O festival volta a Viseu de 9 a 20 de julho com jazz na rua, oficinas e jam sessions
"Onde há jazz, há vida — e a liberdade escuta-se mais alto na rua."
Vimara Porto
O festival Que Jazz É Este? entra na adolescência. Aos 13 anos, não quer saber de etiquetas, prefere a rua à sala de estar e responde com música quando lhe fazem perguntas difíceis. De 9 a 20 de julho, volta a ocupar Viseu com a mesma inquietação criativa de sempre, abrindo espaço para encontros tão improváveis quanto urgentes. São 12 dias com concertos para público em geral e ao domicílio, jam sessions, oficinas e rádio ao vivo. Um organismo vivo feito de muitas gentes, das suas músicas e vontades. Porque a vida, a arte, a cultura, a música, o jazz... (que no fundo é tudo a mesma coisa), querem-se de todos, e para isso não podem ser só blá blá ou doo-bah wee-bah. Têm que ser liberdade e diversidade, têm que integrar diferentes vozes, gerações, etnias, estéticas. Posto isto, pode restar uma última pergunta: Que Jazz É Este, afinal? É vir ver, ouvir e fazer parte. E é encontrar várias respostas de esperança face ao mundo complexo em que vivemos.
Teaser vídeo
Logo a abrir, dias 9 e 10 de julho, a banda sonora original da jovem trompetista Jasmim Pinto para o filme The Playhouse (de Buster Keaton) leva o jazz a quem não pode vir até ele: o Estabelecimento Prisional de Viseu, o Internato Victor Fontes e o Hospital Psiquiátrico recebem este gesto cúmplice e simbólico — porque a cultura deve ser um direito, mesmo atrás de grades ou dentro de muros. O filme concerto é também apresentado para o público em geral na Casa do Miradouro a 17 de julho. Um filme onde Keaton joga com a relação existente entre o mundo onírico e a realidade, em que o próprio interpreta todos os papéis de um espectáculo, de actores a membros da orquestra, aos próprios espectadores da apresentação, fazendo-nos reflectir sobre um possível cenário de superação numa (ainda actual) sociedade capitalista industrial.
No dia 12 de julho a cidade acorda com Jazz na Rua — sopros e percussões da Escola Profissional da Serra da Estrela invadem praças, varandas e esquinas. No mesmo fim de semana, a música estende-se a Tondela (Tom de Festa) com o Colectivo Gira Sol Azul e um dos maiores embaixadores da música cabo-verdiana: Tito Paris. Um concerto que promete ser uma celebração da lusofonia, da diversidade e da vida repleto de energia e emoção e que volta a acontecer no Parque Aquilino Ribeiro em Viseu dia 19 de julho.
Ainda na primeira semana do festival o quarteto de João Rocha – recém premiado no 4.º Concurso Internacional de Jazz da Universidade de Aveiro - apresenta-se na Pousada de Viseu (12 de julho) e em Carregal do Sal (13 de julho) faz-se ouvir a Gira Big Band num concerto que junta três gerações de músicos oriundos de estruturas, bandas filarmónicas e escolas da região de Viseu, em tributo à cantora Vera Lúcia, essa personagem peculiar que nasceu em Viseu sob o nome Ermelinda Balula e aos dez anos de idade trocou Portugal pelo Brasil, onde se tornou cantora consagrada nos anos 50 e 60.
De 17 a 20 de julho o coração do festival bate em vários pontos da cidade. Mano a Mano apresentam Triologia das Sombras nos claustros do Museu Nacional Grão Vasco dia 17, um concerto especial cujo ponto de partida é a obra de Lourdes Castro e em que o uso de guitarras e cordofones tradicionais da Madeira, dão vida a mais uma etapa dos Manos à qual se junta também o performer Tiago Martins.
O parque Aquilino Ribeiro recebe Camilla George (dia 18) saxofonista visionária e inovadora, uma das mais importantes vozes da nova cena do jazz londrino cuja música é uma mistura hipnotizante de afrofuturismo, hip hop e jazz, com um subtexto político que tem uma ligação poderosa com a sua identidade, linhagem e herança nigeriana, refletindo a história africana, a cultura e a escravatura.
O Teatro Viriato recebe a 19 de julho o trio da suíça Marie Kruttli com composições que se elevam a estruturas imponentes, semelhantes a catedrais, mas que simultaneamente mergulham em profundidades introspectivas evocando imagens cinematográficas vívidas.
Entretanto o jardim da Casa do Miradouro transforma-se em refúgio de descobertas: a fusão única de sons e culturas entre os músicos Emanuel e Toy Matos - conhecidos pela profundidade e autenticidade de suas raízes ciganas - e o talentoso saxofonista, compositor e improvisador João Mortágua (18 de julho); o quarteto Analogik que liderado pelo contrabaixista Zé Almeida explora a escrita e a improvisação dentro de uma constelação invulgar: ora trio de jazz, ora quasi-quarteto de cordas, ora ensemble de improvisação (20 de julho).
O Carmo’81 é ponto de encontro para os mais novos e mais ousados. É lá que acontece a 1ª edição do ‘So What? Encontro de Escolas’ (16 julho), com o objetivo de promover o encontro e o intercâmbio entre alunos de escolas profissionais de música num ambiente de partilha que estimule a troca de ideias e o fortalecimento da cena musical jovem. É também no Carmo’81 que de 17 a 19 de julho se realiza a 17ª. Edição do Workshop de Jazz de Viseu orientado por André Matos e Gonçalo Marques que propõem aprofundar a improvisação como processo de auto-descoberta. Ao cair da noite, abrem-se ali as portas às jam sessions. Quem quiser tocar, aparece. Quem quiser ouvir, entra. Sem alinhamentos, sem rede — só a entrega de quem vive a música como linguagem de liberdade.
A festa final acontece no Parque Aquilino Ribeiro (dia 20) com New Max (aka Tiago Novo) e o groove como nota dominante. Reconhecido pelo grande público pelo seu trabalho enquanto músico/ compositor/ produtor e também como uma das metades dos Expensive Soul, New Max apresenta Phalasolo, uma colecção de canções que representam uma homenagem à música negra e também um apelo a que se consuma mais cultura portuguesa.
E como nenhuma festa está completa sem conversas e devaneios, a Rádio Rossio volta ao seu estúdio sobre rodas no Parque Aquilino Ribeiro, com programas ao vivo transmitidos também pela Rádio Jornal do Centro. Emanuel Santoz e Tiago Araújo, Gonçalo Falcão, Luís Belo e Jasmim Pinto, Catarina Machado e Sandra Rodrigues, conduzem programas únicos especialmente concebidos para o festival. A programação da Rádio Rossio inclui ainda quatro sessões que resultam da oficina Radioactiva – uma experiência imersiva em que os participantes criam programas de autor originais que partem do uso consciente, crítico e independente da comunicação enquanto instrumento chave da nossa construção social.
A 13ª edição do festival Que Jazz É Este? é financiada pelo programa Eixo Cultura do Município de Viseu e conta com vários importantes parceiros e mecenas locais e nacionais que têm contribuído para a afirmação do festival como um projeto de relevo e prestígio na região centro.
Todas as atividades são de entrada livre, com apelo ao “donativo consciente” — porque a cultura deve ser acessível, mas não gratuita por defeito. E porque apoiar quem faz é garantir que a música continua a acontecer.
A não perder esta montanha russa de concertos para público em geral, concertos ao domicílio, jam sessions, encontro de escolas, oficinas e rádio ao vivo – de 9 a 20 de julho, em Viseu.
O festival volta a Viseu de 9 a 20 de julho com jazz na rua, oficinas e jam sessions
Comentários
Enviar um comentário
🌟Copie um emoji e cole no comentário: Clique aqui para ver os emojis