CCB | Enoch Arden – Richard Strauss > Recital de voz e piano com Nuno Vieira de Almeida e Rita Blanco - 14/11

DO TEXTO: Recital de voz e piano com Nuno Vieira de Almeida e Rita Blanco, dia 14/11, no CCB Lisboa.
Enoch Arden – Richard Strauss no CCB Lisboa: Enoch Arden é um dos mais longos melodramas existentes e um dos mais bem construídos. A temática remete-nos a Ulisses e Robinson Crusoe, mas a melancolia do marinheiro que perde e reencontra a família de novo formada, julgando-o morto, é totalmente romântica e encontra a sua confirmação genial na música de Strauss.


Enoch Arden é um dos mais longos melodramas existentes e um dos mais bem construídos.


CCB . 14 de novembro . domingo . 17h00 . Pequeno Auditório


Programa

Richard Strauss (1864-1949)

Enoch Arden – melodrama para narrador e piano sobre poema de Tennyson

(tradução de Vítor Moura)

Basicamente a definição de melodrama refere uma obra, ou parte dela, em que o texto é declamado sobre música. Apesar de algumas óperas terem momentos de melodrama – Fidelio ou A mulher sem sombra, por exemplo – diversos compositores dedicaram a esta prática musical obras inteiras

Strauss compõe em 1896/97 sobre texto de Tennyson o melodrama Enoch Arden, para voz e piano. A obra situa-se entre os poemas sinfónicos Assim falava Zaratustra de 1896, e D. Quixote de 1897 e, como estes, pode considerar-se já uma obra de maturidade para um compositor com 33 anos que tinha ainda uma longa e criativa carreira à sua frente. Foi com Enoch Arden que Strauss obteve na altura um sucesso retumbante, ainda maior do que o conseguido com os poemas sinfónicos, tendo efectuado inúmeras digressões com o seu dedicatário, Ernst von Possart, actor e director teatral.

Enoch Arden é um dos mais longos melodramas existentes e um dos mais bem construídos. A temática remete-nos a Ulisses e Robinson Crusoe, mas a melancolia do marinheiro que perde e reencontra a família de novo formada, julgando-o morto, é totalmente romântica e encontra a sua confirmação genial na música de Strauss. O piano dá a chave, por assim dizer, a muitíssima coisa no texto, tornando-se um parceiro indispensável à leitura. Cada personagem tem musicalmente o seu «motivo conductor» e o entrosamento dos vários temas, tratado com uma modernidade romântica (uso o choque de conceitos propositadamente) típica do compositor, acaba por apontar o caminho a muitas obras cénicas tardias. Trata-se realmente de uma obra-prima.

Uma problemática interessante que distingue de forma óbvia a diferença entre a palavra dita e a palavra cantada é que, no primeiro caso, o compositor trata apenas de clarificar o significado do texto segundo a sua leitura pessoal, ouvida na parte instrumental, sem compor tendo em conta directa a sonoridade da língua, como acontece invariavelmente nos textos cantados. Isso dá ao actor e ao pianista uma responsabilidade acrescida, uma vez que a música que ilustra o texto fornece a indicação segura do tipo de leitura pretendida, permitindo simultaneamente que este seja proferido na língua do país em que é interpretado sem «quase» causar dano à leitura feita pelo compositor.

Não admira por isso que Enoch Arden tenha sido abordado por um grande número de declamadores (entre actores e cantores) tão famosos quanto Claude Rains, Bruno Ganz ou Jon Vickers e Dietrich Fischer-Dieskau, que o interpretaram no original inglês e na tradução alemã, e pianistas como Glenn Gould, Emanuel Ax ou Wolfram Rieger.

A obra nunca foi ouvida em Portugal e cabe-nos a nós, a mim à Rita Blanco, a honra e a alegria de finalmente a estrear na tradução portuguesa de Vítor Moura. Como se costuma dizer: «Já não era sem tempo!» – Nuno Vieira de Almeida


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