Erasmo Carlos (Biografia) Saiba um pouco mais, sobre esse ícone da MPB

DO TEXTO:


Na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, o garoto Erasmo Esteves cresceu cercado por elementos que tornariam sua identidade musical singular. Já adolescente, fez destacar sua personalidade no meio de um bando de fãs de rock´n´roll e bossa nova que se reunia no hoje famoso Bar Divino, na Rua do Matoso. Tim Maia e Jorge Ben, ambos maníacos por música, faziam parte dessa turma. Logo depois, conheceu o capixaba aspirante a cantor Roberto Carlos, quando concerto de Bill Haley no ginásio do Maracanãzinho. Aquela visão do herói do rock americano em solo brasileiro abriu a mente de Erasmo: de volta ao bairro, formou os Snakes com os dissidentes de outro grupo local, os Sputniks - que encerraram atividades após lendária briga entre dois de seus integrantes, Roberto Carlos e Tim Maia.

O grupo vocal de Erasmo estrelou algumas aventuras no underground do mercado musical, até ser contratado pela gravadora pernambucana Mocambo como "concorrentes" dos Golden Boys. Na Mocambo, os Snakes gravaram um bolachão de 78 RPM e também um compacto duplo em 1960, antes de chegarem, por fim, a um único LP, “Só Twist”, pela CBS em 1961. Como nem nesta oportunidade o grupo alcançou o sucesso, seu final foi decretado.

Sem seu conjunto e sem a perspectiva de gravação como artista solo, Erasmo foi arranjar trabalho como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial - por intermédio de quem viria a tornar-se crooner do grupo Renato & Seus Blue Caps, em 1962. Com Erasmo dividindo os vocais com o baixista Paulo César, Renato & Seus Blue Caps publicaram seu primeiro LP para a Copacabana. Curiosamente, não muito depois, os Blue Caps acompanhariam o próprio Roberto Carlos na gravação de "Splish Splash", numa versão para o português feita por Erasmo. O sucesso do disco garantiu não só a contratação de Renato & Seus Blue Caps pela CBS, como também o nascimento da lendária parceria entre Roberto e Erasmo.

Ao mesmo tempo, Erasmo - já com o nome artístico Erasmo Carlos - tornou-se versionista para diversos artistas. Isso, somado ao sucesso de suas parcerias com Roberto, o levou no final de 1964 até a gravadora RGE (mais direcionada à MPB e ao samba), para ser o nome do selo no já disputado mercado do iê-iê-iê. O pop-rock brasileiro, que começara com o rock´n´roll dos anos 50 e havia passado pelo twist do início dos anos 60, chegava ao iê-iê-iê naquele 1964 como um reflexo comportamental local à beatlemania. A Jovem Guarda agrupou as influências do pop britânico e ganhou popularidade definitiva a partir de setembro de 1965 - quando a TV Record estreou o programa Jovem Guarda. Apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderléa em São Paulo por três anos seguidos, o programa deu visibilidade para que Erasmo e Roberto se tornassem os principais nomes e também compositores da Jovem Guarda, com talento de sobra para garantir material de qualidade até para os colegas. Em pouco mais de cinco anos na RGE, que se estenderam até o final dos anos 60, Erasmo gravou discos com acompanhamento dos amigos Renato e seus Blue Caps, os Fevers, The Jet Black´s e The Jordans, além do Som Três de César Camargo Mariano. Com o fim do programa (e do movimento) Jovem Guarda, Erasmo mergulhou ainda mais na bossa e na MPB que vinha tangenciando ao longo dos anos. Ele, que havia composto para festivais e até gravado "Aquarela do Brasil" em 1969 -, voltou a morar no Rio de Janeiro e foi contratado pela PolyGram.

Naquele início dos anos 70, a gravadora formou um elenco invejável de MPBistas e lá Erasmo deixaria gravados discos que bem mesclaram suas raízes roqueiras com as tendências da MPB. Influenciado pelo movimento tropicalista e pela música negra americana, cravou seqüência antológica de discos durante toda a década de 70, como “Carlos, Erasmo...” (1971), “Sonhos & Memórias 1941-1972” (1972) ou “Pelas Esquinas de Ipanema” (1978). Tal fase desembocaria, já no início dos anos 80, em período de grande sucesso comercial, com os discos “Erasmo Carlos Convida...” (1980), “Mulher (Sexo Frágil)” (1981) e “Amar Pra Viver ou Morrer de Amor” (1982).

Após trabalhar mais esporadicamente durante a década de 90 (quando regravou antigos sucessos, participou de homenagens à Jovem Guarda e de discos-tributos vários), Em 2001, completou 60 anos e lançou seu 22º disco, “Pra Falar de Amor”.. O show desse álbum foi lançado depois em CD e DVD: “Erasmo Ao Vivo”, que, além de registrar um momento histórico de um mito da música brasileira . No final de 2002, os 40 anos de carreira de Erasmo foram comemorados com o lançamento da caixa “Mesmo Que Seja Eu” – contendo toda a sua discografia no período 1971-1988, recheada de material bônus raro e inédito. No ano seguinte, ao final do 10º Prêmio Multishow de Música, Erasmo foi o grande homenageado da noite – com um prêmio especial pelo conjunto da obra. Sua discografia teve continuidade em 2004 com “ Santa Música “ só com material inédito e nos coroando em 2007 com Erasmo Carlos Convida II reunindo feras da MPB em torno de sua obra . A escalação dessa autêntica “ seleção brasileira “ passa por nomes como Chico Buarque , Lulu Santos , Zeca Pagodinho , Skank , Los Hermanos , Os Cariocas , Djavan , Adriana Calcanhoto , Simone , Marisa Monte , Kis Abelha e Milton Nascimento . Nesse período , começou a escrever o seu petardo literário “ Minha Fama de Mau “ reunindo suas memórias e que veio a ser lançado em 2009 . Neste mesmo ano , lançou seu mais recente CD intitulado tão somente “ Rock n Roll “ com produção de Liminha e lançado por sua gravadora Coqueiro Verde Records , Erasmo retoma o seu lado mais roqueiro e conquista o prêmio de melhor CD do ano além de ser indicado ao Grammy . No ano passado, lançou o álbum “Sexo” seguindo a trilogia, com participações nas composições de Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto, Chico Amaral, Nelson Mota e Frejat nas guitarras. No mesmo ano, foi premiado como melhor compositor pela APCA, indicado como melhor show pelo jornal O Globo, melhor capa nos últimos 25 anos pela Folha de SP, considerado como um dos melhores álbuns de 2011 e “Roupa Suja” entre as melhores músicas pela tradicional revista de música Rolling Stone. Além da inesquecível participação ano passado no Rock In Rio ao lado de Arnaldo Antunes, e esse ano o festival promete um encontro histórico para o rock, o pai do rock brasileiro Erasmo Carlos junto com o pai do rock português Ruy Veloso nos palcos do Rock in Rio Lisboa.

Motivos para comemorar são muitos. Gentil como poucos, Erasmo Carlos quer dividir a festa conosco lançando um DVD e CD gravado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro ao vivo, parceria da Coqueiro Verde Records com o Canal Brasil, em comemoração aos seus 50 anos de estrada. O mais bonito de tudo é ver o cara em plena forma, se entregando com a mesma sede de palco de sempre, emocionado ao receber as participações da musa Marisa (cantando com ele Mais Um na Multidão, que gravaram juntos há alguns anos) e do amigo Roberto (com quem canta Parei na Contramão e É Preciso Saber Viver). O show faz um passeio por todas as fases da carreira de Erasmo, com sucessos como “Sentado à Beira do Caminho”, “Minha Fama de Mau”, “Mulher”, “Quero que tudo vá para o inferno”, entre outros clássicos conhecidos pelo seu grande público.

Atualmente vem desbravando o Brasil com sua turnê Sexo & Rock´n´roll. Afinal de contas, ele é o brasa, o tremendo, o gigante gentil. O poeta (“com a força do meu canto esquento seu quarto pra secar seu pranto”) e o filósofo (“estou sentado à beira de um caminho que não tem mais fim”). O romântico incurável (“detalhes tão pequenos de nós dois são coisas muito grandes pra esquecer”). O roqueiro inveterado (“pus a vida na mesa e resolvi jogar”). Uma autoridade na compreensão do amor, da mulher, da natureza. Vários Erasmos, todos coerentemente articulados no panorama desses 50 anos, comovendo e contagiando a galera. É o aniversário da estrada dele. E o presente é nosso. 

In Erasmo Carlos (Site Oficial)

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