Mais de 46 mil brasileiros esperam por um órgão; conscientização é essencial
Dos mais requisitados, transplante de rim representa 92,7% da fila de espera; a cada 14 pessoas potencialmente aptas a doar, apenas 2 realmente se tornam doadores efetivos
Estabelecida pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a campanha Setembro Verde tem o propósito de conscientizar a importância de doação de órgãos no Brasil. Sendo o segundo maior transplantador do mundo, perdendo apenas para os Estado Unidos, o país enfrenta dificuldades em diminuir a fila de espera, que tem mais de 46 mil pessoas, devido a resistência da população em doar por conta de informações falsas ou mitos espalhados.
O nefrologista do Grupo São Lucas de Ribeirão Preto, Dr. Filipe Miranda Bernardes (CRM:202097 / RQE: 112141), comenta que o país realizou mais de 30 mil procedimentos em 2024, sendo os principais transplantes de rim e córnea, com mais de 85% dos procedimentos realizados financiados pelo SUS. A doação de órgãos no Brasil é regulamentada pelo Ministério da Saúde, que regulamenta, controla e monitora todo o processo de doação e transplantes realizados no país, atuando desde o processo da doação, captação e distribuição.
“Esse processo é gerido pelo Sistema Nacional de Transplantes, que após o aceite inicia-se o processo de envio das equipes de captação, e posterior realização de testes de compatibilidade e envio aos doadores. A preservação do órgão depende de vários fatores: órgãos como o coração e pulmão precisam ser transplantados em até 4 a 6h, fígado e pâncreas entre 12 e 24h, rim até 24 a 48h. Em 2025 até o dia 01 de setembro já foram realizados 6.409 transplantes sendo 4.285 de rim e 1.678 de fígado e 280 de coração”, explica.
O processo se inicia quando há pacientes elegíveis para a doação através de um diagnóstico de Morte Encefálica. Esse processo passa por um protocolo criterioso e regulamentado por diretrizes do Ministério da Saúde e Conselho Federal de Medicina, realizando provas clínicas e exames de imagem que constatem a ausência as funções cerebrais essenciais a vida. Durante o processo, a Organização de Procura de Órgãos (OPO), um órgão executivo da Comissão Nacional de Transplantes, atua, fiscaliza e aborda os familiares da possibilidade de doação dos órgãos e, caso aceite, inicia o processo de captação e distribuição para os possíveis doadores via Sistema Nacional de Transplantes.
“O Protocolo de Morte Encefálica visa garantir a ausência de funções cerebrais básicas, diferenciando do estado de coma, onde há a perda de consciência, porém preservando as funções cognitivas básicas. Envolve exames clínicos neurológicos realizados por um intensivista, emergencista, neurologista ou neurocirurgião devidamente certificado, em dois momentos, bem como um exame de imagem confirmatório como o Doppler Cerebral ou Angiografia cerebral que ateste a ausência de fluxo sanguíneo cerebral”, detalha o médico.
Fila de espera
Entre um dos motivos na resistência de doar, é a falta de compreensão e a propagação de informações falsas sobre os critérios de doação na fila de espera. O procedimento não funciona por ordem de chegada ou inscrição, nem tem ordem crescente ou decrescente. A fila segue critérios para a seleção do possível receptor do órgão, sendo o principal a compatibilidade por tipagem sanguínea e genética (HLA), compatibilidade de peso e altura e critérios de gravidade que são distintos de acordo com o órgão.
Recentemente o caso do apresentador Fausto Silva, que realizou um transplante duplo fígado-rim, gerou grandes questionamentos na população. O nefrologista explica que, no caso do apresentador, houve uma priorização na fila de transplante pela gravidade clínica por uma insuficiência hepática grave e por já estar com insuficiência renal grave com realização de diálise, para garantir uma melhor viabilidade do transplante de fígado, há o transplante duplo fígado-rim.
Entre os maiores desafios para conscientizar sobre a doação de órgãos, estão desmitificar os mitos sobre a definição da morte encefálica e do próprio processo da doação, reverter a baixa taxa de conversão de doadores efetivos e ultrapassar a alta recusa familiar na autorização de doação. Aproximadamente 40 a 50% das famílias negam a doação de órgãos motivadas por medos, convicções religiosas e mitos.
“Os profissionais de saúde têm um papel essencial na conscientização sobre a doação de órgãos. Isso pode ser feito por meio de campanhas educativas e da desmistificação do processo, trazendo informação confiável à população. No ambiente hospitalar, diante de uma possível morte encefálica, é fundamental que a equipe adote uma comunicação clara, empática e acolhedora com os familiares. Por fim, é importante estimular a cultura da doação em vida. Quando uma pessoa manifesta sua vontade de ser doadora e comunica isso à família, as chances de autorização no momento da perda aumentam significativamente”, conclui o nefrologista.
Sobre o Grupo São Lucas - O Grupo São Lucas de Ribeirão Preto (SP) é uma marca de tradição, qualidade e confiança em medicina de excelência há mais de 50 anos, com médicos especialistas, atendimento humanizado e estrutura própria com alta tecnologia. É composto pelo Hospital São Lucas, Hospital São Lucas Ribeirania e São Lucas Medicina Diagnóstica. O Grupo, localizado em Ribeirão Preto (SP) é administrado pela Hospital Care, uma holding de serviços de saúde formada por mais de 30 unidades entre hospitais e clínicas, em 7 cidades do país.
Mais de 46 mil brasileiros esperam por um órgão; conscientização é essencial
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