A Mina e Eu

DO TEXTO:
Bottary 


O Começo

Tudo começou quando em 1978, eu estava recém-formado no Curso Técnico de Mecânica, na CEFET/MG – Belo Horizonte e fui abordado por um ex-colega de sala de aula, que  ofereceu-me sua vaga para trabalhar numa mineração de extração em sub-solo de Zinco e Chumbo, na cidade de Paracatu, a noroeste de Minas Gerais, a 480km da capital, inclusive pra morar em alojamento. Pra lá fui eu, chegando em agosto de 1978.

A Chegada

Em chegando fui conhecer a Mina que já estava no nível de profundidade a 83m e, neste dia estava acontecendo um problema, pois enchia-se d’água, já ocupando o espaço entre o nível -83 e a primeira curva à esquerda depois do nível -50, onde falavam-se que seria lá a Sala de Britagem.  Acontecia um bombeamento de retirada da água.

Os Equipamentos

Havia dois equipamentos automotivos para retirada do material estéril (material desnecessário ao aproveitamento) de dentro da mina. Uma Carregadeira de rodas LHD - EIMCO 915B e uma Carregadeira de rodas Caterpillar 930.
Para perfuração das frentes de serviços a mina contava com um Jumbo de Perfuração hidropneumático de dois braços da Atlas Copco  e algumas perfuratrizes pneumáticas manuais da Boehler. Todos os equipamentos produzindo a contento.

Atlas Copco

Carregaeira LHD - Eimco 915B




O Técnico Mecânico

Fui naquela época, o primeiro Técnico Mecânico da oficina e o primeiro Controlador de Manutenção dos equipamentos automotivos, veículos leves e dos Compressores Diesel da Holman, estes, atendendo ao sistema de ar comprimido da mina.


Em Abastecimento de Diesel

Escritório de Manutenção


Os Investimentos

Na entrada da década de 80, por volta dos anos entre 1985 a 1989, iniciou-se investimentos de mais equipamentos, o que fez com que a mina acelerasse o seu escoamento de estéril.
Sentia-me honrado com aquilo tudo; co-responsável por aquela produtividade, que aos poucos alcançava degraus significativos no projeto de desenvolvimento.
Chegavam-se mais equipamentos e agora eram as Carregadeiras TORO 150D e 350D.



A Santa e a Mina

Santa Bárbara Protetora dos Mineiros


A Santa Bárbara, no alto da entrada da mina, protegia-nos, e ainda protege os mineiros!
Não havia, até então, meados da década de 80, a ligação da Mina com o Poço Vertical; porquanto a retirada do material do Poço era num enorme Balde, içado por um Guincho Pneumático, que mais parecia uma locomotiva movimentando-se “paradamente”. Ninguém tinha medo de descer no balde! Nem eu!



A Crise

A grande crise dos anos 80/90 não abalou os propósitos de construção de uma mineração que pudesse superar momentos tão difíceis. Sabíamos através do nosso Controle (manual) de Manutenção dos equipamentos, da necessidade ou não de trocar certos componentes do sistema de lubrificação – que, diga-se de passagem, é a alma de todo e qualquer equipamentos mecânico – mesmo que o plano viesse recomendar. Buscávamos um menor gasto, sem, contudo atrapalhar a vida útil do equipamento. Época das “Vacas magras”. Era certo que, pela experiência que vínhamos adquirindo, uma atitude de economia de cada setor, faria a diferença no contexto global e final. E mesmo assim ela continuava no vermelho.
Diante de tantos Planos Econômicos quiseram fechá-la, mas eis que o nosso gerente demonstrou aos investidores, a sua viabilidade. A Mina era sim, viável! Ela estaria viável, disse ele aos investidores compradores, até a última grama de Zinco e Chumbo. Aliás, dos Sulfetos de Zinco(ZnS) e Chumbo(PbS). A Mina é algo diferente na Natureza! Até ouro de tolo ela possui, a Pirita.


A Expansão

A partir dos anos 96 a 98, a mina expandia-se para baixo, para os lados e na superfície o complexo industrial se consolidava para o beneficiamento do minério. Buscava-se o melhor teor dos minérios Zinco e Chumbo. A Mineração, no entanto, mostrava fechamentos no vermelho, de acordo com informações em reuniões gerenciais. Investia-se na melhor maneira de trabalhar em equipe. A palavra de ordem era o tema: Qualidade Total, garantindo assim um empreendimento promissor e o futuro de todos ali presentes.

O final dos anos 90 foi de muita angústia e muito sofrimento para todos nós. A turbulência passou e os que ficaram, recomeçaram-na! Tudo na vida tem o seu recomeço!
Orientado pelo nosso gerente lemos o livro: “A Meta” e, muita coisa mudou em nossa consciência, depois disso. Em nosso comportamento caiu o conceito de que: “Manda quem pode obedece quem tem juízo”. Na verdade a mudança deste paradigma proporcionou-nos a reflexão de que o melhor líder de uma equipe é aquele que sabe ouvir os seus subalternos. Isto ficou bem claro, quando lemos também o livro: “O Voo do Búfalo”. Que maravilha de livro! Nele observamos o voo dos pássaros (gansos) num formato delta; em que quando o líder cansa de ficar na frente, ele troca de lugar com o que está mais descansado em uma das pontas do delta e assim o que estava atrás do líder pega a ponta; e assim sucessivamente até todos também colaborarem.

Neste intento de equipe, o objetivo é que todos tenham o sentimento da responsabilidade da liderança, não só vivenciando-a, como também, adquirindo experiência e, por conseguinte, que todos estejam se esforçando num objetivo comum. O trabalho é de ajuda mútua, horizontalizado.
A caminho da produtividade ( produção na unidade de tempo) era a palavra de ordem, não só na empresa, como em toda nação. O produto final deveria então ser focado por todos da empresa e não tão-somente o setor de  produção. A sobrevivência era de todos e todos se sentiam felizes e satisfeitos com aquela nova postura. Sentia-me orgulhoso de estar ali, naquela equipe agregando valor.
As mudanças ocorriam no mundo inteiro, mas não atingia aquela equipe de profissionais que mudavam a maneira de pensar e agir. Trabalhávamos para que nada pudesse atrapalhar os novos conceitos. Muitas “tempestades” aconteceram antes da virada do século XX; “trovões, enchentes e terremotos” carregavam os empreendimentos menos sólidos. Mas, nós tínhamos esta solidez e a equipe Morro Agudo sobrevivia e produzia a todo vapor. Saímos da faixa vermelha, adentrando na verde, qual seja, siga em frente! Doravante, a palavra de ordem!


O lazer


Pandeiro de Prata - Anos 80


Ainda que estivessem acontecendo as crises, havia muita diversão promovida aos trabalhadores e a minha era esta, cantar nas noites de sábados, no Pandeiro de Prata. A propósito não poderia deixar de falar que além de cantar muitas e outras músicas românticas, lá estavam em meu repertório, Detalhes e Sentado à Beira do Caminho. No final de cada show às 4 da manhã, era a vez do poema do Carlos Drummond de Andrade; E Agora, José?



Tudo passa

Hoje, o que ficou em mim é só muita lembrança. Podemos delimitar esta história entre o final do século passado e o limiar deste atual, sendo o primeiro um período de mais de 40 anos desde a descoberta do minério nos anos 50; surgindo um empreendimento e prosperando.
Este século XXI será o marco de uma ação correta e consciente dos anos anteriores; de uma equipe que jamais sairá da história desta Mina. Uma mina que mina água no teto e mina muita esperança no futuro dos trabalhadores. Por conseguinte, na manutenção de uma grande nação.




A Saída

Um dia, nela eu estava! Não pude ficar mais, e já se passaram 16 anos que me afastei dela; e acreditem, ela jamais saiu do meu coração, até por que, fez parte da minha vida e sobrevivência de minha família.

O Desejo

Quero desejar a todos os trabalhadores de toda esta fabulosa Equipe de Paracatu/MG, Vazante/MG e Três Marias/MG, e também, aos trabalhadores deste nosso Brasil varonil que o lábaro ostenta estrelado, que os anos vindouros sejam prósperos, de muita harmonia, muito equilíbrio, discernimento, e que tenham forças o suficiente para vencerem os obstáculos que possam advir deste trabalho. Muita segurança! Muita tranqüilidade, muita saúde e muita Paz!



Grandioso abraço do ex-colaborador Geraldo Botari de Oliveira

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Presente em mais de 20 países, a Votorantim é um dos maiores grupos empresariais brasileiros. A empresa concentra operações em setores industriais, tais como: cimento, mineração, metalurgia (alumínio, zinco e níquel), siderurgia, celulose, suco concentrado de laranja e autogeração de energia. No mercado financeiro, atua por intermédio da Votorantim Finanças.



 O Grupo Votorantim concentra suas operações em setores de base da economia que demandam capital intensivo, alta escala de produção e tecnologia de ponta, como: cimento, mineração e metalurgia (alumínio, zinco e níquel, com autogeração de energia), siderurgia, celulose e papel, suco concentrado de laranja e especialidades químicas. Atua também no mercado financeiro, por meio da Votorantim Finanças, e em Novos Negócios, com investimentos em empresas e projetos de biotecnologia e tecnologia da informação.


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2 Comentários

Comentários

  1. Para completar tão excelente texto, só falta ouvir o autor cantando algumas das músicas que habitualmente cantava (e ainda canta), em especial "E agora José", que surge ao minuto 6:30 do vídeo e que tem a particularidade de ser acompanhada por um apresentador portuga bancando uma de brasuca. :)
    E agora Bottary?! :)
    Grande abraço, cara!
    https://youtu.be/p92dPBsS4No

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    Respostas
    1. Ena,pá!

      Por esta eu não esperava!!

      Agora fico até com medo de que o gajo possa vir por estas bandas, que o lábaro ostentas estrelado, pois a concorrência vai ser forte pra dedéu!! Carago!!

      Grande abraço também, pá!

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