Publicado no dia 28 de novembro de 2010, no jornal A União
Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@hotmail.com
Dizer-se que antigamente os estudantes eram todos uns
santinhos, que nada faziam nas aulas de brincadeira, não é bem verdade. Havia
isso sim, uma compostura mais equilibrada, consequência do próprio respeito que
os professores passavam dentro da sala. Um dos paradigmas dessa forma de
conduzir um tempo de aula chama-se Álvaro Leal Monjardino, na disciplina de História.
Ria quando era de rir, brincava quando era de brincar, mas sempre com aquela
distância de respeito entre o professor e o aluno, não dando azo a que se
ultrapassassem marcas indevidas. Para isso também sabia como nortear os
alunos para uma aula que não se tornasse maçuda, adicionando a sua importante
forma de explicar a matéria com aquele “ex professo” que sempre o caracterizou.
E hoje, nos seus escritos, publicados em jornais do arquipélago (A União um
deles), verifica-se essa tendência, desta feita para o leitor ficar bem
elucidado.
Mas, claro está, que nem todos são iguais. Por exemplo, tive o maior
divertimento, por vezes abusivo (eu e outros companheiros), na aula de
português ministrada pelo padre António Manuel Rocha. E quando o padre Rocha
saia da sala para comer um chocolatinho (gostava muito daqueles que vinham lá
dos americanos) ou para ir fazer uma das suas necessidades fisiológicas, era
uma balbúrdia naquela aula. Óbvio que, começando por mim e por outros mais
virados para a “desordem”, altura houve em que nos excedemos e o diretor da
escola teve que tomar as suas medidas de ordem disciplinar, sobretudo em
relação a uma noite em que se apagaram as luzes e as raparigas começaram aos
gritos, com medo de serem “molestadas”. Nessa mesma noite, quando o Padre Rocha
reentrou na sala a primeira coisa que disse foi “Carlos, para fora da sala”.
Depois, seguiram-se mais três, indicados pelas mocinhas ainda “assustadas”.
O tempo passou e eis que, em 1971, entro em A União pela mão do meu amigo José
Daniel Macide. E quem era o administrador? Padre António Manuel Rocha, ainda
lecionando, coisa que ele gostava de fazer e manda a verdade dizer que sabia de
português. Aqui em A União fomos sempre amigos. Contudo, quando se pedia
autorização para fazer no DI uma zincogravura (saudades do Mestre José Vieira.
Cheguei à fala com ele no Canadá), era um penar. Que dificuldade para
arrancar dali autorização para essa mesma despesa. É por isso que, em relação a
fazer uma zincogravura no DI (no seu tempo, naturalmente), eu um dia escrevi
que o Armando (o adjunto) andou na “escola” (na outra) do Padre Rocha. Porém, o
humanismo do Padre Rocha não pode ser esquecido. Quando fui para São Miguel, o
Padre Rocha, que estava na altura na Ribeira Grande, sempre que vinha a Ponta
Delgada entrava no Açoriano Oriental para me dar um abraço. Um dia, por
brincadeira, até lhe disse: aqui já não se usa zincogravura. A resposta:
“Carlos, és sempre o mesmo”. E lá me deu um abraço, foi cumprimentar o Gustavo
Moura e saiu feliz e contente.
Escrevi este artigo em função do que vi na sexta-feira 13 de Agosto, quando me
dirigia para casa após o almoço. O ônibus (autocarro) vinha pejado de jovens
estudantes que não pagam passagem. Ali dentro, perante o incómodo dos idosos
que viajavam, mais parecia um “bando de piratas”, com gestos obscenos e um
palavreado impróprio. O governo ajuda os estudantes nos transportes, mas eles
estão-se marimbando que, mais tarde, possam ficar sem essa regalia mercê de
tanta insolência dentro dos ônibus. Aliás, nas escolas fazem o mesmo e até se
agridem publicamente, sobretudo os femininos por ciúmes. Nem os professores
escapam a essa falta de educação (já vi cenas na televisão de autêntica fúria
de alunos), sendo agredidos física e verbalmente. No nosso tempo, nem
esboçávamos um gesto de agressão a um professor. Bastava olhar para a foto do
Salazar que estava colocada numa das paredes da sala.
Mas, claro está, que nem todos são iguais. Por exemplo, tive o maior divertimento, por vezes abusivo (eu e outros companheiros), na aula de português ministrada pelo padre António Manuel Rocha. E quando o padre Rocha saia da sala para comer um chocolatinho (gostava muito daqueles que vinham lá dos americanos) ou para ir fazer uma das suas necessidades fisiológicas, era uma balbúrdia naquela aula. Óbvio que, começando por mim e por outros mais virados para a “desordem”, altura houve em que nos excedemos e o diretor da escola teve que tomar as suas medidas de ordem disciplinar, sobretudo em relação a uma noite em que se apagaram as luzes e as raparigas começaram aos gritos, com medo de serem “molestadas”. Nessa mesma noite, quando o Padre Rocha reentrou na sala a primeira coisa que disse foi “Carlos, para fora da sala”. Depois, seguiram-se mais três, indicados pelas mocinhas ainda “assustadas”.
O tempo passou e eis que, em 1971, entro em A União pela mão do meu amigo José Daniel Macide. E quem era o administrador? Padre António Manuel Rocha, ainda lecionando, coisa que ele gostava de fazer e manda a verdade dizer que sabia de português. Aqui em A União fomos sempre amigos. Contudo, quando se pedia autorização para fazer no DI uma zincogravura (saudades do Mestre José Vieira. Cheguei à fala com ele no Canadá), era um penar. Que dificuldade para arrancar dali autorização para essa mesma despesa. É por isso que, em relação a fazer uma zincogravura no DI (no seu tempo, naturalmente), eu um dia escrevi que o Armando (o adjunto) andou na “escola” (na outra) do Padre Rocha. Porém, o humanismo do Padre Rocha não pode ser esquecido. Quando fui para São Miguel, o Padre Rocha, que estava na altura na Ribeira Grande, sempre que vinha a Ponta Delgada entrava no Açoriano Oriental para me dar um abraço. Um dia, por brincadeira, até lhe disse: aqui já não se usa zincogravura. A resposta: “Carlos, és sempre o mesmo”. E lá me deu um abraço, foi cumprimentar o Gustavo Moura e saiu feliz e contente.
Escrevi este artigo em função do que vi na sexta-feira 13 de Agosto, quando me dirigia para casa após o almoço. O ônibus (autocarro) vinha pejado de jovens estudantes que não pagam passagem. Ali dentro, perante o incómodo dos idosos que viajavam, mais parecia um “bando de piratas”, com gestos obscenos e um palavreado impróprio. O governo ajuda os estudantes nos transportes, mas eles estão-se marimbando que, mais tarde, possam ficar sem essa regalia mercê de tanta insolência dentro dos ônibus. Aliás, nas escolas fazem o mesmo e até se agridem publicamente, sobretudo os femininos por ciúmes. Nem os professores escapam a essa falta de educação (já vi cenas na televisão de autêntica fúria de alunos), sendo agredidos física e verbalmente. No nosso tempo, nem esboçávamos um gesto de agressão a um professor. Bastava olhar para a foto do Salazar que estava colocada numa das paredes da sala.
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