INVERNO PRESO NO XADREZ - A clássica estampa volta à cena em todas as suas padronagens

DO TEXTO: Depois do boom dos blazers príncipe de Gales no último inverno e do vichy francês nas produções de verão, ainda resta muito espaço para estas texturas
Composição: Mar com piso em xadrez e modelos posando.

No Ocidente, a origem da estampa xadrez pode ser encontrada desde a Idade do Ferro (700 a 50 a.C.)


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O xadrez é uma das tendências fortes para a temporada Outono-Inverno 2024, sendo uma das maiores apostas das semanas de moda em todo o mundo.

Entre as idas e vindas da moda, existem algumas tendências que, apesar de se destacarem em uma ou outra temporada, estão sempre presentes no street style.

O xadrez é um bom exemplo.

Depois do boom dos blazers príncipe de Gales no último inverno e do vichy francês nas produções de verão, ainda resta muito espaço para estas texturas clássicas.

E aparentemente não pretendem sair de cena tão cedo já que, no fashion month, mês em que acontecem as quatro semanas de moda mais importantes do globo, a estampa esteve mais o que presente de formas variadas e nas mais diferentes produções.

No Ocidente, a origem da estampa xadrez pode ser encontrada desde a Idade do Ferro (700 a 50 a.C.).

Escavações arqueológicas nos pântanos da Alemanha e da Dinamarca descobriram vestígios de tecidos xadrez em fio de lã nas roupas das vítimas de sacrifícios humanos.

Foi Chanel quem introduziu o xadrez nas roupas femininas, anteriormente popularizadas entre os homens no período Eduardiano (pelo príncipe de Gales Eduardo VII, filho da Rainha Vitória).

Foi por volta de 1916 que Coco Chanel apresentou o tecido xadrez em peças para a mulher, como saias, blusas de malha fina, calças e casacos.

Durante os anos 1980 os Punks adotaram o xadrez com um toque rebelde e este clima que a moda atual está tentando emplacar. 

ADOTE JÁ

  • Use em saias calças, tops e até paletós para um toque bem-humorado.
  • Evite em locais de maior volume. Geralmente aumentam a silhueta.
  • Misture xadrez com outras estampas ou em mix de diversos xadrezes.
  • Parceiro número 1 dos jeans e das botas.
  • Desenhos gráficos como os xadrezes servem a qualquer formato de corpo.
  • Xadrez pode ser combinado com tecidos lisos, com jeans, com os militares, com estampados que repitam a cor ou xadrezes diferentes e misturados. Claro que tem que ter estilo para fazer este mix de xadrezes, mas o resultado pode ser bem inovador.

OS DIVERSOS TIPOS DE XADREZ QUE ESTÃO NA MODA 2023/24

Xadrez Tartan


Este tipo de xadrez colorido voltou à moda no visual dos punks e mais tarde no movimento grunge e como o rock é sempre uma das grandes influencias atuais, esta estampa está em alta.

É o xadrez que identifica os desenhos estilo escocês.

A base dos tartans resulta da tecelagem de fios coloridos da urdidura e da trama que, ao se cruzarem, formam desenhos em ângulos retos. Os blocos resultantes no desenho se repetem nos sentidos vertical e horizontal, fazendo surgir linhas e quadros conhecidos como sett.

O Museu Real da Escócia, em Edimburgo, mantém uma exposição com mais de 1.600 tartans diferentes.

Com toda essa história e tradição, algumas empresas registram seus próprios desenhos de tartans para a identificação de seus produtos como uísques, fumo para cachimbo, biscoitos e outros.

Coco Chanel foi quem trouxe para o guarda roupa feminino roupas elegantes e confortáveis no padrão tartan.

Era o xadrez preferido de Lady Di.

Tecido na Escócia desde a Idade Média era colorido com o pigmento natural de amoras, morangos e framboesas.

Por volta de 1730, os Highlanders começam a vestir o tecido em Kilts, mas foi no final do século dezenove que os escoceses começaram a usar os xadrezes para distinguir as famílias.

O desenho é como insígnias.

Cada clã cria diversos “tartans” (o termo para o desenho e cor), para diferentes ocasiões.

Xadrez Pied-de-Poule e Pied-de-Coq


Trama clássica que explora o efeito ótico no tecido caracterizado por pequenos quadrados com um dos vértices cortados, dando a impressão do pé- de- galinha, tradução do nome em francês. Foi criado na Inglaterra durante a revolução industrial.

Em 1934 a revista Vogue destacou o padrão na sua edição de janeiro, impulsionando e associando a estampa a símbolo de alta-costura. É trade Mark da Dior.

As décadas que se seguiram viram a Casa Dior, designers como Roger Vivier, mas principalmente a Casa Chanel fazer um aproveitamento da estampa, consolidando o seu status icônico.

Originalmente masculino, se transformou em tailleur usado por Lauren Bacall em filmes “Noir” da década de quarenta influenciando todas as mulheres a usá-los.

Quando a estampa é maior, chama-se Pied-de-coq, pé de galo na tradução literal.

Este xadrez clássico está associado ao chique e volta sempre à moda inspirado na elegância francesa.

Xadrez Vichy (ou Buffalo)


Nome de uma cidade balneário na França, famosa por ser o centro de produção de tecidos axadrezados (em quadrados grandes e pequenos) com duas cores contrastando.

É o típico xadrez de toalhas de mesa das cantinas italianas. Nos Estados Unidos é chamado de "buffalo".

Entrou na moda no corpo de Brigitte Bardot ao posar com biquíni nesta estampa e também no vestido que casou em 1959 com Jacques Charrier, que foi imediatamente copiado em todo mundo.

Usado como marca registrada de uma rede popular de lojas francesas, a Tati, o xadrez acabou nos desenhos do estilista Azzedine Aläia nos anos 1980, influenciando a moda até hoje.

Xadrez Madras


Padrão xadrez originário da cidade de Madras na Índia, usada pelos pescadores.

Se caracteriza pelo desenho irregular, misturando listras horizontais e verticais de várias espessuras e cores vibrantes como o pink, açafrão, azulão, roxo e laranja.

Foi muito utilizado no século Dezenove em lenços e xales.

Nos anos 1970 estampou saias longas e batas com fio metálico na composição. Este é um xadrez que se presta para qualquer formato de roupa.

Xadrez Argyle


Argile é um desenho com padrão de losangos multicoloridos, inspirados no Tartã do clã escocês Argyle.

Era um padrão clássico para suéteres e meias masculinas, até a moda descobrir o potencial da estampa para outras peças do vestuário.

Foi febre nos anos 1930 e por um bom tempo congelou no clássico. A moda recuperou o desenho e hoje tanto pode estampar um tricô formal, como aceitar interferências bem radicais.

Por ter um desenho discreto, em formato geométrico que cria linhas diagonais, a estampa Argyle veste bem qualquer corpo.

Xadrez Burberry


Um dos tartans mais famosos do mundo da moda é o da Burberry, com mais de oitenta anos de existência como marca registrada.

Criada em 1856 por Thomas Burberry, a Burberry alcançou reconhecimento inicial com o clássico trench coat.

Apesar de Thomas Burberry ter desenhado o trech coat em 1901, foi a beleza do seu forro que tornou esse item um ícone da Burberry, que apareceu nas peças da grife em 1924.

Fazendo uma apropriação cuidada e trabalhada da tradição escocesa de tartans, Thomas Burberry conseguiu universalizar um xadrez em tons de bege, vermelho, preto e branco que se tornaria icônico.

Sua popularização se consolidaria após a segunda metade do século vinte, fazendo do estampado xadrez da Burberry um dos mais reconhecidos e populares do mundo.

Xadrez Príncipe de Gales


Essa variação de padronagem xadrez tem seu nome relacionado a Eduardo VII, que quando príncipe de Gales introduziu esse tipo de xadrez na moda.

Em sua origem era obtido pela trama dos fios de lã nos teares, permanecendo durante muito tempo como um desenho exclusivo da moda masculina, no entanto, hoje veste homens e mulheres.

Ele é formado por diversas linhas muito finas horizontais que se cruzam com a mesma quantidade de riscas verticais formando um padrão xadrez melhor percebido de certa distância.

A textura é perfeita para quem quer passar um ar sofisticado.

Por outro lado, basta calçar um par de tênis para quebrar a seriedade.

Também conhecido como Glen Check, a padronagem xadrez de Príncipe de Gales é marcada pela seleção de cores clássicas e neutras como o marrom, bege, cinza e preto, apresentada com riscas irregulares e muitas vezes quase imperceptíveis, originando peças extremamente elegantes, sendo comumente empregado no ramo da alfaiataria.

O grande responsável pela volta dessa padronagem foi o estilista russo Demma Gvasalia, quando assumiu o cargo de direção criativa da Balenciaga. 

O seu debut foi marcado por blazers, casacos oversized e alfaiataria apurada, que resultou numa coleção cool e moderna.

Sua origem é escocesa, vindo do vale do Glen Urquhart em Inverness-shire e foi disseminado na Inglaterra pelo então Príncipe de Gales (título dado ao filho mais velho do Rei ou Rainha da Inglaterra), Edward VII.

Foi usado inicialmente pela Condessa Seafield para vestir seus guarda-caças, no início do século XIX. 

O nome desta padronagem varia em alguns países; na Inglaterra é conhecido como Glen Check, na França e em Portugal como Prince de Galle, e na Áustria, por exemplo, é chamado de Esterhazy.

Xadrez Damier


É o famoso xadrez de Louis Vuitton, que lembra uma tábua de jogo de damas, usado em bolsas e malas da marca.

Apesar de ser o símbolo da casa LV, este xadrez não pode ser patenteado pela empresa, já que mesmo que o motivo damier da Vuitton tenha sido estabelecido ao longo do tempo como caracterizador de referência para a marca francesa, o motivo de xadrez é uma figura que sempre existiu.

Curiosamente, a patente do damier de quadrados em bege e marrom foi arquivada apenas em 1998 e a do motivo em preto e cinza em 2008, embora tenha sido usado desde o nascimento da marca, o que ocorreu em 1889. 



*Xico Gonçalves, é de Porto Alegre, formado em jornalismo e desde os anos 1970 circula em todos os cenários do segmento moda. Quando foi entrevistado por Jô Soares em 2014, foi apresentado como “especialista em moda”. Leia Mais sobre o autor...

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