Revelações de Roberto

DO TEXTO:


CIRO FABRES 

  • Roberto Carlos destoa do mundo moderno. Ah, como destoa. 
    A música de Roberto é a mesma de 30, 40 anos atrás, com 
    variações de melodia e o mesmo nível de qualidade e sensibilidade. 
    Seus shows não têm grandes inovações. Começam sempre do mesmo jeito: 
    “Quando eu estou aqui, eu vivo esse momento lindo...”. E seguem em frente. 
    Ele até distribui rosas. Roberto Carlos é, inegavelmente, um descompasso. 
    Roberto Carlos e o mundo dito moderno não se encaixam. 
    No entanto, ele está aí a emocionar, e não é isso o que importa, afinal?

    O mundo dito moderno não explica Roberto Carlos, pois caminha 
    em outra direção. Já Roberto Carlos ajuda a decifrar o mundo moderno. 
    Roberto é revelador, portanto. Pois o que está na alma e no 
    DNA de nossa época são a pressa, a velocidade, a superficialidade, 
    o luminoso, o efêmero. Na pressa do cotidiano, na sucessão 
    sem paciência dos relacionamentos, na parafernália tecnológica 
    que se atualiza em ritmo alucinante.

    Falta paciência ao mundo moderno. 
    O mundo dito moderno tem horror às coisas perenes, 
    ao que dura pouco mais de 20 minutos. 
    Mas Roberto é tudo isso ao contrário. 
    É perene, e a perenidade é o segredo. 
    Perenidade essa que é o grande pecado que cometemos 
    com essa rapaziada que vem chegando. 
    A maior beleza reside na perenidade. 
    Mas nosso tempo não a oferece como essência, 
    e então a rapaziada despreza a perenidade, sequer cogita dela, 
    sem conferi-la de perto.

    Mas Roberto Carlos vai além. Roberto Carlos não inova, 
    e mesmo assim dá certo. É a suprema provocação. 
    Vai na contramão de todos os manuais corporativos de nosso tempo, 
    que têm a inovação como divindade. 
    É importante, claro que sim, mas não é o mais essencial. 
    Essa é uma revelação de Roberto Carlos: 
    o essencial é a qualidade. Cristalino e transparente como assim é a 
    simplicidade. E dizer que, hoje em dia, nossa régua mede 
    mais e melhor a inovação... Só depois vem a qualidade.

    Não bastasse a música, a melodia, a sensibilidade, 
    Roberto Carlos subverte parte importante do que temos recebido 
    como ensinamento para sobreviver no tempo recente. 
    Algo deve esta errado, portanto. 
    E alguma coisa me diz que não é Roberto.

    Pioneiro - RS / Online 
    17/04/2013 

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