Hábitos do pai antes da conceção pode afetar saúde dos filhos

Pesquisas mostram que hábitos do pai antes da concepção influenciam genes, peso e saúde dos filhos, ampliando o risco de obesidade e doenças.

Cartaz sobre impacto do estilo de vida paterno na saúde dos filhos

 

Pesquisas em epigenética revelam que estilo de vida paterno pré-conceção influencia peso e saúde dos filhos


Não é só papel da mãe: o pai também marca a genética do futuro bebê

São Paulo – outubro 2025 - Não é novidade que o estilo de vida e os hábitos diários da gestante durante o período de gravidez, amamentação e até mesmo antes da concepção possuem um impacto direto na saúde da futura criança. Mas cada vez mais evidências apontam que o estilo de vida paterno antes da concepção também possui um impacto significativo na saúde do filho, podendo, inclusive, favorecer o surgimento de doenças metabólicas como a obesidade. “Estudos mostram que fatores como peso e alimentação anteriores à concepção causam mudanças estruturais nos espermatozoides, o que tem influência na expressão de genes e, consequentemente, na saúde do filho. Essas alterações estão relacionadas ao que chamamos de epigenética”, explica o Dr. Rodrigo Rosa*, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.

O médico explica que a epigenética refere-se à maneira como os nossos hábitos e o ambiente em que vivemos influenciam a expressão dos genes, ou seja, quais genes são ativados ou desativados. “Uma série de fatores pode influenciar essa expressão gênica, incluindo alimentação, a prática de exercícios físicos, o sono, a exposição à poluição, o uso de medicamentos e a presença de doenças, inclusive a própria obesidade”, detalha o médico. “E embora, até onde sabemos, apenas uma pequena parte das alterações epigenéticas no feto seja diretamente derivada da mãe ou do pai, elas ainda possuem um impacto significativo no desenvolvimento do bebê e na sua saúde.”

Por exemplo, um estudo recente publicado na revista Nature mostrou que o estilo de vida paterno, principalmente a alimentação, na época da concepção pode influenciar no peso dos filhos. No estudo, roedores que possuíam uma dieta rica em gordura apresentaram mudanças estruturais nos espermatozoides dentro do epidídimo, espécie de tubo localizado no testículo que é responsável pelo armazenamento e maturação dos espermatozoides. Essas mudanças se traduziram em alterações no peso da prole. Já em espermatozoides humanos, os pesquisadores notaram alterações semelhantes aquelas presentes nos roedores, principalmente em pais com índice de massa corporal elevado. Além disso, filhos de pais obesos apresentaram um risco duas vezes maior de obesidade. “Estudos como esse reforçam a importância da criação de protocolos e políticas públicas focadas no cuidado pré-concepcional não apenas para as mulheres, mas também para os homens. É possível que, no futuro, as estratégias de prevenção de obesidade no futuro incluam cuidados no estilo de vida antes da concepção”, pontua o Dr. Rodrigo.

E além da questão do peso, existem ainda evidências de que o estilo de vida dos pais pode influenciar no risco de problemas como pré-eclâmpsia, câncer e defeitos congênitos. “Mais pesquisas sobre o tema ainda são necessárias para entender a extensão da influência do estilo de vida paterno, mas, de qualquer maneira, é recomendado que homens que desejam ter filhos adotem hábitos saudáveis”, diz o Dr. Rodrigo, que acrescenta que, além de contribuir com a saúde do futuro bebê, as mudanças de hábito pré-concepção também podem ajudar a melhorar as chances de gravidez. “É fato que pessoas que têm hábitos saudáveis, com prática regular de atividade física, alimentação balanceada e sono reparador, possuem maiores taxas de sucesso em comparação com pessoas da mesma idade que não praticam tais hábitos”, diz o especialista.

Por fim, o Dr. Rodrigo Rosa ressalta que é importante não confundir com o conceito de “modulação epigenética pré-concepção” que circula pela internet. “Alguns casais tentantes acreditam que realizar, alguns meses antes da concepção, uma verdadeira mudança no estilo de vida é capaz de ‘zerar’ a genética da criança e assim impedir que o filho desenvolva doenças genéticas. Mas trata-se de um grande mito, sem qualquer comprovação científica, que contraria os princípios da genética. Existem os fatores epigenéticos, como demonstrado por diversos estudos, mas isso não altera a sequência do DNA, a genética em si, como se fosse uma reprogramação total do código genético que isentaria completamente o risco de doenças em crianças. E é sempre importante lembrar que os pais não são, de forma alguma, responsáveis por problemas genéticos que o filho possa ter”, finaliza o médico.

DR. RODRIGO ROSA - Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.
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