Crítica: Generoso, Jô Soares é escada de elenco em A Noite de 16 de Janeiro

DO TEXTO:
Jô Soares, entre as atrizes Guta Ruiz e Erica Montanheiro: ele faz escada para os colegas em A Noite de 16 de Janeiro – Foto: Priscila Prade

Miguel Arcanjo Prado

Após 40 anos, metade de sua vida, sem dividir o palco com outros colegas, Jô Soares, 80 anos, levantou uma verdadeira trupe sob sua direção para encenar “A Noite de 16 de Janeiro” no palco do Tuca, em São Paulo. Além dele, estão em cena outros 15 atores, cada qual com sua oportunidade de destaque no ardiloso texto da escritora e filósofa judia russa naturalizada norte-americana Ayn Rand (1905-1982).

É claro que uns brilham mais que outros na peça de tribunal que trata do julgamento da secretária Andrea Karen, defendida por Guta Ruiz, que cresce na atuação à medida que a obra avança.

A personagem é acusada de assassinar seu patrão e amante, o milionário Folkner, que despencou da cobertura de seu arranha-céu nova-iorquino.

A sobriedade dá o tom estético da montagem, presente tanto na cinzenta cenografia de Chris e Nilton Aizner e na sutil iluminação de Maneco Quinderé.
Fabio Namatame faz um figurino que remete à Hollywood áurea dos filmes em preto e branco, mas sem arroubos.

A Noite de 16 de Janeiro tem numeroso elenco de 16 atores em um sisudo palco do Tuca  Foto: Priscila Prade

Enquanto os advogados de defesa e de acusação mantêm a energia do espetáculo em riste no embate entre os atores Cassio Scapin e Marco Antônio Pâmio, sucedem-se no banco das testemunhas variadas personagens.

Enquanto isso, generoso, Jô Soares ocupa o trono do juiz, sempre com seu obsessivo martelo em mão, fazendo escada aos demais atores — coisa que Jô sabe desempenhar de forma formidável, oferecendo o mínimo e alcançando grandes efeitos sobre o público, fruto de seu carisma e talento cômico natos.

Doze pessoas selecionadas na plateia sobem ao palco e ocupam o lugar dos jurados, estando em cena como os demais atores. O júri popular deve decidir ao fim dois finais possíveis: se a ré é culpada ou inocente, o que depende da capacidade dos atores em cena em convencê-los de suas verdades — ou mentiras.

Jô Soares entre Cassio Scapin e Marco Antônio Pâmio: ele estava sem atuar com elenco
havia 40 anos, metade de sua vida – Foto: Priscila Prade

Neste quesito, duas atrizes se sobressaem em grandes performances: Tuna Dwek, na pele de uma sisuda e enérgica governanta, e Erica Montanheiro, como a sedutora jovem viúva do falecido, contando com aquiescência de seu pai, também defendido com sobriedade e o seu já conhecido talento por Norival Rizzo.

Outro que se apresenta convincente em sua exótica composição de personagem é Luciano Schwab, na pele de um detetive que xereta a vida alheia, mas tem algo íntimo a esconder.Sem falas, mas se impondo em cena, Mariana Melgaço também se sobressai como a atenta datilógrafa do julgamento.Completam o elenco Felipe Palhares, Giovani Tozi, Kiko Bertholini, Mariana Melgaço, Milton Levy, Nicolas Trevijano, Paulo Marcos e Ricardo Gelli.

“A Noite de 16 de Janeiro” é a reconciliação de Jô Soares com o teatro tradicional após décadas intensamente dedicado à televisão. Jô volta à cena apresentando um bom e velho drama com suaves pitadas de humor que entretêm o público do início até o aguardado veredicto.

Crítica por Miguel Arcanjo Prado“A Noite de 16 de Janeiro” ✪✪✪✪
Avaliação: Muito bom
Quando: Sexta, 21h30, sábado, 21h, domingo, 19h. 110 min. 
Até 9/12/2018
Onde:Tuca (r. Monte Alegre, 1024, Perdizes, São Paulo,
tel. 11 3670-8455
Quanto: R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia)
Classificação etária: 14 anos

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