Primeiro catálogo reúne obras históricas e reforça o papel cultural da instituição no ABC Paulista
Duas décadas de resistência cultural transformadas em catálogo
A Pinacoteca de Mauá celebra duas décadas de atuação com o lançamento do seu primeiro catálogo de obras. O projecto encerra um ciclo iniciado em 2024, marcado por uma grande exposição comemorativa e pelo restauro da pintura Moinho de Sal Matarazzo (1963), de Hans Grudzinski – peça histórica para a cidade e símbolo do cuidado contínuo com o património local.
Fundada em 2003 e sediada no Teatro Municipal de Mauá, a instituição nasceu do esforço conjunto de artistas, curadores e da sociedade civil, decididos a criar um espaço público onde as artes visuais pudessem ser preservadas, investigadas e partilhadas. O que começou com um conjunto de 44 obras cresceu para mais de 500, abrangendo diversas linguagens, gerações e trajectórias. No acervo convivem mestres como Lasar Segall, Tomie Ohtake e Manabu Mabe, nomes contemporâneos da região como Aluísio dos Santos, Sandra Cinto, Cristiane Carbone e Talita Rocha, e artistas cujas narrativas ecoam tanto a história nacional quanto a memória social mauaense.
Para a curadora e pesquisadora Maria Luiza Meneses, responsável pela coordenação do projecto e organização do catálogo, esse encontro de vozes não é acidental. “Na Pinacoteca de Mauá, o acervo se torna um território do encontro – um espaço onde obras de grandes nomes da arte dialogam com artistas, histórias e narrativas locais. Assim como a cidade foi construída por fluxos migratórios nordestinos, mineiros e estrangeiros, essa diversidade se reflete na coleção”, afirma.
O catálogo reúne textos críticos e imagens da coleção municipal, com contribuições de Cecília Camargo, Luciara Ribeiro, Jayne Nunes, William Puntschart e um poema de Macário Ohana Vangelis. A escolha de autores ligados ao território reforça a perspectiva de uma crítica situada, que parte do próprio ABC Paulista. Destaca-se o caso de Luciara Ribeiro, nascida em Xique-Xique (BA) e radicada em Mauá, actualmente curadora da 4ª Trienal Frestas do Sesc Sorocaba.
A publicação inclui também um caderno educativo assinado pela coordenadora pedagógica Elidayana Alexandrino, pensado para apoiar professores e escolas públicas. As actividades realizadas em novembro dirigiram-se especialmente à produção de artistas negros do acervo, num diálogo direto com a comunidade escolar e com a rede municipal de ensino.
Criada num território marcado pela vocação operária e pela intensa produção cultural, a Pinacoteca enfrenta desafios contínuos relacionados à ausência de sede própria e aos recursos limitados. Ainda assim, mantém-se como espaço simbólico e essencial para a preservação e democratização da arte local. O catálogo, neste contexto, funciona como ferramenta de fortalecimento institucional e de ampliação do acesso público ao acervo.
“Enquanto grandes instituições passam a incluir artistas periféricos, negros e mulheres após reivindicações por representatividade, muitas coleções periféricas já vinham realizando esse trabalho de forma autônoma em seus territórios. A Pinacoteca de Mauá é um exemplo disso – um espaço em que a relação entre o local e o global se dá de modo soberano, poroso e radical”, reforça Meneses, sublinhando a importância de reconhecer a força dos museus periféricos como parte viva da cultura brasileira.
O projecto contempla ainda um plano de acessibilidade, com a produção de uma reprodução tátil da obra Moinho de Sal Matarazzo, desenvolvida pelo ateliê Inclua-me, de Marina Baffini, garantindo o acesso de pessoas com deficiência visual. A pintura passou por restauro completo, conduzido pelos restauradores Flávia Baiochi dos Santos e Alexandre Ferreira Xavier, reafirmando o compromisso da instituição com a salvaguarda do seu património.
A iniciativa resulta de uma parceria de sete anos entre Maria Luiza Meneses e a Pinacoteca, iniciada em 2019 com a criação do site oficial, seguida pela ampliação do acervo, programas educativos e, agora, pela concretização do primeiro catálogo. Para Meneses, que hoje integra a curadoria de grandes instituições como o Centro Cultural São Paulo e o Instituto Moreira Salles, o projecto é também um gesto pessoal. “É o meu ativismo nas artes. Dedico-me a fortalecer o acervo da cidade onde nasci. É uma forma de devolver a Mauá o que aprendi em outros museus e manter vivas as raízes que me formaram.”
Realizado com apoio do ProAC 37/2024 – Salvaguarda de Acervos, o projecto reafirma a vocação da Pinacoteca de Mauá para entrelaçar memória, pesquisa e criação contemporânea. O catálogo sintetiza vinte anos de construção colectiva, inscrevendo Mauá no mapa vivo da cultura brasileira e ampliando o acesso ao seu património artístico.
SERVIÇO:
Lançamento do Catálogo “Pinacoteca de Mauá”
29 de novembro de 2025
Das 14h às 18h
Mesa de lançamento: às 15h
Local: Pinacoteca Municipal de Mauá – Rua Gabriel Marques, 353, Vila Noêmia, Mauá, SP
Nota do Editor – Portal Splish Splash: O lançamento deste catálogo reforça a importância dos espaços culturais descentralizados e da preservação das memórias que constroem o tecido artístico brasileiro. A Pinacoteca de Mauá mostra como a resistência cultural se faz com pessoas, persistência e compromisso público.
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Primeiro catálogo reúne obras históricas e reforça o papel cultural da instituição no ABC Paulista
Redatora do luso-brasileiro Portal Splish Splash. VER PERFIL
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