DO TEXTO: Quando se fala em Roberto Carlos, normalmente atenta-se nas suas músicas mas pouco ou nada se disserta sobre o teor e profundidade das respectivas let
Roberto Carlos - O pictórico e o metafórico


O PICTÓRICO E O METAFÓRICO

A literatura do cantor e compositor Roberto Carlos é imensa e diversa, ainda que toda ela possa ter um fundo de amor, mesmo em letras cujos títulos aparentemente não o descortinem. Contudo, quando se fala em Roberto Carlos, normalmente atenta-se nas suas músicas mas pouco ou nada se disserta sobre o teor e profundidade das respectivas letras, pelo menos de umas quantas dignas de serem etiquetadas como verdadeiras e originais frases sábias, onde o pictórico e o metafórico imperam. Quem não ouviu e não sabe de cor algumas delas, como por exemplo:

- Fui abrindo a porta devagar mas deixei a luz entrar primeiro, todo o meu passado iluminei e entrei. (O Portão).

Atente-se na riqueza desta frase: abriu a porta devagar e esperou que a luz entrasse na casa para depois então poder entrar e ver todo o seu passado iluminado.

- Como um cigarro esquecido na borda de algum cinzeiro (O Gosto de Tudo).

Um surpreendente exemplo do que é esquecido como se nada valesse: um cigarro deixado num cinzeiro.

- Chovia lá fora e a capa pendurada, assistia a tudo e não dizia nada. E aquela blusa que você usava, num canto qualquer tranquila esperava. (Os seus botões).

Aqui é a personificação duma capa e duma blusa, a primeira assistindo a tanto amor sem nada dizer e a segunda, ali num canto, tranquilamente esperando.

Estes e outros exemplos constam de uma abordagem específica sob o título “A Ilusão pictórica na obra de Roberto Carlos”, publicada em 03-06-2006 no Portal Clube do Rei e no Portal Splish Splash.

Por tudo isso, não é preciso ser-se nenhum Sigmund Freud para concluir que com tão vasta obra e com tantos milhares de fãs espalhados por esse mundo fora, estes assumam, não raras vezes e se calhar sem darem por isso, atitudes que pela sua natureza bem que poderíamos rotular de robertocarlisticas porque quiçá influenciadas pelos escritos daquele que parafraseando o Poeta, se mais mundo houvera lá chegara, ou, se quisermos, daquele que é como o amor, quanto mais, melhor.

Atitudes robertocarlisticas


LEONEL (NELO) – 1970 – PORTO
- O POSTER DEDICADO E AUTOGRAFADO

Atitudes dessas, são consideradas normais por quem as pratica, mas não passam despercebidas por quem é alvo delas e não só. Não sei se alguma vez tomei uma dessas atitudes, mas sei que já fui alvo de muitas delas, a primeira, que muito me impressionou e que jamais esquecerei foi em 1969/1970 (não estou bem certo). Tinha eu 14 ou 15 anos e o Nelo (Leonel), 16 ou 17. O Roberto tinha show no Coliseu do Porto, na rua de Passos Manuel, a poucos metros da minha casa. Estava hospedado no Grande Hotel do Porto. Fomos ao Hotel e o Nelo que tinha levado com ele um enorme poster do Rei, pediu-lhe e ele autografou o poster com a seguinte dedicatória: “Ao meu amigo Leonel com um abração”. Não preciso dizer quanta inveja me fez aquele poster e a dedicatória. No dia seguinte foi o show e estava combinado eu e o Nelo irmos de borla, que o mesmo é dizer, sem pagar ingresso. Por qualquer motivo que já não recordo, eu não pude ir, mas o Nelo não faltou. E porque eu não fui, o Nelo, a título de consolação, ofereceu-me o poster que era dele e que a ele foi dedicado pelo Rei. Impressionante!

Atitudes robertocarlisticas


ADRIANO THALES - 2007 - TERESINA-PI
- A ROSA

Episódio semelhante aconteceu há cerca de 4 anos com o fã Adriano Thales, de Petrilina-PE, mais conhecido no meio robertocarlistico por “Boneco”. Foi em 27 de agosto de 2007, em Teresina, no show comemorativo dos 50 anos de carreira de Roberto Carlos.

O Adriano chegou à rodoviária às cinco da manhã e só conhecia alguns amigos pela net e por telefone. Sentindo-se perdido sem saber para onde ir, pensou ligar para alguns dos amigos para lhe darem um norte, mas era cedo demais e como tal inoportuna qualquer ligação telefónica. O melhor que tinha a fazer era arrumar uma pousada e tentar dormir um pouco. Frente à rodoviária havia algumas pousadas e o Adriano consultou três delas vendo os respectivos preços que deviam ser condizentes com os recursos de um fã que tudo sacrifica para estar perto do seu ídolo. Encontrou uma pousada a um preço razoável, mas mesmo assim teve que explicar que só iria mesmo para dormir, garantia que acabou em negócio fechado por bom preço. E aqui, nós que contamos esta história tal qual nos foi contada pelo próprio Adriano, fazemos este pequeno interstício para nos interrogarmos o que poderia fazer na pousada o Adriano a não ser dormir e depois tomar um banho retemperador que não chegou para baixar a adrenalina de tanta expectativa. O Adriano não tinha ingresso mas quando chegou ao Atlantic City, onde se iria realizar o show, alguém da Produção resolveu o seu problema reservando-lhe lugar numa das mesas. Agora mais animado e descontraído, o Adriano retomou os seus contactos telefonando para este e aquele fã que sabia iriam assistir ao show. Encontrou-se com a Conceição e com o James Lima, de Teresina, este acompanhado da família que o convidaram para jantar

Finalmente chega a hora do show e o Adriano reencontra o James Lima não longe da sua mesa. As luzes da plateia apagam-se dando lugar a uma miríade de luzes no palco, ora vermelhas, ora brancas e azuis. Luz, luz e mais luz ao som da orquestra que toca uma selecção de sucessos de Roberto Carlos sob a batuta do maestro Eduardo Lages. O autor deste texto não esteve lá mas já assistiu a um desses shows e pode facilmente imaginar o que se seguiu: o fumo que começa a surgir do fundo e das laterais do palco são o prenúncio da chegada do Rei e a voz do costume anuncia pausadamente: “Senhoras e Senhores, com vocês... Roberto Carlos!”. A orquestra agora toca “Emoções”, enquanto que dos bastidores surge o Rei envolto em fumo tal qual o mito português do regresso numa manhã de nevoeiro de El-rei Dom Sebastião, “O Encoberto” ou “O Desejado”, como ficou conhecido após ter desaparecido aquando da batalha de Alcácer-Quibir, entre portugueses e marroquinos, ocorrida há 429 anos, completados precisamente no dia 4 de Agosto, 23 dias antes do show.

E naquele momento, alheios a essas coisas da história por só lhes interessar toda aquela emoção do momento, todos os fãs se levantam prestando vassalagem ao Rei, gritando: “Hei, hei, hei, Roberto é nosso Rei! Hei, hei, hei, Roberto é nosso Rei!”. E o Rei dirige-se a todos os seus vassalos, dizendo: “Que prazer rever vocês!”. E aqui, prometendo que pela última vez, o autor deste texto recorda quando em 2006, em Guimarães, Portugal, alguém da plateia, aproveitando o silencio que reinava, elevou a voz respondendo ao Rei: “Ó Roberto, és o maior, pá!!!”.

E o show prosseguiu com o nosso Adriano vivendo esse momento lindo, não raras vezes chorando nesta ou naquela música lembrando-se dos seus filhos. Eis que chega “Jesus Cristo” a fechar o show e com ele as habituais rosas brancas e vermelhas que o Rei sempre faz questão de presentear, não todos os fãs como por certo gostaria, mas aqueles mais afoitos que por esta altura correm como loucos para junto do palco de mãos estendidas buscando a sorte de uma rosa beijada pelo Rei, qual troféu raro digno de figurar entre aqueles de valor incalculável. E o nosso Adriano lá foi correndo para o palco no meio daquele turbilhão de gente. Levava na mão um bonequinho representando Roberto Carlos da Jovem Guarda, deixando-o nas mãos do Rei que estalou os dedos de surpresa, dizendo que o boneco já fazia tempo, ao mesmo tempo que retribuiu com uma rosa vermelha. Era a rosa que o Adriano tanto desejava para, quando chegasse a casa, dar de presente a um dos seus filhos, também fã do Rei, cumprindo assim o que lhe havia prometido caso obtivesse a tão almejada rosa, não fosse pouco depois ter-lhe aparecido pela frente o James Lima cujos olhos arregalados sobre a rosa mais pareciam de um lince querendo devorar a sua presa. E à reacção do James, que na altura tinha 12 anos, o Adriano respondeu com uma decisão não menos inesperada, pois, emocionado que ficou com a reacção do “rapaz” viu nele o seu próprio filho e vai daí ofereceu a rosa ao James. Escusado será dizer que por causa disso o Adriano chegou a casa e não cumpriu perante o seu filho o velho ditado que diz que “o prometido é devido”, mas não menos certo é o seu filho, tratando-se de um fã da tempera do pai, ter dado mais valor ao gesto robertocarlistico do pai do que à rosa do Rei.

E quem está nas lides robertocarlisticas há anos, muitas vezes encontrando pela frente situações que levam qualquer um ao desânimo, não há dúvida nenhuma que atitudes destas são a mola que impulsiona a seguir em frente.

Atitudes robertocarlisticas, ora, pois! eh eh eh

Sobre Adriano Thales
Gazzeta – 01-08-2011


Sobre Adriano Thales
Adriano Thales - Um dos maiores colecionadores da obra gravada do rei Roberto Carlos

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3 Comentários

Comentários

  1. Olá maninho!

    Atitudes robertocarlísticas lindas essas que você nos contou. E que acêrvo tem o Adriano!
    Bom, o do James hoje também deve ser muito grande.Será que ainda tem a rosa guardadinha?

    Maninho mais uma vez você arrasou.
    Uma beleza de texto, e agora verídico!

    Parabéns!

    Beijos,
    Carmen Augusta

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  2. Foi uma grande emoção ter recebido a rosa do Adriano. Um grande amigo!

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  3. As obras são preciosidades tudo está a sete chaves , como diz ditado popular

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