Aos sábados, com o meu livro (11 b)

DO TEXTO:






Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@hotmail.com



CAPÍTULO XI (continuação)
OUTRAS ESTÓRIAS
  
Uma final nada dignificante

Ainda reportando ao ano de 1976 e, também, tendo como cenário a cidade de Ponta Delgada (Açores), fiz a cobertura da final da T. de Portugal de hóquei em patins entre o Sporting e o Oeiras (venceu o Sporting por 4-3). Foi, digamos, outra bonita festa, mas que teve um final nada dignificante quando o troféu foi entregue ao capitão do Sporting. Na altura, movimentava-se a FLA (Frente de Libertação dos Açores) e, no pavilhão gimnodesportivo de Ponta Delgada apareceram muitos aderentes, supostamente anti-continentais. Alguns deles entraram dentro do recinto e colocaram em cima do troféu a bandeira da FLA, fato que não agradou aos sportinguistas que abandonaram o recinto e deixaram o troféu no sítio onde se encontrava. O troféu lá ficou... orgulhosamente só, tendo sido mais tarde recolhido por dirigentes da Federação Portuguesa de Patinagem.
Esta mensagem da FLA não teve, por certo, os reflexos desejados.

Depois almocei com José de Almeida

A FLA tinha, como principais cabecilhas, os Drs. José de Almeida (professor universitário) e Melo Bento (conceituado advogado do burgo micaelense). Depois dessa final, e volvidos alguns dias, voltei a Ponta Delgada, tendo sido convidado para almoçar com o Dr. José de Almeida. Não declinei o convite e, inclusive, relatei esse fato numa das crónicas que enviei para “A Bola”. Mas penso que não era só isso que José de Almeida pretendia. Durante a cavaqueira tentou convencer-me que a FLA era poderosa e que estava ativa para defender os interesses dos Açores junto do poder central, sediado em Lisboa. A dado momento, fui firme nas minhas convicções e disse-lhe que a FLA tinha passagem efémera. E assim foi. Pouco tempo depois, a FLA estava sem norte e num ápice se diluiu, para gáudio de uma esmagadora maioria de açorianos que, tal como eu, não acreditavam que a independência dos Açores trouxesse benefícios para o arquipélago.

Hoje, Melo Bento já lidera outro partido, ligado à monarquia

A FLA foi, apenas, um motivo para alguns se evidenciarem, concretamente os principais líderes. Evidenciarem, politicamente falando.
  
A placa de “A Bola” no Estádio das Antas

Em Janeiro de 1978, logo após o dia primeiro do ano, fui com Vítor Santos ao Porto para o jogo Porto – Boavista. O Porto venceu por 2-0 e tinha ao seu serviço o tão conhecido Cubillas. Quando entrei na zona destinada à imprensa, logo reparei que a placa de “A Bola” estava torcida, ao invés das dos outros jornais. Comentei este fato com Vítor Santos que, com toda a sua calma, me respondeu: Carlos, quando somos os melhores, sofremos estas coisas, mas isto não nos incomoda nada. Afinal, somos o jornal mais vendido em Portugal e isto, por si só, é que nos valoriza.

No regresso do Porto a Lisboa, no avião encontramos o Walter Ferreira que, na altura, estava a jogar na Bélgica no Standard de Liége. O Walter deslocou-se do seu lugar para cumprimentar o Vítor Santos e, espontaneamente, foi dizendo que ali estava a representação do maior e melhor jornal português. Ficou tudo dito. Afinal, com mais este testemunho, a placa torcida no Estádio das Antas em nada incomodou “A Bola”.

Passei por maluco em Espanha

Em 1982, em Espanha, na Copa do Mundo, passei por maluco no hotel onde estava instalado. Aconteceu depois do primeiro jogo do Brasil, que derrotou a Rússia por 2-1. Nessa altura, só se usava o telefone via interurbana. Era difícil para todos. A minha ligação veio na hora certa, só que o meu colega não conseguia gravar a crónica e, para cúmulo de todos os azares dessa noite, mal percebia o que eu dizia para apontar os meus tópicos. Foi então que tive a ideia de ir para debaixo da cama com o auscultador de um lado e no outro uma almofada tapando o ouvido esquerdo. Gritei, gritei, para que, dentro do melhor possível, fosse escutado em Portugal. Acabei extenuado e, naquele momento, uma cervejinha fresca fazia bem. Foi então que me dirigi ao bar, mas, quando abri a porta do meu quarto, deparei com um cenário muito pouco vulgar: homens em cuecas, mulheres em camisa de dormir, com ar de apavorados. Falei com os meus botões, senhor o que aconteceu aqui. Desloquei-me para a recepção e perguntei o que se passava, tendo a menina respondido que, naquele piso, o quinto, estava um homem maluco aos gritos. Ri que me fartei. Expliquei, depois, o motivo dos meus gritos. A funcionária também desatou a rir e, posteriormente, foi informando os utentes do hotel (os daquele piso) que se tratava de um jornalista português que enviava uma reportagem para Portugal. A razão dos gritos, os muitos ruídos no telefone. Acabaram todos por dormir descansados porque, afinal, não havia nenhum maluco no quinto piso, nem em outro qualquer. Mas, mesmo assim, no dia seguinte, durante a hora do café, deparei com algumas pessoas olhando desconfiadas. Sorri para todos. E, entre dentes, disparei com esta: vão lá chamar maluco ao tanas... Não sei se alguém escutou. Claro que não. Não estava aos gritos.

Aqueles seios lindos

Em Fall River, Estados Unidos, numa bela noite deu-me o desejo de passar por um cabaré, isto após, na companhia do Nelson Paiva, ter comido uma deliciosa pizza. Lá fomos a um cabaré que o Nelson conhecia. Tocou na campainha e veio a patroa (que mulher espampanante) abrir a porta. De imediato, falou com o Nelson, dizendo que a minha presença a preocupava porque, na pasta que eu levava, estava escrito, com letras gordas, PRESS. O medo que eles têm da imprensa. O Nelson, no seu estilo bem peculiar, respondeu-lhe no problem. E assim foi. Mas antes, a patroa informou o Nelson que as bebidas seriam por conta da casa. Não abusamos, naturalmente. Assistimos a um “show” de Streep tease. Quando terminou, veio uma tipa, que tinha lido o PRESS na minha pasta, pretendendo que eu colocasse os seus seios no meu jornal. Levantou a camisa e a montra era, de fato, linda. Tive um impulso de passar a mão, mas ela não deixou, fazendo-me sinal para a porta traseira. Lá estava um matelão de um negro (que armário) com os olhos postos em mim. Bebi o scotch muito rapidinho e pernas para que te foste. Nem me despedi da patroa. O Nelson só ria. E eu dizendo: aquele negão não me deixou acariciar aqueles lindos seios. No outro dia, contamos o episódio aos restantes colegas que, entusiasmados, foram, à noite, ao dito cabaré. Tiveram o maior dos azares porque a mulher dos seios grandes, nesse dia, meteu folga. Assim, e bem vistas as coisas, fui eu que tive o privilégio de ver aquele grande altar. Eu e o Nelson Paiva, pois, pois... Aquele “armário negro” é que me estragou o resto da noite. Talvez tivesse as suas fundadas razões...

Nunca perdoei ao Licas Couto

Sempre que falo, sempre que escrevo, esta cena está sempre presente. Quando falo e escrevo de histórias passadas, logo se vê.

Em 1975, numa jornada de promoção do futebol jovem, estive com um grupo de rapazes nas ilhas de São Jorge e Graciosa (Açores). Logo após um jogo, que terminou vitorioso para nós, o Licas Couto (hoje professor de Educação Física, trabalhando no departamento técnico da Federação Portuguesa de Futebol. É meu grande amigo) apanhou uma tremenda bebedeira. Veio acompanhado de colegas. Eu já dormia (ou fazia que dormia), mas, infelizmente, estava à entrada da camarata, daí que o Licas Couto tenha vomitado por cima de mim. Fiquei irritado. O estado de embriaguês do Licas Couto piorou, acabando por ser transportado para o hospital das Velas num colchão de judo. O hospital, convenhamos, ficava ali próximo. Levantei-me, tomei banho e lá fui ao hospital. O Licas Couto teve que fazer uma lavagem ao estômago, mas o Dr. Mário César Leão denotava descontentamento. Ele que estava bem deitadinho no sofá, numa noite que parecia ser tranquilíssima para a urgência do Hospital das Velas. O Licas Couto não foi meu amigo e muito menos do Dr. Mário Leão, meu velho conhecido, que, quem sabe, me julgava rodeado de rapazes santinhos. O Licas Couto, quando jovem, nunca foi santinho. Agora sim, é mesmo santinho, pai de dois filhos. Um bom chefe de família. Por este fato, por esta mudança sintomática, pela tua realização pessoal – inteligente e excelente animador de grupo -, a partir de agora, Licas Couto, estás perdoado. Quantos anos volvidos... Trinta e um anos. É muito tempo. Mas sei que aquela bebedeira teve um sabor especial. Depois, os tempos mudaram. Mudaram os tempos e as vontades. É que o Licas, como profissional, treinador e preparador físico, teve passagens pelo Lusitânia, o clube que nunca gostou nos seus tempos de jovem. E aquela bebedeira teve origem numa vitória sobre o Lusitânia, com o emblema do “seu” Angrense.

Fiz xixi nas calças

Nessa mesma digressão, cujas fotos guardo religiosamente, tivemos, no último dia, folga em todos os sentidos. Era a noite do adeus, após quinze dias cansativos. Optamos por ir a um baile a Guadalupe (ilha Graciosa). Desta feita, fui eu que bebi umas cervejas avultadas. Estava exausto. Bebi, bebi, ficando bastante alegre. No regresso ao hotel improvisado (fizemo-lo a pé), comecei a sentir os efeitos das cervejas. Queria fazer xixi e não conseguia tirar a “mangueira” (entenda-se por pénis). Como não sustive a força do líquido-cervejado, acabei por fazer xixi nas calças, umas calças brancas, logo por azar. Isso foi motivo para a rapaziada glosar comigo. Na viagem (de barco), não se falava de outra coisa. Acabei mesmo, muito calmamente, por deitar as calças ao mar. Com o cheiro da cerveja, por certo que alguns peixes se embebedaram.

Numa sexta-feira santa

Em 1984, quando fiz a cobertura de um dos torneios de futebol da Casa do Pessoal da Rádio Televisão Portuguesa – Açores, apanhei, pela data do evento, uma sexta-feira santa. Nesse ano, ainda alguns antigos costumes desse dia santificado. Por conseguinte, à noite, todos os bares da cidade de Ponta Delgada (Açores) estavam fechados, exceto o do Hotel Canadiano, onde sempre ficávamos por amizade ao senhor Pavão, que já passou pelo estatuto de emigrante, primeiro no Brasil e, depois, no Canadá. No Brasil, o senhor Pavão esteve ligado às artes gráficas, daí o seu reconhecimento aos jornalistas. 

Bom, nessa sexta-feira santa, abancamos no bar do Hotel Canadiano até às cinco da matina. Quem nos aturou foi o António, hoje casado na Suécia. Um bom funcionário, cordial, amigo e pachorrento. Eu, o Norberto Barcelos, o Sérgio Aguiar, e mais outros companheiros jornalistas, despejamos umas boas garrafas de “água da Escócia”, ao ponto de eu, por exemplo, quando fui para os aposentos, ter subido as escadas de gatinhas. Desta vez, não fiz xixi nas calças, mas tive, por outro lado, dificuldades em abrir a porta do quarto. Lá dentro, olhei para o espelho e, na verdade, tão vermelhinho que estava, mais parecia um escocês. Só que não tinha a gaita de foles. Aliás, tinha a minha, mas infuncional pelo desgaste que a “água da Escócia” provocou.

De manhã, quando me levantei, estava fresquinho nem uma alface. Também constatei que a dita gaita de foles estava agitada. Ainda bem, porque, depois, fui logo fazer “xixi escocês”.

A seguir: Capítulo XI (continuação)

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