que o próprio nome sugere. Já no roteiro, o personagem era encantador e eu procurava algum ator que passasse esse encanto e, ao mesmo tempo, uma leveza, brejeirice e gaiatice”, diz Monique. Essas características ela foi encontrar no cantor Jaloo, que mostra segurança em sua estreia no cinema. Além de ter o maior número de cenas musicais, o artista paraense se sai bem nas cenas dramáticas.

Embora viva num ambiente familiar harmônico, Ímã sofre agressões físicas na rua e lida com a rejeição de Pedro (Humberto Carrão), que se apaixona por sua versão travestida, mas o despreza quando não está caracterizado como mulher. “Ímã tem paciência com quem apresenta dificuldade em superar essas questões. Isso é o que acho mais bonito no personagem”, comenta Monique.

A produção marca ainda o retorno de Erasmo Carlos à telona. Para dar vida ao chefe do clã, a cineasta pesquisou por atores nas cinco regiões brasileiras e cogitou um convite a José Dumont. “Queria alguém que emprestasse algum tipo de significado àquele patriarca. Quando cheguei ao nome do Erasmo, percebi que ele tinha tudo que eu queria imprimir ao personagem. A escolha me pareceu até óbvia – ele era o ideal, isso estava na minha cara e eu não percebia”, relata a diretora.


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