Onofre Varela faz história no compasso da sua história

DO TEXTO:

Antes das histórias um compasso para a posteridade
com o amigo Vitor Hugo Moreira numa de Emplastro


Por: Armindo Guimarães


Foi ontem, dia 20 de Fevereiro de 2014, no Espaço Compasso, uma associação de cariz cultural artístico e ambiental, criada em 2011 na cidade do Porto, mais exactamente no número 113 da Rua da Torrinha, que se deu mais um Compasso de Histórias, desta feita o segundo com a presença do caricaturista portuense Onofre Varela.

Quando soube da data escolhida para o evento confesso que estranhei por coincidir com o encontro de futebol no Estádio do Dragão entre o FCP e o Eintracht Frankfurt, da Alemanha, marcado precisamente para essa noite. Contudo, não facilitei e procurei chegar cedo pois queria tentar ser dos primeiros a entrar no Espaço Compasso para conseguir um lugar que melhor me permitisse estar de caras com o orador da noite. E foi o que aconteceu. Entro no Espaço Compasso e sou simpaticamente recebido pelo amigo Vítor Hugo Moreira que me indica uma mesa mesmo em frente ao local onde iria estar o Onofre Varela. Percebi, então, o motivo de terem marcado o evento para aquele dia e para aquela hora. Na verdade, a sala onde o mesmo iria decorrer era pequena demais para a dimensão do orador, e o encontro de futebol referido, que teve cerca de 25 mil espectadores, foi, sem dúvida, a forma mais natural de fazer face a um indesejável problema de lotação.

Dirijo-me à mesa e eis que à minha frente surge o Onofre Varela. E foi aquele abraço “Tas bom, pá?!” e aquela resposta “Também estou mal, pá!” acompanhada de um sorriso que tornou ainda mais proeminente o seu “sui generis” bigode daliano.

Era chegada a hora e após uma breve apresentação sobre Onofre Varela feita por Vítor Hugo Moreira, o orador começou então a contar alguns episódios da sua vida, desde a infância até à actualidade, tudo com muito humor à mistura como seria de esperar.

De quando desde muito novo procurou emprego no ramo que mais se identificasse com o “bichinho” do desenho que tinha dentro de si e de como o conseguiu numa litografia portuense que o fez deambular por esta e aquela litografia na mira de melhor salário e de melhores condições de trabalho que lhe permitissem alargar os seus conhecimentos nesta e naquela área, matriculando-se ao mesmo tempo na Escola de Artes Decorativas Soares dos Reis.

De quando foi chamado a cumprir o serviço militar obrigatório que decidiu levar apenas como uma obrigação e como tal sem qualquer interesse, ao ponto de ao acabar de saber onde estava o gatilho duma arma, ao ser seguidamente perguntado por um superior sobre o que tinha aprendido, respondeu não saber, o mesmo acontecendo quando soube o que era o cão da arma que respondeu não saber, ao ponto de o superior após explicar onde ficava a coronha da arma ter imediatamente perguntado ao Onofre onde ficava a coronha da arma e, sem esperar a resposta ele próprio respondeu pelo Onofre, exclamando: “Tu não sabes!”, passando a mesma pergunta para outro camarada. Anos depois de passar à disponibilidade Onofre Varela passou na rua a escassos metros do tal oficial que o olhou nos olhos, quiçá pensando: Olha ali, o Não Sei!!!

De quando, também durante o serviço militar, esteve na “casa da rata” (prisão do quartel) durante 5 dias tudo porque se atreveu a passar para o papel a caricatura de um superior por quem todos antipatizavam, com os dizeres: “Procura-se! Vivo ou Morto” e de como a sua arte de caricaturista, aliada ao talento de humorista e entertainer sempre solicitado para intervir no palco aquando das cerimónias de Juramento de Bandeira, lhe valeram a admiração dos camaradas e a especial atenção do Comandante.

De como ao ser mobilizado para a guerra em Angola, ficou uma noite de sentinela enquanto todos os seus camaradas dormiam no capim, braços para um lado, pernas para outro e quando chegou a sua vez de passar pelas brasas conseguiu encontrar um espaço que pela manhã, ao acordar, verificou tratar-se de uma campa e de como 30 anos depois, em plena Avenida dos Aliados, no Porto, deu de caras com um amigo que, conversa puxa conversa, veio a saber que tempos antes daquele seu sono na campa de Angola, tinha sido o coveiro de alguém que ali tinha sido morto a tiro.

De como um dia, ao pintar o seu auto-retrato, se levantou várias vezes da cadeira para à distância e em vários ângulos melhor avaliar o seu trabalho, quando, numa dessas vezes, ao sentar-se na cadeira a fim de continuar a pintura dá por falta da paleta procurando-a aqui e ali sem sucesso até que, finalmente a encontra justamente no tampo da cadeira. Estava feita uma original pintura surrealista numas calças!

De como pelo facto de ter escrito o livro “Cimbalino Curto”, ter sido contactado telefonicamente pelo autor do termo “cimbalino” utilizado para designar os cafés da máquina comercializada pela empresa italiana “Cimbali”, que via gorada a sua aposta na implementação das máquinas pelo facto de o café de saco continuar a ser a preferência dos portuenses até ao dia em que os cafés passaram a exibir aos seus clientes uma folha com o seguinte anúncio: “Não peça um café, peça um cimbalino e sentirá a diferença!”.

Estas e mais histórias foram contadas por Onofre Varela que tem na forja um novo livro a juntar àqueles que já editou: Cinco Enterros do João (co-autor), O Peter Pan não Existe, Cimbalino Curto, Sou gajo para tomar um café.

SOBRE ONOFRE VARELA



Youtube (Perfil de um artista)


Humor com o Actor Onofre Varela "Xandrina na TêBê" Portugal

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