Uma vez rompido, um LCA não pode crescer ou se curar de volta ao normal por conta própria
Osteoartrite pós-traumática no joelho pode ocorrer em até 87% daqueles que sofreram uma ruptura do LCA (ligamento cruzado anterior). Programa de fortalecimento pode minimizar o risco de desenvolver a condição crônica
São Paulo – outubro 2024 - O terror de atletas de alto rendimento costuma ser uma lesão no joelho chamada LCA (ligamento cruzado anterior). Embora essas lesões sejam razoavelmente comuns em atletas, as mulheres apresentam duas vezes mais chances de tê-las. “No entanto, esse problema não se restringe apenas a atletas de elite. Atletas amadores e recreativos também correm risco. A ruptura do LCA também pode acontecer em situações não esportivas – como uma queda. E o que muita gente não sabe é que ter esse tipo de lesão pode ser um fator de risco para desenvolver artrose de joelho no futuro”, explica o Dr. Marcos Cortelazo*, ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva do Hospital Albert Einstein. “Além da dor de uma lesão do LCA e da possível necessidade de cirurgia reparadora ou reconstrutiva, há também outra consequência de longo prazo de um trauma grave no joelho: osteoartrite pós-traumática”, comenta o médico. Esse tipo de lesão foi responsável por três cirurgias que a ginasta Rebeca Andrade sofreu no joelho – e já tirou Neymar dos campos de futebol por mais de oito meses.
O LCA é um ligamento que se prende à extremidade do osso da coxa (fêmur) e ao osso da perna (tíbia). “Ele fornece estabilidade ao joelho, evitando que a tíbia se mova para a frente da coxa. Ele também ajuda a fornecer estabilidade à articulação do joelho ao girar. Lesões no LCA podem acontecer tanto por contato (colisão com outra pessoa ou objeto) quanto sem contato (como desacelerar após uma corrida rápida ou aterrissar desajeitadamente durante um salto)”, explica. Uma vez rompido, um LCA não pode crescer ou se curar de volta ao normal por conta própria. “A principal opção de tratamento é cirurgia de reconstrução do LCA, associada à fisioterapia no pós-operatório. Mas há um porém: apesar dos benefícios inegáveis desses tratamentos, eles não previnem o eventual desenvolvimento de osteoartrite pós-traumática, que ocorre em até 87% daqueles que sofrem uma ruptura do LCA”, comenta o ortopedista.
O que explica exatamente essa relação? “A osteoartrite pós-traumática é uma condição progressiva e crônica. Ela é considerada multifatorial, resultante do impacto na cartilagem no momento da lesão inicial, uma cascata inflamatória que começa após a lesão, alterações na biomecânica da articulação devido à deficiência do LCA, lesões meniscais associadas e outros fatores”, detalha o Dr. Marcos Cortelazo.
O médico destaca que na osteoartrite os tecidos articulares (incluindo cartilagem e osso) podem se deteriorar. “Há uma gama de sintomas físicos contínuos – incluindo dor, rigidez, estalos ou cliques na articulação e perda de função”, diz o médico. “Luxações e fraturas no joelho podem levar à osteoartrite pós-traumática. No entanto, são as lesões do menisco e do ligamento cruzado que apresentam o maior risco de desenvolver a doença”, completa o médico. Algumas pesquisas relatam que, mesmo em pessoas que passaram pela cirurgia para reconstruir o LCA, cerca de 12% delas desenvolvem osteoartrite pós-traumática em cinco anos.
Segundo o médico, como a maioria das lesões no joelho acontece entre 18 e 40 anos, isso significa que a osteoartrite pós-traumática pode se desenvolver cedo na vida de alguns - e pode ter um efeito significativo em sua qualidade de vida.
Cuidando dos seus joelhos, a melhor abordagem para reduzir seu risco dessa condição é preventiva, ou seja, evitar uma lesão séria no joelho. “Uma maneira essencial de prevenir lesões é fazer os tipos certos de exercícios. Pesquisas recomendam um regime de exercícios que inclua treinamento pliométrico (pular e saltar), movimentos de fortalecimento (estocadas, agachamentos e elevações de calcanhar) e exercícios de agilidade (saltos de um lado para o outro). Alguns trabalhos mostraram que fazer esses três tipos de exercícios reduziu as taxas de lesões do LCA em 53% em jovens que praticavam esportes como futebol, handebol, vôlei e basquete”.
O médico explica que, após uma lesão articular, o único fator de risco identificado até agora que pode aumentar o risco de uma pessoa desenvolver osteoartrite pós-traumática é ter um índice de massa corporal mais alto. “O sobrepeso significa que você pode colocar mais força na articulação do joelho e sobrecarregá-lo”, explica o médico. “Nesse sentido, manter um peso ideal, com a prática de exercício físico e seguindo uma dieta apropriada, pode ter efeito preventivo interessante para os joelhos”, diz o médico.
Por fim, o médico ressalta que, após a recuperação de uma lesão do joelho, é aconselhável se manter ativo, cuidar das articulações e evitar machucar o joelho novamente. “Para quem foi diagnosticado com osteoartrite pós-traumática, ou está apresentando os sintomas, exercícios e controle do seu peso são recomendados”, finaliza o médico.
*DR. MARCOS CORTELAZO: Ortopedista especialista em joelho e traumatologia esportiva. Graduado em medicina e pós-graduado em ortopedia e traumatologia pela Escola Paulista de Medicina/Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o Dr. Marcos Cortelazo é membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Latino-americana de Artroscopia, Joelho e Esporte (SLARD) e da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Medicina do Esporte (ISAKOS). Sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho e da Sociedade Brasileira de Artroscopia, o especialista integra o corpo clínico dos hospitais Albert Einstein, São Luiz e Oswaldo Cruz. CRM 76316 Instagram: @dr.marcos_cortelazo
Uma vez rompido, um LCA não pode crescer ou se curar de volta ao normal por conta própria
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