Conceito de envelhecimento mudou muito em mulheres de 40, 50 e 60 anos

DO TEXTO: As pessoas, principalmente as mulheres, sentem-se jovens e ativas, mesmo com o avanço da idade.

O conceito de envelhecimento mudou muito nos últimos anos, com mulheres de 40, 50 e 60 com aspecto físico impecável, o que dá uma sensação de que todo o corpo acompanhou essa juventude, mas o sistema reprodutivo feminino não dá margem a negociações: após 35 anos, é cada ano mais difícil engravidar


O conceito de envelhecimento mudou muito nos últimos anos, com mulheres de 40, 50 e 60 com aspecto físico impecável, o que dá uma sensação de que todo o corpo acompanhou essa juventude, mas o sistema reprodutivo feminino não dá margem a negociações: após 35 anos, é cada ano mais difícil engravidar

São Paulo – 28/07/2022 - Quem teve a sorte de viver o final do século passado, até os dias atuais, acompanhou uma verdadeira revolução do pensamento no que se refere ao conceito de envelhecimento. Antes, queríamos frear o tempo para não chegar nos temíveis 30 anos. Hoje, com 50 anos estamos no auge da juventude! Mas essa percepção e sensação de ‘rejuvenescimento’ infelizmente esconde um envelhecimento silencioso nas mulheres: o da capacidade reprodutiva. “O conceito de envelhecimento e longevidade é bastante diferente do que víamos a anos atrás e compararmos com algumas décadas estamos diante de uma mudança abissal. Vemos pelo próprio aspecto físico e pela qualidade de vida de várias mulheres e homens que hoje chegam nos seus 50, 60 anos com uma aparência impecável, são bem cuidados, estão bem de saúde, têm boa alimentação, fazem atividade física, não são obesos, tudo isso melhora muito a longevidade, não só na questão de viver mais, mas de viver com qualidade de vida. Isso não é verdade, infelizmente, para o sistema reprodutivo, principalmente feminino. Conseguimos viver e com qualidade por muito mais tempo, mas os estoques de óvulos dos ovários continuam diminuindo gradualmente após os 35 anos e de forma abrupta aos 40 anos. Então a mulher ainda vai viver quase que a metade da vida dela, depois disso, sem engravidar com os próprios óvulos e isso tem sido uma questão bastante preocupante”, destaca o Dr. Fernando Prado*, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), diretor clínico da Neo Vita e Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Abaixo, o especialista conta em detalhes tudo que está relacionado a essa mudança de valores e percepções, mas também dá dicas de como a mulher pode preservar a sua fertilidade por meio do congelamento de óvulos – a melhor estratégia para ter filhos de forma segura após os 40 anos.

1) O conceito de ‘envelhecimento’ mudou muito nos últimos tempos. As pessoas, principalmente as mulheres, sentem-se jovens e ativas, mesmo com o avanço da idade. O envelhecimento do sistema reprodutivo acompanha essa ‘mudança de conceito’?

FERNANDO PRADO: Infelizmente, isso não é verdade para o sistema reprodutivo, porque geneticamente nós fomos programados para não viver muito tempo. Se pensarmos em 100, 150, 200 anos atrás, qual era a idade média que as pessoas morriam? Era incomum atingir 50, 60 anos ou até menos se voltarmos um pouco mais no tempo. Então não tinha sentido uma mulher engravidar após os 40, porque a criança ficaria órfã e não ia ter quem cuidasse. Só que aconteceram todas essas evoluções que vimos nas últimas décadas e foram várias, desde saneamento básico, vacinas, antibióticos, medicações, enfim, tudo isso que consegue fazer com que a vida se prolongue e tenha qualidade por muito mais tempo, mas os estoques dos ovários continuam acabando ao redor dos 40, 50 anos.

2) A idade aparente da mulher, então, não influencia em nada o envelhecimento do ovário?

A idade aparente da mulher infelizmente não tem relação com a idade real, cronológica, dos ovários. Então mesmo que uma mulher que tenha 40 anos, esteja muito bem fisicamente, aparente ter 30 anos, 25 anos, ou se pensarmos em mulheres com 50 anos que aparentem ter 35, 40, o ovário, infelizmente, vai ter a idade cronológica dela, tanto no número quanto, principalmente, na qualidade dos óvulos. E sabemos que após os 35 anos essa qualidade começa a cair bastante, a quantidade também, mas especialmente a qualidade é muito impactada com o avanço da idade da mulher.

3) Mesmo que a mulher se cuide, tenha uma boa alimentação, faça exercícios físicos, existe uma idade certa em que ela terá queda das taxas de fertilidade?

Sim, mesmo para mulheres que se cuidam, se alimentam bem, que fazem atividade física, que não fumam, que não são obesas, para qualquer situação de saúde, bem-estar, qualidade de vida, infelizmente os ovários vão ter os danos causados pela idade. É lógico que quanto melhor a qualidade de vida dessa mulher, mais lento é esse processo. Mas a gente observa que especialmente após os 35 e depois dos 40 anos a qualidade dos óvulos cai muito rapidamente.

4) Essa mudança de pensamento também teve relação com a ascensão da mulher no mercado de trabalho, correto? O que seria o ideal, então, para as mulheres que ainda não querem ter filhos, pois estão no auge da carreira, mas não descartam engravidar no futuro?

Entre as mudanças sociais que vimos principalmente após a metade do século passado, uma delas é a ascensão da mulher no mercado de trabalho. Hoje, observamos mulheres em vários postos de liderança: são presidentes de empresas, CEOs, grandes executivas, presidentas, primeiras-ministras, enfim, as mulheres adquiriram o seu espaço merecido na sociedade. Só que, em contrapartida, isso teve um peso social também na formação da família, porque a mulher foi obrigada a fazer escolhas, principalmente postergando os planos de aumentar a família, normalmente até os 35 ou após os 40, que é exatamente o tempo que ela vai demorar para atingir a estabilidade, tanto familiar de ter um relacionamento estável, quanto financeira e profissional; e é muito difícil que tudo isso aconteça antes dos 35, 40 anos. Então, quando a mulher atinge essas estabilidades, e decide engravidar, já não é mais o melhor momento dos ovários dela, então precisamos revolucionar de alguma forma essa história toda. Entra em cena o que eu chamo de segunda revolução feminista. A primeira revolução feminista foi o surgimento da pílula anticoncepcional, lá em meados do século passado. Com a pílula anticoncepcional, a mulher poderia escolher quando não engravidar. E agora a segunda revolução feminista permite outra opção: com o congelamento de óvulos, a mulher agora pode escolher quando ela quer engravidar. Ela não precisa mais ter esse dilema, essa dicotomia, de ter que escolher se vai seguir a carreira profissional ou se vai formar família. A mulher pode ter as duas coisas. Ela pode deixar os óvulos congelados, preservar a fertilidade, enquanto adquire essa estabilidade financeira, afetiva e de carreira. Depois, quando tudo isso tiver estabelecido, ela pode resgatar aqueles óvulos que estavam congelados e engravidar e formar família um pouco mais tarde, com as mesmas chances de engravidar de quando ela tinha 25, 30 anos.

5) O que envolve a preservação da fertilidade?

A preservação da fertilidade envolve vários aspectos, desde a questão social, psicológica, do empoderamento feminino, se a gente for entrar no campo sociológico e fazer uma análise mais ampla da história toda. Mas se nos limitarmos a questões médicas, a preservação da fertilidade é um tratamento bastante efetivo hoje, não é mais considerado experimental. Chamamos de congelamento social de óvulos e essa preservação garante que a mulher possa usar esses óvulos em um futuro próximo, quando ela já tiver garantida na sua estabilidade financeira, afetiva, profissional, e que ela não precise mais ficar nessa escolhe entre carreira e família.

6) Como é o processo de congelamento de óvulos?

O processo de congelamento de óvulos é relativamente simples. São necessários, inicialmente, alguns exames ginecológicos, papanicolau, ultrassom de mamas, ultrassom transvaginal e sorologias (para pesquisa de doenças infecciosas). Se tudo estiver normal, não houver nenhuma contraindicação para que a mulher use os hormônios, ela vai estimular a ovulação para que sejam resgatados alguns óvulos que ela já ia perder. Então naquele ciclo menstrual em vez de a mulher ter um óvulo só, com a estimulação por meio dos hormônios, ela vai ter 10, 12, 15, depende da reserva ovariana dela. E esse período dura mais ou menos 10 a 12 dias fazendo a indução da ovulação. Quando chega no tamanho certo que queremos dos óvulos, e isso é medido pelo ultrassom, agendamos a retirada dos óvulos com um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, feito com sedação. Não existe ponto, não tem cicatriz, não existe corte, porque é feito tudo por via vaginal, através de um ultrassom transvaginal; é um processo relativamente simples e relativamente rápido, em questão de 15 a 20 dias está pronto.

7) Que custos estão envolvidos nisso?

Existem alguns custos, uma parte deles os planos de saúde e as seguradoras cobrem, que são exames, mas uma outra parte infelizmente ainda não tem cobertura, nem pelo SUS, nem pelas seguradoras de saúde, que são os hormônios que a mulher vai usar para fazer a estimulação da ovulação, o material do laboratório de fertilização in vitro, os honorários médicos e os custos do congelamento e armazenamento dos gametas, ou seja, dos óvulos.

8) Até que idade ela pode descongelar o óvulo e ter uma gravidez segura?

Não há uma idade exata para que a mulher use os óvulos congelados. Em tese, se ela tiver uma boa saúde, pode engravidar até com bastante idade. Porém, recomendamos que a mulher use os óvulos antes dos 50 anos. Porque após essa idade, os riscos para a gravidez acabam sendo grandes, principalmente por conta de ter pressão alta, diabetes gestacional e parto prematuro. Os riscos para a saúde da mãe acabam sendo maiores e consequentemente afetam o desenrolar da gestação, com riscos também para o recém-nascido. É recomendado que a mulher congele os óvulos, mas que use antes dos 50 anos.

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*DR. FERNANDO PRADO: Médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Whatsapp Neo Vita: 11 5052-1000 / Instagram: @neovita.br / Youtube: Neo Vita - Reprodução Humana.

 


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