DO TEXTO:
Após um diagnóstico de câncer, os pacientes geralmente recorrem à internet para obter informações, levando ao risco de enfrentar desinformação prejudi
Redes sociais espalham mitos perigosos que afastam pacientes do tratamento eficaz
As Fake News sobre saúde sempre foram prejudiciais, mas cada vez mais invadem a delicada área da Oncologia, muitas vezes afastando pacientes do tratamento respaldado pela ciência
O diagnóstico de câncer assusta, deixa qualquer um sem chão. E não é incomum que, após a confirmação da presença de um tumor no corpo, muitas pessoas recorram à internet e às mídias sociais para obter informações. O que é realizado para buscar um fio de esperança pode produzir efeitos desastrosos. “As pessoas têm compartilhado informações de saúde imprecisas desde o início dos tempos. Mas as mídias sociais tornaram muito mais fácil o compartilhamento de informações incorretas sobre saúde. O algoritmo, que vê interação e não qualidade da informação, premia posts que têm interação e respostas, mesmo que elas desmintam a informação dada. E desse jeito, esse vídeo aparecerá para mais pessoas, em um ciclo constante de desinformação que é prejudicial e cruel para pacientes oncológicos”, explica o Dr. Ramon Andrade de Mello*, médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra) e pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico).
Estudos já se debruçaram sobre as informações da internet e chegaram à conclusão de que sobre os quatro tipos de câncer mais comuns, um em cada três posts continha informações falsas, imprecisas ou enganosas. “E a maioria dessas informações falsas sobre o câncer era potencialmente prejudicial, por exemplo, ao promover tratamentos não comprovados como alternativas àqueles que estudos rigorosos demonstraram ser benéficos”, diz o oncologista. “Uma proporção substancial do conteúdo nas redes sociais é potencialmente tendenciosa e/ou desinformada e esses vídeos obtêm mais visualizações e curtidas do que vídeos contendo informações precisas”, explica o Dr. Ramon.
Por exemplo, um vídeo popular já recomendou injetar ervas na próstata para tratar câncer, o que não é comprovado e é potencialmente perigoso. “Soluções para esse problema não são simples. Mas, os médicos e provedores de assistência médica podem ajudar mantendo as linhas de comunicação abertas, ouvindo os pacientes sem julgamentos, trabalhando com eles como parceiros para tomar decisões sobre triagem e tratamento de câncer e fornecendo a eles recursos sugeridos para mais informações”, explica o Dr. Ramon.
Geralmente os vídeos inventam teorias da conspiração de que a indústria farmacêutica não quer encontrar a cura do câncer, e oferecem um tratamento simples a um problema complexo, baseado no que chamam de “medicina alternativa”. “Mas o tal tratamento simples não vem sem dano. Estudo publicado em 2017, por exemplo, descobriu que pessoas com câncer que usaram tratamentos alternativos ou complementares em vez de tratamentos convencionais contra o câncer tiveram um risco maior de morrer do que pessoas que receberam terapia convencional contra o câncer”, alerta o oncologista de São Paulo.
Os danos potenciais, segundo o médico, incluem efeitos perigosos de um tratamento sugerido, atrasar ou não procurar atendimento médico para uma condição tratável ou curável e danos financeiros, incluindo desperdício de dinheiro. “Vídeo, tom de voz e até mesmo esquemas de cores podem ter um forte impacto em como as pessoas processam informações”, diz o médico.
O oncologista Dr. Ramon Andrade de Mello é bem claro quanto à principal dica após o diagnóstico: confiar no médico e esclarecer todas as dúvidas com ele. “Médicos que diagnosticam e tratam câncer têm lidado com desinformação há muito tempo. E algumas desinformações podem levar os pacientes a expressar dúvidas, hesitação ou medo de aderir a tratamentos comprovados. Para essas situações, devemos ouvir as preocupações das pessoas com empatia e respeito. E, se possível, criar uma abertura para que o paciente tire todas as dúvidas de seu tratamento”, explica o médico. “É muito importante ter uma discussão aberta com as pessoas sobre o que elas viram nas mídias sociais e compartilhar informações baseadas em evidências sobre o que é recomendado em seus casos”, acrescenta.
Até mesmo suplementos naturais, substâncias aparentemente inofensivas e mudanças na dieta devem ser discutidas com o médico e sua equipe multidisciplinar. “Alguns suplementos alimentares, por exemplo, podem interagir com seu tratamento, então é sempre importante conversar com seu médico. Além disso, estratégias alimentares devem também fazer parte dessa discussão, pois não é indicado retirar grupos alimentares da dieta, nem fazer restrições que possam piorar a qualidade de vida do paciente”, destaca o Dr. Ramon. “O diagnóstico de câncer é sempre difícil, mas é importante confiar no médico e entender que nenhum suplemento, alimento ou estratégia alternativa terá efeito milagroso. O tratamento oncológico evoluiu muito, com medicamentos quimioterápicos e biológicos, que podem fazer o câncer entrar em remissão, permitindo ao paciente, após todo tratamento e acompanhamento, ser curado”, conclui o Dr. Ramon.
Usando a mídia social para o bem
As mídias sociais e os grandes veículos de notícia também podem ser parte do remédio para a desinformação sobre o câncer. “É importante que médicos e outros especialistas se envolvam ativamente online para compartilhar informações de saúde baseadas em evidências e garantir que as últimas descobertas científicas cheguem ao público por meio dessas grandes redes”, explica Maria Alice Amoroso Nunes*, jornalista e CEO da Holding Comunicações, empresa especializada na divulgação médica para a imprensa há 30 anos.
Segundo Maria Alice, sociedades médicas, periódicos e organizações também precisam ser ativas nas mídias sociais e ser fontes de informações confiáveis, pois têm papel educacional para a população. “Aprender as origens da desinformação nas mídias sociais e as razões por trás do compartilhamento também são essenciais para os esforços de limitar sua disseminação. Também é importante combater a desinformação sem gerar publicidade para o vídeo que contém Fake News”, finaliza.
*DR. RAMON ANDRADE DE MELLO: Médico oncologista do Centro Médico Paulista High Clinic Brazil (São Paulo), vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, Pós-Doutor clínico no Royal Marsden NHS Foundation Trust (Inglaterra), pesquisador honorário da Universidade de Oxford (Inglaterra), pesquisador sênior do CNPQ (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico), Brasil, vice-líder do programa de Mestrado em Oncologia da Universidade de Buckingham (Inglaterra), Doutor (PhD) em Oncologia Molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (Portugal). Tem MBA em gestão de clínicas, hospitais e indústrias da saúde pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), São Paulo. É pesquisador e professor do Doutorado da Universidade Nove de Julho (UNINOVE), de São Paulo. Membro do Conselho Consultivo da European School of Oncology (ESO). O oncologista tem mais de 122 artigos científicos publicados, é editor de 4 livros de Oncologia, entre eles o Medical Oncology Compendium, Elsevier, de 2024. É membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, e do Centro de Diagnóstico da Unimed, em Bauru, SP. Instagram: @dr.ramondemello
*MARIA ALICE AMOROSO NUNES: CEO da Holding Comunicações, assessoria de imprensa especializada em Saúde, Beleza e Bem-Estar há 30 anos. Jornalista pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), foi repórter do jornal O Estado de S. Paulo e do SBT e professora de Comunicação e Marketing para médicos na Associação Paulista de Medicina. Atua há́ 35 anos na área de saúde, beleza, luxo e bem-estar e há́ 45 anos em Comunicação.
Redes sociais espalham mitos perigosos que afastam pacientes do tratamento eficaz
Gostou do post ou tem sugestões?
✍️ Deixe aqui a sua opiniãoComentários
Enviar um comentário
🌟Copie um emoji e cole no comentário: Clique aqui para ver os emojis