"Geração à rasca" ganha voz através da Internet

DO TEXTO:

Facebook, blogosfera, YouTube: a Internet foi o veículo encontrado pelos precários para darem voz às suas queixas. Em março prometem sair à rua para o "Protesto da Geração à Rasca".

Paula Cosme Pinto (www.expresso.pt)
10:20 Quinta feira, 17 de Fevereiro de 2011

O tema "Parva que Sou" , dos Delinda, foi o mote. Agora, a discussão sobre a precariedade voltou a estar em cima da mesa e a Internet parece ser o rastilho usado pela já apelidada de "geração à rasca".


No Facebook primeiro surgiu a página "Parva de Sou" . Os "amigos virtuais" acumularam-se e os comentários a exigir uma revolta começaram a surgir: "Está na hora do Povo vir para a rua conforme fizeram os da Tunísia, Egito e dos que vão aparecendo agora!!! Nós portugueses é que somos parvos e deixamos isto continuar", escreveu um internauta no mural do grupo. E assim foi: quatro jovens acabaram por lançar um blogue com a ideia de um protesto "apartidário, laico e pacífico".

O projeto foi aplaudido por milhares de pessoas no Facebook e, no próximo dia 12 de março, o "Protesto da Geração à Rasca" deverá descer pela avenida da Liberdade, em Lisboa. Em causa estarão "o direito ao emprego e à educação; a melhoria das condições de trabalho e... o fim da precariedade! O reconhecimento das qualificações, competência e experiência, espelhado em salários e contratos dignos!", lê-se no manifesto deixado no Facebook.

O apelo foi lançado a todos os "desempregados, 'quinhentoseuristas' e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal". Em poucos dias cerca de sete mil pessoas aderiram ao protesto e prometem estar presentes na manifestação, que já conta com a autorização do Governo Civil de Lisboa, garantem os organizadores.

No norte do país, um grupo promete estar hoje no Café Avis (Rua de Avis, nº27), pelas 21h, para iniciar a organização do "Protesto no Porto!".

Revolta na blogosfera

E se no Facebook os ânimos estão quentes, na blogosfera o cenário é igual. Depois dos concertos dos Deolinda nos Coliseus de Lisboa e Porto, o vídeo deixado no YouTube, com a banda a cantar "Parva que Sou", espalhou-se de forma quase viral.
"Depois da fase dos estágios, lá conseguimos um primeiro trabalhinho pago. Pago como? A recibos verdes, obviamente. Após um primeiro ano de isenção de impostos, começamos então a saga de dar uma quantia absurda ao estado. São 160 euros para a segurança social. Mesmo que só se ganhe 300 euros", lê-se no blogue "O Ovo Dentro do Armário" . O desabafo, que é semelhante a tantos outros deixados por bloguistas da "geração à rasca", continua: "Pois é, meus senhores. Elogios não pagam alugueres de casa. Temos quase 30 e queremos mesmo sair da casa dos pais. Queremos seguir a nossa vida. Queremos casar e ter filhos e perpetuar a espécie (será que vale a pena?). Não nos venham dizer que não há dinheiro".

Os mais novos mostram a sua revolta, mas os pais da "geração precária" também demonstram a solidariedade: "Andamos nós a enganar os nossos filhos e alunos com o 'estuda para seres alguém na vida'. Estudar para quê?", lê-se no blogue "Coisas da Educação" . Já no blogue "Diário de um Purgatório" a crítica recai sobre os políticos: "A esquerda caviar encontrou o hino que faltava. A direita a justificação para a liberalização dos despedimentos. A esquerda a luta contra os 'instalados burgueses'. A direita a coberto do apoio à juventude renova as suas empresas com mão-de-obra barata". Contudo a conclusão é clara: há que "exigir melhores e mais justas condições para todos. Lutar para que a distribuição de rendimentos do trabalho seja mais equitativa. Sem demagogias geracionais".

"Que Parva Que Eu Sou"

Apresentado pelos Deolinda nos Coliseus

Sou da geração sem remuneração
e não me incomoda esta condição.
Que parva que eu sou!
Porque isto está mal e vai continuar,
já é uma sorte eu poder estagiar.
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração 'casinha dos pais',
se já tenho tudo, para quê querer mais?
Que parva que eu sou
Filhos, maridos, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.

Sou da geração 'vou queixar-me para quê?'
Há alguém bem pior do que eu na TV.
Que parva que eu sou!
Sou da geração 'eu já não posso mais!'
que esta situação dura há tempo demais
E parva não sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.





19-01-2011

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4 Comentários

Comentários

  1. Uma cambada do carago, é o que eles são!

    Portugal está a viver uma crise sem precedentes.
    Alguns poderão dizer que a crise é global e que no que à Comunidade Europeia se refere todos os países sentem a mesma crise.

    Tudo bem. Melhor dizendo, tudo mal porque não se pode ter como base os outros para nos desculparmos a nós próprios, quando o que está em causa é a ineficácia e irresponsabilidade dos políticos que não souberam governar a casa quando foram e continuam a ser bem pagos para o exercício das suas funções com zelo e competência.

    O que aconteceu é que esbanjaram dinheiro a torto e a direito, com subsídios para empresas que depois de receberem dinheiros para isto e para aquilo, logo encerram despedindo milhares de trabalhadores, subsídios para ali e para acolá, gastos com estradas que agora nos obrigam a pagar, gastos com cursos de formação, um autêntico circulo vicioso onde uns se vêem obrigados a entrar para ganhar uns cobres para sustento próprio e da família, deambulando de curso em curso coleccionando diplomas que apenas servem para encaixilhar porque sem serventia no mercado de emprego. E assim continuam os nossos desempregados empregados em empresas de formação a alimentar toda essa bola de neve constituída por empresas que obtêm lucros dos cursos e pelos formadores que têm como tábua de salvação os cursos vindos daqui e dali para deixarem de pertencer ao rol dos desempregados. Empresas que não admitem trabalhadores para os seus quadros porque há muito adoptaram o esquema utilizado pelo próprio Estado, admitindo apenas estagiários saídos de cursos de formação profissional, uma mão-de-obra barata ou até mesmo gratuita porque também subsidiada. Como se não bastasse tudo isso, em Portugal até se dá um subsídio mensal para quem não quer fazer nada. E para aqueles que estão desempregados porque as empresas os mandaram para o olho da rua depois de os usarem na mira do lucro fácil, reduzem-lhes o subsídio de desemprego e até os obrigam a completar o 9.º ou o 12.º ano à pressão para que nas estatísticas Portugal fique bem na média de escolaridade e ai do professor que dê negas aos seus alunos!

    É claro que quem paga tudo isso não são os políticos que ditam as leis, mas sim o Zé Povinho que trabalha e desconta para os cofres do Estado e que já nem manguitos pode fazer com os cortes que tem nas despesas com a cultura, com a alimentação, com a saúde e na aposentação que só chegará quando estiver às portas da morte pois até lá será obrigado a trabalhar ainda que seja de muletas, enquanto os mais novos depois de terminarem os seus percursos escolares andam por aí ao deus-dará sem nada para fazer à espera que os mais velhos morram para poderem ocupar os seus lugares numa qualquer empresa e enquanto os senhores políticos têm o emprego garantido e a aposentação ao dobrar da esquina, acumulando pensões e outras benesses nunca antes sonhadas.
    Enquanto isso, o que se vê em Portugal é os pobres cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

    Antes, o Zé Povinho ainda tinha a esperança de umas eleições à porta, que eram sinónimo de algumas melhorias durante as campanhas eleitorais, mas agora até isso é para não desejar pois o que se vê é que os senhores políticos dão uma no cravo e outra na ferradura, que o mesmo é dizer que dão hoje e logo exigem a dobrar depois de estarem no poleiro. Depois, como se não tivessem culpa no cartório, vão para as televisões, para as rádios e para os jornais acusando-se uns aos outros, armados em vítimas da crise, que o mesmo é dizer armados em anjinhos, tentando iludir o Zé Povinho que há muito já lhes viu a bunda. E tudo isto, pasme-se, sob a capa da democracia. Coisas impensáveis no tempo da outra senhora, que o mesmo é dizer no tempo da ditadura. É caso para dizermos que para os senhores políticos a ditadura democrática é o que está a dar, ou seja, é tudo uma questão de designação, pois o resto é igual ou pior.

    Uma cambada do carago é o que eles são!

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  2. A perspectiva do longo prazo

    A perspectiva do longo prazo parece ser algo essencial, embora por vezes esquecido ou colocado em plano secundário.Na vida das pessoas, das empresas, de outras instituições e dos próprios países parece ser fundamental definir uma orientação de longo prazo,colocar os grandes objectivos que nos devem animar ao longo do percurso.Procurarmos perceber para onde será útil irmos,o que queremos, de facto, fazer nas suas grandes linhas.

    Isso permite-nos definir metas intermédias, que nos sinalizam o percurso a ser feito, contrariando algum desnorte que possa surgir perante as dificuldades-pequenas ou maiores-que sempre aparecem.A que acresce a motivação de atingir os objectivos definidos a longo prazo.

    Quanto mais forte é a nossa determinação para atingirmos um grande objectivo de vida, mais fácil se torna ladearmos os pequenos acidentes de percurso, encararmos com serenidade os problemas, tantas vezes transformados em oportunidades para reforçarmos posições ou acelerarmos a nossa trajectória.Mas se não definirmos esses grandes objectivos, fica difícil dar uma forte orientação à vida, parece que nos deixamos embrulhar nas dificuldades,que não progredimos, que não dexamos abater e que nos mantemos num ciclo vicioso e pouco produtivo.

    Será importante que um jovem procure definir o mais claramente possível quais as suas grandes aspirações de vida.Como será fundamental que uma empresa procure definir os seus grandes objectivos de longo prazo.Mas também é da maior importância que quem assume a responsabilidade de governação de um país procure perpectivá-lo e à sociedade em geral no prazo longo, definindo os grandes desideratos orientativos da sua população.

    E quanto as pessoas-nas empresas, nas instituições humanitárias ou nos países- são conquistadas para os grandes objectivos que a todos interessam, galvanizam-se e criam condições para que a energia flua, de forma a tornar possível as grandes realizações.Galvanizam-se de forma a superar os erros próprios e os dos outros, a vencer invenjas e malquerenças, mantendo a determinação, a serenidade e a simplicidade de quem deseja cumprir com satifação, de quem deseja ser verdadeiramente útil a si próprio, aos outros a ao Todo.

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  3. O funcionário cansado

    A noite trocou-me os sonhos e as mãos
    dispersou-me os amigos
    tenho o coração confundido e a rua é estreita
    estreita em cada passo
    e as casas engolem-nos
    sumimo-nos
    estou num quarto só num quarto só
    com os sonhos trocados
    com toda a vida às avessas a arder num quarto só

    Sou um funcionário apagado
    um funcionário triste
    a minha alma não acompanha a minha mão
    Débito e Crédito Débito e Crédito
    a minha alma não dança com os números
    tento escondê-la envergonhado
    o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
    e debitou-me na minha conta de empregado
    Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
    Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
    Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?

    Soletro velhas palavras generosas
    Flor rapariga amigo menino
    irmão beijo namorada
    mãe estrela música
    São as palavras cruzadas do meu sonho
    palavras soterradas na prisão da minha vida
    isto todas as noites do mundo uma noite só comprida num quarto só


    António Ramos Rosa,


    Para todos os empregados aqui vós deixo esta pequena homenagem.Eu estou no mesmo barco!

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  4. Ola! Armindo! Ola! Humberto!

    Muito contente fiquei de observar vossas palavras de estímulo aos jovens navegantes.

    Muito se sabe da força que o povo tem há muitos séculos. A Bastilha que o diga!

    Aqui, nas terras deste nosso Brasil varonil há uma história de vida a contar de um povo que vem acordando há muito também, e até já proclamaram um impeachement a alguém.(?)

    Sou um dos fundadores do Sindicato das Indústrias Extrativas da cidade de Paracatu e Vazante, me colocando como uma pessoa intermediária entre o capital e trabalho, e assim estou pra dizer que apenas uma greve foi necessário fazer na dita mineradora. Até porquê, o patrão é um dos grandes empresários aqui existente e consciencioso da valorização de sua mão-de-obra. Nela, o seu piso, hoje é dois salários-minimos e meio, o que satisfaz àqueles que ganham. caso necessite, ele mesmo vai às negociações; foi um dos primeiros a implantar a tal "Participação dos Lucros" pelos colaboradores, cuja emenda já existente na Carta Magna desde 1946, nunca dantes implantada.

    Isto fez com que todos os colaboradores se reunissem em torno de um objetivo, qual seja, o aumento na produtividade e por conseguinte, na produção.

    A realidade é esta: Não se pode viver de tapinhas nas costa, com um simples muito obrigado no final do mês e toma aqui o que é teu.

    Após a implantação de um novo trabalho de "Qualidade Total", lendo livros que nos estimularam a mudar a consciência do que seria fazer melhorias no processo, a empresa saiu do vermelho e hoje possui nada menos que dois moinhos grandes e uma produção da mais alta tecnologia, com garantias de segurança internacional.

    Um dos livros que nos fez, trabalhadores, engenheiros, administradores, gerência e outros, a mudar o modus-operandi do processo, foi: "A Meta", do israelita, Eliyahu M. Goldratt-1994 e "O Voo do Búfalo" de James A.Belasco e Ralph C.Stayler.

    O que eu gostaria de evidenciar, meus caros amigos, que nestes dois livros todos descobrimos o valor verdadeiro do chavão: " A união faz a força"; e o povo vem descobrindo isso a cada dia que passa e isto é muito importante para todo um contexto social que abomina em definitivo a opressão de uma elite.

    Para mim, o exemplo egípcio foi sobremodo sensacional. Quiça outros iguais possam vir por aí e assim, o mundo vai mudando pra melhor.

    Abraços!

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