Livro,
filme e musical têm como tema Chacrinha, um personagem complexo que revolucionou
a TV
por
Caio Barretto Briso
Em
Amor à Vida, a atriz Elizabeth Savalla interpreta Márcia, uma figura divertida e
barraqueira que não raro patina na ética. Autor da trama, Walcyr Carrasco
imputou à personagem um distintivo que lhe tem sido fundamental para conquistar
a empatia dos telespectadores: ela é uma ex-bailarina do programa do maior
comunicador da história da televisão brasileira, Abelardo Barbosa. Chacrinha,
como se consagrou, passa por um período de redescoberta, exatamente 25 anos após
sua morte, aos 70, depois de perder uma longa batalha contra um câncer pulmonar.
Além das menções recorrentes na novela das 9, ele vai ressurgir em pelo menos
outras três frentes. Estão em andamento os projetos de uma biografia, um musical
e um longa-metragem sobre o Velho Guerreiro, pernambucano que chegou a cursar
medicina, mas se notabilizaria por revolucionar os programas de auditório em um
meio de comunicação que buscava seus rumos no país. O primeiro dos três
trabalhos a ficar pronto será o livro, com lançamento previsto para daqui a dois
meses pela editora Casa da Palavra e ainda sem título. Idealizada pelo
empresário Ricardo Amaral e escrita por Eduardo Nassife, autor também da
biografia da atriz Gloria Pires, a publicação se propõe a percorrer a trajetória
do folclórico personagem em cerca de 280 páginas. Em sua pesquisa, Nassife fez
mais de cinquenta entrevistas, com nomes como Roberto Carlos que ainda
jovenzinho foi coroado rei em um programa do apresentador e José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, o Boni, além de parentes e outros amigos. Gilberto Gil, que
fez uma homenagem carinhosa ao Velho Guerreiro em Aquele Abraço, é quem assina o
prefácio. "Chacrinha foi um divisor na história da TV brasileira. Sua vida é
interessante sob todos os aspectos", opina Amaral.
Mais
do que um palhaço moderno, que soube desbravar as potencialidades do
audiovisual, e excepcional condutor de programa de auditório, em que atuou dos
anos 50 até morrer, Chacrinha soube se comunicar com o Brasil como nenhum outro
colega de sua época. Com seus trajes estapafúrdios criados por ele próprio ,
foi um mestre em inventar bordões ("Quem não se comunica se trumbica") e
anarquizar o palco, andando caoticamente de um lado para o outro, jogando
bacalhau para a plateia e buzinando para os calouros reprovados. Era dono de um
talento múltiplo, que começou a exibir numa rádio no Recife, antes de se mudar
para o Rio, na década de 40. Uma das fontes da biografia, Amaral tem um
manancial de histórias pitorescas com o homenageado. Em meados dos anos 70,
quando Chacrinha estava sem contrato na TV, ele teve a ideia de chamar o
apresentador e as chacretes para apresentações na boate Sucata, na Lagoa. "Ele
ficava mais à vontade que na tela e fazia o público gargalhar com suas piadas",
recorda. Um episódio relatado no livro não exibe a mesma amenidade. No começo
dos anos 80, Chacrinha foi preso pela Polícia Federal em São Paulo. "Ele estava
sendo perseguido pelos militares, entre outras coisas, por causa do tamanho da
roupa das chacretes", conta o filho Leleco Barbosa. Depois do episódio,
Chacrinha reagiu de forma surpreendente: pediu uma audiência com o então
presidente João Figueiredo. "Estava marcada para as 5 da tarde e duraria apenas
quinze minutos. Foi até meia-noite", lembra Leleco.
Coroação
do rei Roberto Carlos
Esse
personagem doidivanas era também um obcecado pelo trabalho. Foi um dos primeiros
da TV brasileira a se preocupar seriamente com as pesquisas de audiência. Atuou
em diversas emissoras do Rio e de São Paulo e chegou a gravar quatro programas
na mesma fase. "Ele quase não tinha lazer. Só viajou para o exterior uma vez, e
mesmo assim a convite da Globo", diz o filho. Tratava-se de uma personalidade
complexa. O mesmo apresentador que bagunçava o palco tinha algumas posições
francamente retrógradas. Apesar de ter impulsionado a carreira de grandes
estrelas da MPB, ele fez campanha contra o Secos & Molhados, por considerar
imoral o grupo de Ney Matogrosso. Todas essas facetas são uma abundante
matéria-prima para as obras que estão a caminho. Com o início das filmagens
previsto para meados de 2014, o filme do Velho Guerreiro deve usar como base a
biografia. O nome do diretor, do protagonista e do roteirista ainda não foi
escolhido. "Será uma ótima oportunidade para os mais jovens conhecerem o
personagem", diz o produtor, o italiano Cosimo Valerio. Já o musical, produzido
por Luiz Calainho, tem estreia programada para o segundo semestre do próximo
ano. O texto ficará a cargo de Pedro Bial, e a ideia é que Jorge Fernando
acumule as funções de diretor e protagonista. Para usar um bordão do próprio
Chacrinha, ele merece.
O palhaço moderno: no palco, com sua buzina
Livro, filme e musical têm como tema Chacrinha, um personagem complexo que revolucionou a TV
por Caio Barretto Briso
Mais do que um palhaço moderno, que soube desbravar as potencialidades do audiovisual, e excepcional condutor de programa de auditório, em que atuou dos anos 50 até morrer, Chacrinha soube se comunicar com o Brasil como nenhum outro colega de sua época. Com seus trajes estapafúrdios criados por ele próprio , foi um mestre em inventar bordões ("Quem não se comunica se trumbica") e anarquizar o palco, andando caoticamente de um lado para o outro, jogando bacalhau para a plateia e buzinando para os calouros reprovados. Era dono de um talento múltiplo, que começou a exibir numa rádio no Recife, antes de se mudar para o Rio, na década de 40. Uma das fontes da biografia, Amaral tem um manancial de histórias pitorescas com o homenageado. Em meados dos anos 70, quando Chacrinha estava sem contrato na TV, ele teve a ideia de chamar o apresentador e as chacretes para apresentações na boate Sucata, na Lagoa. "Ele ficava mais à vontade que na tela e fazia o público gargalhar com suas piadas", recorda. Um episódio relatado no livro não exibe a mesma amenidade. No começo dos anos 80, Chacrinha foi preso pela Polícia Federal em São Paulo. "Ele estava sendo perseguido pelos militares, entre outras coisas, por causa do tamanho da roupa das chacretes", conta o filho Leleco Barbosa. Depois do episódio, Chacrinha reagiu de forma surpreendente: pediu uma audiência com o então presidente João Figueiredo. "Estava marcada para as 5 da tarde e duraria apenas quinze minutos. Foi até meia-noite", lembra Leleco.
11 de Setembro de 2013
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