ARY DOS SANTOS - O POETA DE CORPO E ALMA PORTUGUESA

DO TEXTO:

Lisboa
1937-1984
PORTUGAL


Poeta português, natural de Lisboa. Saiu de casa aos 16 anos, exercendo várias actividades como meio de subsistência.
Revelando-se como poeta com a obra Asas (1953), publicou, em 1963, o livro Liturgia de Sangue, a que se seguiram Azul Existe, Tempo de Lenda das Amendoeiras e Adereços, Endereços (todos de 1965). Em 1969, colaborou na campanha da Comissão Democrática Eleitoral e, mais tarde, filiou-se no Partido Comunista Português, tendo tido uma intervenção politizada, mas muito pessoal.
Ficou sobretudo conhecido como autor de poemas para canções do Concurso da Canção da RTP. Os seus temas «Desfolhada» e «Tourada» saíram ambos vencedores. Em 1971, foi atribuído a «Meu Amor, Meu Amor», também da sua autoria, o grande prémio da Canção Discográfica. Declamador, gravou os discos «Ary Por Si Próprio» (1970), «Poesia Política» (1974), «Bandeira Comunista» (1977) e «Ary por Ary» (1979), entre outros. Publicou ainda os volumes Insofrimento In Sofrimento (1969), Fotos-Grafias (1971), Resumo (1973), As Portas que Abril Abriu (1975), O Sangue das Palavras (1979) e 20 Anos de Poesia (1983). Em 1994, foi editada Obra Poética, uma colectânea das suas obras.
Personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico e até panfletário, anticonvencional, contribuindo decisivamente para a abertura de novas possibilidades para a música popular portuguesa. Deixou cerca de 600 textos destinados a canções.



Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
é tão vulgar que nos cansa
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
a morte é branda e letal
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

José Carlos Ary dos Santos


Biografia in www.astormentas.com
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6 Comentários

Comentários

  1. Olá, Miriam!

    Excelente estreia!

    Na verdade, o Ary dos Santos foi uma figura impar na poesia e na arte de declamar.

    Como disseste, e bem, alguns dos seus poemas foram vencedores do Festival da Canção. Para além dos que citaste temos ainda a “Menina” cantada pela Tonicha que ficou em 1º lugar no Festival de 1972.

    Em 29 de Março deste ano coloquei no Splish-Splash um post que inclui um vídeo com a Tonicha e a sua belíssima interpretação da “Menina”.

    http://www.splishsplashblog.blogspot.com/search?q=Tonicha

    Parabéns pelo post e pela estreia!

    Abraços

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  2. Oi Miriam!

    Que bom ter você conosco!
    Seja bem vinda!
    E não se preocupe com o patrãozinho,ele é bonzinho.
    Sabe aquele ditado: Cão que ladra não morde?
    Pois é.....

    Beijos mil,
    Carmen Augusta

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  3. Olá Armindo

    Obrigada patrãozinho!
    Pois ,tens razão, eu esqueci a "Menina" !Imperdoável!
    Realmente, foi uma bela interpretação!
    É uma música e uma letra lindissímas!
    Ainda bem que és um patrãozinho atento! :)
    Abraços

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  4. Oi, Miriam!

    Eu sei que foi falta de esquecimento, digo, de lembrança. eheheheheheh

    Menina e Desfolhada são duas letras do Ary impressionantes. E as músicas, ambas do Nuno Nazareth Fernandes, idem aspas.

    E quanto às interpretações, a Menina da Tonicha e a Desfolhada da Simone, não podiam ser melhores.

    Já as postei aqui no blogue e até me está a apetecer postar novamente, baseado em que mais vale uma repetição com sentido do que um original destituído de significado.

    eheheheh

    Abraços

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  5. Olá Carmen

    Obrigada !:)
    É bom poder colaborar com pessoas como voçê e seus colegas!
    Eu conheço esse ditado !eheheh:)))
    É curioso que costumo lembrar muitas vezes!
    Beijos
    Miriam

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  6. Olá Armindo

    Eu sei que já postaste essas duas canções!
    "Menina " e "Desfolhada" são excelentes ,são as mais conhecidas!
    Eu quis homenagear e fazer lembrar ,o outro lado poético e menos conhecido de Ary dos Santos!

    Abraços

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