
DO TEXTO:
Mãe de Roberto Carlos ficou conhecida por conta da música que o filho fez em sua homenagem
Jotabê Medeiros, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - Discreta, avessa a badalações, religiosa, modesta. Mas, apesar do temperamento, o País inteiro a conhecia por meio de uma canção, Lady Laura: "Lady Laura, me leve pra casa/Lady Laura, me conta uma história/Lady Laura, me faça dormir".
Filha de português com cabocla, nascida em Mimoso, Minas Gerais, a costureira Laura Moreira Braga deixou sua cidade natal já casada com o relojoeiro Robertino para ir morar em Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo. Ele abriu uma loja de uma porta, ela costurava em casa para toda a cidade, e os filhos costumavam dormir ao pé da máquina de costura, embalados pelo barulho da engenhoca.
Laura, que tinha aprendido a tocar violão quando adolescente (numa época em que não era aconselhável que moça estudasse violão), transmitiu o gosto pela música aos quatro filhos: Roberto Carlos, Lauro Roberto, Carlos Alberto e Norma. "Mostrei para os meus filhos as primeiras posições e ensinei-lhes notas como o lá maior, fá menor e assim por diante. A partir daí, o talento natural de Roberto se impôs e ele buscou se aprimorar", contou.
"Todas as mães sabem que o filho caçula é o que custa mais a crescer", dizia dona Laura, explicando porque dedicava tanta (e especial atenção) ao filho mais novo. Essa atenção redobrou-se a partir do acidente que marcou a vida do 'Rei', em 29 de junho de 1947, quando um trem na Estrada de Ferro Leopoldina Railways, que cortava toda a cidade de Cachoeiro, passou por cima da perna do menino durante um desfile escolar.
Em 1954, Laura Braga matriculou o filho Roberto Carlos no Conservatório de Música de Cachoeiro, no qual ele teria aulas com as professoras Helena Gonçalves e Elaine Manhães. "Vivíamos quase sempre sem dinheiro, mas o que nos faltava em dinheiro minha mãe compensava em carinho e compreensão", disse Roberto, que se referiu à mãe em outras músicas além de Lady Laura.
"Naquela casa simples, você falou pra mim/ Que eu tivesse cuidado/ E não sofresse com as coisas desse mundo/ Que eu fosse um bom menino/Que eu trabalhasse muito." Os versos de Aquela Casa Simples (1986) foram dedicados a Laura. "Minha mãe disse isso aqui", contou Roberto Carlos em Cachoeiro do Itapemirim, no dia 19 de abril de 2009, durante o show que celebrava seu aniversário de 68 anos e 50 de carreira (ao qual a mãe não compareceu, já com alguns problemas de saúde).
A casinha azul da rua onde o filho do relojoeiro da costureira veio ao mundo, ainda hoje lá como um símbolo de sua história, é uma espécie de síntese da humildade. Um telhado de uma caída só, aposentos espartanos, quintal verde e reduzido. "Recordo a casa onde eu morava, o muro alto, o laranjal, meu flamboyant na primavera, dando sombra no quintal", canta Roberto Carlos na letra de Meu Pequeno Cachoeiro.
"Vivíamos quase sempre sem dinheiro, mas o que nos faltava em dinheiro minha mãe compensava em carinho e compreensão", disse Roberto. Ali naquela casa, Roberto iniciou e confirmou o objetivo de ser músico. Aos 8 anos de idade, logo após sua primeira apresentação na Rádio ZYL-9 Cachoeiro de Itapemirim, à qual compareceu por recomendação da mãe, procurou dona Laura e comunicou: "Pois é, mãe: eu não quero mais ser médico, não. Agora eu quero ser cantor!". Ela respondeu: "É mesmo, meu filho? Então está bem. Vamos ver se você vai continuar com essa vocação".
Roberto Carlos Braga, que nasceu no Dia do Índio, 19 de abril de 1941, trocou Cachoeiro do Itapemirim por Niterói e começou a ir embora para sempre no início de março de 1956, um mês antes de completar 15 anos. Lá, algum tempo depois, encontraria Erasmo, "filho único de mãe solteira", como se definia, e escreveria parte substancial da história da MPB.
Roberto despediu-se de Dona Laura e de Robertino apenas por algum tempo, porque um ano depois, em 1957, toda a família resolveu que era hora de se mudar para o Rio. Dona Laura, segundo conta Paulo César Araújo no livro recolhido Roberto Carlos em Detalhes, desembarcou primeiro, sozinha, na estação ferroviária da Barão de Mauá (o marido ainda ficou um tempo em Cachoeiro). De certa forma, Roberto nunca se separou definitivamente de Laura. Ele a manteve por perto até o fim, sempre cantando a bela canção, talvez uma das mais bonitas que alguém já fez para uma mãe: "Tenho às vezes vontade de ser novamente um menino/E na hora do meu desespero/Gritar por você/Te pedir que me abrace e me leve de volta pra casa/E me conte uma história bonita/E me faça dormir".
Estadao.com
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Comentários
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Oi, Armindo. Que texto lindo e emocionado. Tenho certeza que ao escrevê-lo, lágrimas rolaram pelo seu rosto, assim como no meu, ao lê-lo.
ResponderEliminarOlá, Rosemeire!
ResponderEliminarObrigado pelas palavras mas não fui eu que escrevi o texto mas sim Jotabê Medeiros, de O Estado de S. Paulo.
Eu apenas me limitei a transcrevê-lo para o Splish Splash precisamente pelos motivos que referes.
Grande abraço robertocarlistico para ti e para os teus meninos alunos que sabemos que são como gente grande na disciplina de Robertologia Aplicada, ou não tivessem eles tão excelente professora versada na matéria.
:)
Daqui do além-mar, estou amando este seu blog!
ResponderEliminarDesculpe-me a audácia, pois já me antecipei e transcrevi, sem sua autorização, algumas postagem em meu humilde blog. Um abraço e obrigado por seguires o meu blog!
Ceicinha Câmara
Olà Mindo!o texto realemente està bonito obrigado a Jotabe mas a ti tambem de o teres postado.Mindo nao tenho mais nada a dizer nestes momentos; na espera de dias mais alegres aqui vai um grande abraço com o pensamento no nosso idolo.
ResponderEliminarOlá, Manel!
ResponderEliminarÓ pá, és tu e eu. Nestes momentos um gajo nem sabe o que dizer.
Olha, como sabes estava à espera que o Roberto me telefonasse ontem, dia do seu aniversário, mas tal não aconteceu e ainda bem pois pela primeira vez não saberia o que lhe dizer.
Grande abraço, pá!
Olá, Ceicinha!
ResponderEliminarNão tens que pedir autorização. O Splish Splash é de todos nós.
Olha, eu quando vejo algo de interesse noutros sites não peço autorização. Simplesmente roubo e coloco no Splish Splash com indicação da fonte.
Bem sei que por causa disso um dia ainda vou ver o sol aos quadradinhos, mas desde que possa levar comigo uns CDs do Roberto para ouvir, tá tudo bem.
:)
Ah! Era impossível não ser Seguidor dum blog intitulado “Notícias da Lusofonia” http://nlusofonia.blogspot.com/ criado por uma brasuca radicada em Portugal. Os meus parabéns e…
… EM FRENTE!
Abraços lusófonos
Olá maninho!
ResponderEliminarLindo esse texto, de emocionar mesmo a gente.
Estamos muito sensíveis.
Eu já sou uma chorona de marca maior, agora então...
Mas maninho, esses jornalistas são muito engraçados, dançam mesmo conforme a música.
Esse Jotabê Medeiros, eu nunca vou esquecer.
Na época do show de Roberto e Caetano, que todo mundo elogiou, ele meteu a boca, falou mal até.
Ele e uma de São Paulo, que agora não lembro o nome, mas quando vejo, lembro.Essa classificou o show como fraco...
Agora o JB faz um texto bonito assim, dá pra entender?
Beijos,
Carmen Augusta