Perfume

DO TEXTO: E até o sol, que antes tinha dado lugar à chuva miudinha, brilhava agora intensamente como que iluminando a patina do tempo.

Senti o afago das tuas mãos e bebi o sabor dos teus lábios

 

Por: Armindo Guimarães

Hoje, parei naquele mesmo sítio onde o rio abraça o mar.

O castelo e o cheiro a maresia eram os mesmos.

Porém, o céu, que antes tinha sido cinzento, decidiu pintar-se de azul. E até o sol, que antes tinha dado lugar à chuva miudinha, brilhava agora intensamente, como que iluminando a pátina do tempo.

Lá dentro, só eu estava, mas tudo foi igual.

Gotículas de água condensada fluíam nos vidros, qual cortinado íntimo de bafos e suspiros.

Senti o afago das tuas mãos e bebi o sabor dos teus lábios.

Duas gotas de água deixaram a vidraça e vieram pousar nos meus olhos.

Lá fora, o céu está agora cinzento, e o astro-rei deixou de imperar.

O castelo mantém a fortaleza da sua presença.

O rio e o mar continuam abraçados.

E a brisa, essa, deixou o mar para me trazer o teu perfume.

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