A relação de Amália Rodrigues com os Açores

DO TEXTO:





Por: Carlos Alberto Alves
jornalistaalves@bol.com.br


Era eu ainda muito jovem quando Amália Rodrigues veio à ilha Terceira. Já uma vez aqui escrevi que foi recebida com grande pompa e circunstância ao desembarcar no antigo Cais da Cidade (hoje a Marina de Angra), após ter desembarcado no Carvalho Araújo um dos navios que fazia o trajeto entre Lisboa-Açores-Lisboa. O outro era o Lima. Navios que ficaram célebres na nossa história pelos serviços prestados. Depois apareceram, mais tarde, o Funchal e o Angra do Heroísmo.

Amália Rodrigues, a Diva do Fado, recebeu um enorme carinho do povo terceirense que a recebeu com esfuziante alegria, tratando-se da rainha do fado. E sabe-se que, por vezes, quando se fala de Portugal vem à baila os nomes de Amália Rodrigues e de Eusébio Ferreira, o “pantera negra”.

Carlos Enes, meu colega colunista no jornal A União, trouxe à estampa, na edição deste sábado, a relação existente entre Amália Rodrigues e os Açores, texto que transcrevemos com a devida vênia: 

 “A relação de Amália Rodrigues com os Açores ficou expressa em vários depoimentos que prestou, quer para os jornais quer para a televisão. Julgo que a primeira viagem ao arquipélago ter-se-á concretizado em 1953, quando o Rádio Clube de Angra teve a audácia de convidar uma artista de tão elevado cachet. A direção de então, presidida pelo dr. João Meneses, com a ajuda do delegado dos espetáculos, José Henrique Castro Franco, conseguiu um acordo com Santos Moreira, representante de Amália, para que ela atuasse no Teatro Angrense. Como condição, ficou estabelecido que o espetáculo não seria radiofundido.
 O sonho tornou-se realidade no início de março de 1953, quando Amália subiu ao palco do Teatro Angrense, com a casa à cunha, e com uma receita que o Teatro, nos seus longos anos de existência, nunca tinha alcançado.
Após umas breves palavras de Castro Franco, o espetáculo foi apresentado por Pinto Enes, então locutor do RCA, com “graça e perfeito domínio”, como referiu a imprensa. E no final, a artista recebeu muitas flores de várias individualidades e instituições, desde o governador civil à Recreio dos Artistas.
Amália cantou e encantou e o espetáculo teve de ser repetido para satisfazer a procura inusitada. A fadista permaneceu na Terceira, durante 10 dias e acabou por dar um espetáculo gratuito para os soldados doentes no Hospital da Terra-Chã, a pedido do diretor, o capitão-médico João José Varela. O mesmo aconteceu no Salão-Teatro Azoria, onde cantou durante uma hora para os soldados da BA4. Como reconhecimento o comandante ofereceu um gravador de som a Amália e, aos acompanhantes, uma máquina fotográfica e um aparelho de rádio.
Na entrevista ao Diário Insular, mostrou o seu contentamento: “gostei imenso do público … foi uma plateia comunicando comigo, numa graduação de aplausos que denotou fina percepção do valor das interpretações. Com um público assim gosto de apresentar o melhor”.
Se, em palco, a artista se sentiu bem na relação com os terceirenses, a letra jocosa que dedicou às meninas da Terceira pode indiciar outros estado de espírito nos 10 dias que por lá andou, com os seus 33 anos de idade a provocar ciúmes. Ainda há quem se lembre da mágoa e da ofensa sentidas, quando saiu o álbum com aquele fado. Não vejo motivo para tal: a qualidade literária deixa muito a desejar e a opinião de Amália vale o que vale. Mas os Açores estão também presentes numa outra canção de Amália, a que deu o nome de Fado Marujo. Segundo António Valdemar, existe na Casa Museu de Amália uma gravação inédita de um poema de Vitorino Nemésio cantado por ela. 
O fado, As meninas da Terceira, pode ser ouvido em http://letras.terra.com./amalia-rodrigues/563849
O conhecido cantor italiano Eugenio Finardi interpretou este fado num CD editado em Itália, juntamente com outros cantores, em homenagem ao fado português”.
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