Publicada por
Derbson Frota

por Jamile Amine
A cantora Wanderléa, que encabeçou a Jovem Guarda junto com os amigos Erasmo e Roberto Carlos, celebra seus 50 anos de carreira e também do movimento musical, com quatro shows em Salvador. A Ternurinha, assim apelidada por Roberto, subiu ao palco da Caixa Cultural desta quinta-feira (10) até domingo, com uma apresentação montada especialmente para a ocasião. Em entrevista ao Bahia Notícias, a artista falou sobre o repertório para os shows na capital baiana e destacou os prós e contras de ter uma carreira com tantas músicas de sucesso, que segundo ela dão muitas possibilidades, mas ao mesmo tempo complicam o trabalho de escolha. Wanderléa comentou ainda o modo de difusão da música atualmente, com um único hit escolhido para estourar em todo país, e comparou ao modelo dos anos 60 e 70. “Nós viemos de uma época em que um disco grande era ouvido pelo fã inteiramente”, contou a cantora, atribuindo a isto a vastidão da sua obra. A artista falou também da relação com os amigos Roberto e Erasmo e não descartou um reencontro. Wanderléa, que foi a primeira mulher a estampar uma capa de revista nua e grávida, lembrou ainda da importância da Jovem Guarda na conquista de liberdades e disse que hoje o país vive um retrocesso.
Você faz quatro apresentações seguidas em Salvador, de quinta a sexta-feira. Como faz para manter a voz e a energia depois dessa maratona?
Eu acho que a maratona é que me deixa em forma, porque eu nunca parei de trabalhar. Agora mesmo eu venho de quatro shows seguidos também, em Recife. O palco me mantém, porque é uma coisa que exige de mim um certo cuidado. Quando você está sem trabalhar você abusa mais, você come mais, tal. E você estando trabalhando, diz “epa, eu tenho que manter a forma!” (risos).
Você tem alguma fórmula, alguns cuidados especiais?
Olha, eu sou adepta de tudo que possa ajudar. Eu faço pilates duas vezes na semana, faço minhas caminhadas, tenho uma alimentação mais saudável. Nada assim rigoroso, ou com muito esforço, mas eu sempre fui de me preservar um pouco. Eu sou delicada para comer, assim, felizmente as pessoas falam que eu como corretamente. Eu faço várias refeições amiúde, e evito excessos, evito coisas enlatadas. A coisa da comida mais saudável, que hoje em dia está em moda, eu sou adepta há muito tempo.
E esses shows que você apresenta em Salvador serão com repertório do último disco, o “Wanderléa Maravilhosa” (2014)?
Como eu estou comemorando os 50 anos da minha carreira e comemorando os 50 anos também da Jovem Guarda, então eu achei que deveria fazer um repertório com bastante sucessos da Jovem Guarda, não somente aqueles mais óbvios, mas aqueles que ficam na memória. Porque nós viemos de uma época em que um disco grande era ouvido pelo fã inteiramente. Não é como hoje, que uma música é preparada para ser sucesso e roda no Brasil inteiro aquela mesma música. A gente tinha a liberdade de fazer e o disco era distribuído no Brasil inteiro, então cada programador colocava a faixa que queria, e tal, então, com isso, nós ganhamos muito um recheio, assim, de sucessos, que mesmo não estando no set-list, onde eu vou, nos shows, as pessoas me perguntam e pedem para cantar. Às vezes eu nem sei mais a letra, ai eu digo "olha, essa eu não lembro mais, como é que é?", e eles começam a cantar. É muito divertido. E ter feito muitas músicas de sucesso, que ficaram na memória, isso facilita muito, mas ao mesmo tempo complica na hora de montar o set-list. Você fica "essa coloca? Ah, deveria estar, mas essa não está...". E ao mesmo tempo depois das coisas que eu fiz da Jovem Guarda, eu fiz discos maravilhosos, gravei autores todos que eu era fã, e fiz discos que ficaram, que são referências hoje, e então eu salpico um pouco de tudo no repertório.
E com tantos sucessos, como escolheu o repertório, o que você levou em consideração para montar esse show?
Bom, eu levei em consideração que é um show popular, não é um show fechado em teatro. Então eu achei assim, o público que vai me acompanhar na Caixa Cultural eu tenho certeza que é um público que me acompanha há muitos anos, e vai levar seus filhos, seus netos, que são os fãs que nós herdamos dos nossos fãs fiéis. E as músicas tanto trazem alegria para o público que está ali, como trazem alegria para mim também, porque são engraçadas, e as baladas também que ficaram todas o "Te Amo", "Fui Assim", "Eu Já Nem Sei", as pessoas adoram, então eu faço um repertório onde eu me comunique com a plateia, que ela possa cantar comigo. Então, porque, por exemplo, agora quando eu volto eu faço em Porto Seguro o "Wanderléa Maravilhosa", que é um show fechado, com uma banda grande, já é um repertório diferente, de um outro disco, ai eu fico presa naquele repertório daquele projeto. E esse show em Salvador não, é só festa, só alegria. Eu vou pincelar um pouco. Hoje mesmo ligaram "ah, você vai cantar 'Locomotiva'?", porque já é do show "Maravilhosa", então no público sempre tem alguém que quer um pouco do que eu fiz nos anos 70. Então eu acho que, de certa forma, eu escolho alguma música que tenha a ver com a banda e brinco também trazendo um pouco daquilo, como o "Chica Chica Boom", com um arranjo maravilhoso que gravei no Teatro Municipal de São Paulo e gravei o DVD refazendo o show "Wanderléa Maravilhosa". As pessoas adoram, então eu faço pra agradar não só ao público, mas a mim também, eu me divirto muito.
E já que o show é também para celebrar os 50 anos da Jovem Guarda, você não cogitou fazer algo comemorativo com Roberto Carlos e Erasmo Carlos?
As pessoas falam muito isso, os empresários falam muito isso, mas acontece que cada um tem seus complementos. O Roberto fica o tempo inteiro envolvido com a expansão do trabalho dele. Eu acho que vai ter uma hora que nós vamos comemorar isso tudo, mas a gente comemora ano após ano com nossa amizade, com esse acervo que também não desgruda da vida deles. Porque é uma coisa que marcou a vida deles, que foi a expansão que eles conquistaram também até hoje. E agora no dia 23, no especial do Roberto, nós vamos estar lá juntos. Eu, Roberto e Erasmo. O importante é saber que o público adora esse nosso encontro, porque celebra também o cultivo da amizade, de um projeto que deu certo, que não é um projeto de agora, é uma coisa de anos, de vida, de estrada, de carreira.
Você falou das pessoas que vão levando a família, você percebe muito em suas apresentações essa renovação de público?
Demais, é uma coisa impressionante. Porque tem público de muitas idades e muita criançada também em meus shows. Então eu brinco que essa já é a quinta geração. É muito bom, eu nunca pensei em deixar rastros assim, nunca imaginei, no início da carreira, na minha adolescência, que eu fosse estar falando do que nós fizemos lá atrás, ainda tão fresco na memória do público fiel que nos acompanhou e que se envolveu conosco. E nós sem querer trouxemos uma cultura jovem para o país, de liberdade de expressão, de cantar, de dançar, de vestir, e isso ficou muito efetivo, junto com o acervo musical de colar na orelha. Então as pessoas têm uma memória muito fresca de tudo aquilo.
Você sempre foi uma mulher à frente do seu tempo, dirigia carros esporte, andava de minissaia e posou nua, grávida, na capa de uma revista, em uma época em que as mulheres brasileiras viviam bem reprimidas. Como você vê esse momento no país?
A impressão que tenho é que foi um retrocesso. Eu vim de um ambiente comportamental muito severo, muito austero. E a Jovem Guarda veio abrindo com essa liberdade, trazendo um novo contexto familiar, onde o filho passou a ser ouvido pelo pai, e o pai no começo contestou muito aquilo, mas depois aderiu. Então nós trouxemos uma modernidade, um glamour, então eu acho que de uma certa forma houve um retrocesso. Uma coisa mais agressiva, não tem mais aquela coisa delicada. Mas eu acho que é o sinal dos tempos, do mundo em que estamos vivendo. Agora, no contexto geral, político, partidário, na minha época de Jovem Guarda nós fomos muito criticados por não atuar politicamente, e nós éramos muito jovens, não tínhamos uma noção ainda do que isso representava. E justamente por não achar que estávamos ainda com competência para falar, vivência para poder falar disso. Hoje, com a maturidade que a gente tem, todo mundo percebe muito bem, e com o advento da internet, hoje a informação é muito mais evidente. E eu sinto tudo muito mais participativo, mas ainda não percebendo a força que nós temos de ir pra rua contestar. Eu acho que as mulheres conquistaram muitas coisas, mas ainda falta muito. A mulher tem que sair questionando seus valores pessoais, eu acho que nós estamos a caminho disso, mas de qualquer forma eu acho a mulher na frente do homem, no sentido da percepção da grandeza humana. E é ela que gera seus filhos, é ela que traz os valores, ela que tem que estar muito atenta para preparar esses homens para o futuro. A responsabilidade é nossa, nós geramos e acompanhamos a evolução. Agora, como tudo no Brasil, com essa deficiência toda, a única coisa que não deixa de estar evidente é o coração, é essa verdade e realeza que tem o povo brasileiro. O povo brasileiro eu conheço, eu posso falar isso porque eu viajo o Brasil há 50 anos. É um povo generoso, maravilhoso, são mulheres maravilhosas, que batalham por seus filhos. Então o tempo inteiro a mídia fica escancarando coisas difíceis, mas existem coisas maravilhosas, exemplos maravilhosos de correção, de valores, generosidade. Nós precisamos é ter políticos à altura do povo brasileiro.
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Nua e grávida, Wanderléa estampou a capa da revista Status, em 1985 |
E quanto aos seus projetos, o que tem feito, além da turnê do último disco?
Eu estou fazendo vários. Estou fazendo esse, o "Wanderléa Maravilhosa". Eu adoro projetos diferentes, recebi um convite, fui para Minas Gerais e fiz um projeto todo cantando Sueli Costa e esse projeto foi tão bonito, que foi gravado. Então eles estão querendo que eu refaça isso em algumas capitais, mas tudo como projeto. E fiz ano passado 45 shows de chorinho com a banda “Ó do Borogodó”, porque chorinho também é uma coisa que eu fazia quando criança, quando existia apenas regional. Eu gosto de fazer coisas diferentes, agora, mas adoro o repertório que me fez popular no Brasil inteiro. Eu gosto de diversificar.
E sobre Salvador, você pretende trazer algum projeto para a cidade no futuro?
Ah, todos que Salvador pedir, nós estamos ai. Nós adoramos. Como te falei no início, o que me mantém em forma é o trabalho, e eu adoro e faço com muito amor.
SERVIÇO:
O QUÊ: Show de Wanderléa
QUANDO: De 10 a 13 de dezembro, 20h (quinta a sábado) e às 19h (domingo)
ONDE: Caixa Cultural Salvador
QUANTO: R$ 8 (inteira) e R$ 4 (meia) - vendas a partir das 9h da quinta-feira (10)
In http://www.bahianoticias.com.br
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Comentários
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Goastei muito da entrevista com a Wanderléa. Ela é muito centrada, inteligênte e grande artista. Tudo que disse tem um grande fundo de verdade. Letty Maria Impelizieri-Sou muito fã dela.
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