Virginia e o chip hormonal: riscos além da estética

Virginia relata voz mais grossa após chip hormonal; médica explica riscos estéticos e alerta para os efeitos colaterais do implante de gestrinona.
Cartaz alusivo aos riscos do chip hormonal usado para fins estéticos

Especialista alerta para efeitos colaterais do implante hormonal usado fora da medicina


Engrossar a voz é só a ponta do iceberg dos efeitos colaterais

O corpo da influenciadora Virginia Fonseca, de 26 anos de idade, recentemente tem chamado atenção pelo ganho de massa muscular e perda de gordura. Mas, além disso, sua voz também engrossou. Em entrevista, Virginia negou o uso de anabolizantes e disse que sua voz teria engrossado após o uso do chamado “chip da beleza”, um chip com hormônios. "A minha voz, é que eu tinha um chip de testosterona, né... Mas acho que é por causa desse chip que eu tenho de testosterona e gestrinona, que venceu”, relata. O chamado ‘chip da beleza’ é, na verdade, um implante hormonal subcutâneo, inserido sob a pele — geralmente na região glútea — que libera substâncias de forma contínua por 1 ano. Ele é constituído principalmente do hormônio gestrinona. “Esse hormônio é liberado lentamente na corrente sanguínea, com o objetivo de promover determinados efeitos no organismo com indicação para doenças estrogênio dependentes como endometriose, adenomiose, TPM e TDPM (transtorno disfórico pré-menstrual). A Anvisa não autoriza o uso de implantes hormonais com fins exclusivamente estéticos. Esses produtos, quando registrados, são indicados para tratamentos médicos específicos, como endometriose, miomas, distúrbios menstruais e doenças estrogênio dependentes. Qualquer uso fora dessas indicações é considerado ‘off label’”, esclarece a Dra. Patricia Magier*, ginecologista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). “Os riscos mais comuns associados ao uso de implantes hormonais com finalidade estética incluem acne severa, oleosidade da pele, queda de cabelo, alterações no humor e aumento da irritabilidade, crescimento de pelos em áreas indesejadas, alterações menstruais (amenorreia ou sangramentos irregulares). Além disso, há risco de supressão do eixo hormonal natural, dificultando a reversão dos efeitos mesmo após a retirada do implante”, comenta a Dra. Patricia.

Segundo a ginecologista, a popularidade do chip da beleza para uso estético cresceu por conta da promessa de benefícios rápidos e visíveis, como melhora do corpo, disposição, libido e celulite, atributos associados à autoestima feminina. “As redes sociais amplificaram essa tendência, promovendo o “chip” como uma solução estética quase milagrosa. No entanto, essa fama muitas vezes ignora os riscos, a ausência de indicações médicas precisas e o uso indiscriminado, sem o devido acompanhamento. O implante é indicado para tratar doenças e foi visto que apresentava benefícios em algumas mulheres, associados a estética”, explica. “A prescrição de implantes hormonais deve ser feita exclusivamente por médicos, com especialização e conhecimento em ginecologia, endocrinologia ou medicina integrativa e funcional. O uso médico é pautado por critérios diagnósticos e exames que justifiquem a necessidade da gestrinona. Já o uso com foco apenas estético, sem respaldo clínico, não é reconhecido como conduta ética ou legalmente segura”, destaca a Dra. Patricia.

Com relação aos efeitos de longo prazo, a ginecologista destaca que o uso de implantes hormonais, especialmente os que contêm gestrinona, pode alterar o metabolismo hepático, os lipídios sanguíneos (declínio do HDL e aumento do LDL), a sensibilidade à insulina e a função tireoidiana, aumentando o risco cardiovascular. “Mulheres com histórico de câncer de mama (hormônio-dependente), trombose venosa profunda, doença hepática em atividade devem evitar esse tipo de terapia”, comenta a Dra. Patricia.

Segundo a médica, é possível obter os benefícios desses hormônios apenas com melhora do estilo de vida. “Mudanças no estilo de vida, como alimentação anti-inflamatória, atividade física regular, sono de qualidade e manejo do estresse, associados à suplementação adequada e, quando necessário, à reposição hormonal por vias convencionais (transdérmica, oral ou vaginal), podem promover os mesmos benefícios com maior segurança e reversibilidade”, esclarece. “A falta de avaliação personalizada e o uso com fins apenas estéticos aumentam a chance de experiências negativas e precisa de orientação para a paciente dos cuidados que precisa ter ao usar o implante de gestrinona. Cabe ao médico saber lidar com os efeitos colaterais que possam surgir com o uso do implante hormonal”, finaliza.

*DRA. PATRICIA MAGIER: ginecologista formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com residência médica pelo IASERJ e pós-graduação pela Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO, e Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia – TEGO; também possui especialização em Medicina Integrativa e Funcional. Criadora do Método Plena para cuidado da mulher de forma completa, profunda e individualizada. Além disso, é mentora de médicos na formação Plena Master’s. CRM-RJ 54925-6 | RQE 34538 | Instagram: @drapatriciamagier 
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