Diana Krall: 'Sou uma apaixonada da língua Portuguesa'

DO TEXTO:

A diva do jazz mais amada pelo público nacional acaba de lançar um álbum com clássicos da música brasileira.

Este é um álbum feito com matéria que diz muito ao público português.

É um álbum de bossa nova, com composições de nomes como Tom Jobim e João Gilberto.

Como se apaixonou pela música brasileira?

Pode dizer-se que sempre fui uma verdadeira apaixonada pela música brasileira, pela língua portuguesa. Sempre a senti como algo de muito especial e de muito pessoal e deu-me um prazer imenso trabalhar sobre este material.

Definiu este disco como 'erótico'. Porque o descreve assim desta forma tão sugestiva?

Penso que este disco é uma espécie de carta de amor, mas no seu sentido mais sensual, mais para o lado erótico. São canções que têm, definitivamente, uma atmosfera típica de um fim de noite. É íntimo, é revelador, creio eu. Tem a tal magia erótica, mas não se explica bem por palavras, só ouvindo se pode sentir.

Foi isso que inspirou o título, ‘Quiet Nights’?

Também. Mas o nome do disco vem sem dúvida do tema ‘Quiet Nights of Quiet Stars’, a versão em inglês de ‘Corcovado’, de Tom Jobim.

Foi especial apresentar esta música ao vivo no Brasil?

Na verdade, foi até muito intimidante fazê--lo perante uma plateia no Brasil. Fiquei muito sem graça por cantar em português no Brasil. Mas, felizmente, contei com um grande apoio por parte do público.

Deve ter sido um verdadeiro desafio cantar algumas destas músicas?

Claro, porque sou de Vancouver (Canadá) não sou do Brasil. Mas, sobretudo, pelo facto de estar a mexer numa música que é autêntica. Acho que o grande desafio foi esse: não estragar a genuinidade dessa música, que é a sua maior riqueza.

Qual é a sua maior referência na música brasileira?

João Gilberto. Foi a ouvir vezes sem conta os CD dele que aprendi muita coisa.

Já teve a oportunidade de dar alguns concertos com este repertório no Canadá. Como foi a reacção desse público?

Foi boa. Os primeiros concertos são sempre de aquecimento, mas para mim não para o público.

Quando virá para a Europa?

Vou fazer primeiro digressão no Canadá, depois nos Estados Unidos e só no Outono espero vir para a Europa em digressão.

E Portugal, pode esperar algum concerto ao vivo?

Ainda não sei, porque estamos a trabalhar nas datas, mas claro que gostava muito de voltar.

Tem uma relação especial com o público português?

Tenho, claro. Porque o meu primeiro sucesso na Europa foi aqui em Portugal. As pessoas que me ouvem aqui são extremamente leais e deram-me a oportunidade de actuar para plateias que me receberam com imenso carinho. Isso tornou o vosso país muito especial para mim.

É casada com Elvis Costello, um homem do rock. Como funciona este casamento entre o rock e o jazz?

Funciona muito bem, apesar de, às vezes, passarmos algum tempo afastados, por causa dos concertos. Mas acho que conseguimos equilibrar muito bem as coisas, inclusivamente com os nossos dois filhos, os gémeos. O importante é haver compreensão mútua. É sempre esse o segredo.

Nunca pensaram em fazer uma parceria?

Na verdade, já escrevemos canções juntos e fazemos eventos de solidariedade em conjunto, mas nunca aconteceu em espectáculos públicos.

Nunca quiseram fazer um concerto ou um disco juntos?

Por acaso já projectámos um álbum, mas acabou por nunca ser concretizado, porque pelo menos um de nós está sempre ocupado. Agora, por exemplo, seria impossível por parte dele, que está completamente absorvido no seu próprio processo criativo. Por incrível que pareça, o facto de termos a mesma profissão não torna mais fácil conciliar as coisas.

Os gémeos vão em digressão consigo?

Sempre. Só não vieram desta vez porque estão engripados, tal como eu, aliás.

'NÃO TENHO DE COMPOR'

Estreou-se como compositora em 2004, no álbum ‘The Girl In The Other Room’. No entanto, não voltou a repetir a experiência. Não foi agradável?

É um processo muito diferente. Na verdade, interpretar para mim já é algo suficientemente criativo e desafiador, não tenho necessidade de escrever o meu próprio material. Sinto-me como um actor, para o qual interpretar uma peça já é um desafio interessante.

Pelo seu trabalho, percebe-se que ouve todos os géneros musicais. De onde vem esse eclectismo?

Talvez por ter crescido com um pai que era fanático pela sua colecção de discos e com uma mãe que ouvia pop, folk... Eu cresci a ouvir todos esses estilos.

PERFIL

Diana Jean Krall nasceu em Nanaimo, canadá, a 16 de novembro de 1964. É casada com o músico Elvis Costello, de quem tem os gémeos Dexter e Frank Harlan.

Vanessa Fidalgo
In Correio da Manhã
28-03-2009




POSTS RELACIONADOS:
Enviar um comentário

Comentários