Walter Firmo, dos 82 anos de nascimento, há quase 65 contribui - e muito - com seu olhar para a Fotografia. Conhecido como “Mestre das Cores”, Firmo viu sua fotografia nascer no preto-e-branco. Nascimento que se deu no Jornal Última Hora ainda em 1955. Os “pais” de seu olhar foram Henri Cartier-Bresson, Andre Kertesz, Robert Doisneau e Elliott Erwitt e é a estes 4 que faz referência em sua nova série de fotos, não a tôa toda capturada com filme PB e em Paris, e que estará em exposição a partir do dia 29 de junho na Galeria Indoor.
Aos 81 anos ele passou mais de 1 mês em Paris. Sua missão era aproveitar a lua-de-mel. Mas ele teve mais companhia. Levou 2 câmeras analógicas e, inspirado pelo amor, flanou pela cidade berço da fotografia somente com filmes em preto-e-branco. “A cor é a banda de música, uma zoadeira. O PB é uma sutileza, mais dos sentidos”
A exposição Reinventando Firmo será a primeira do artista em muitos anos com inéditas. A série de Paris ocupa metade da Galeria Indoor, dividindo espaço com os clássicos retratos coloridos que deram fama mundial a Firmo, reconhecido em diversas listas como um dos maiores fotógrafos do mundo. Todas as impressões da exposição são feitas por seu impressor oficial (Marco Araújo) em papel de algodão autenticado e tamanho 60 x 40cm. Além dos quadros, há ainda uma série de quatro caixas temáticas que reúnem em tamanho A5 imagens emblemáticas de Firmo sob os títulos Amor, Sombras, Samba e Diferentemente.
Na exposição o visitante reconhece imagens de um Brasil que Firmo ajudou a forjar com seus registros, mas também faz um passeio no melhor estilo flâneur por uma Paris que em tudo nos parece conhecida, e no entanto é apresentada com o frescor da descoberta, seja por causa do belo uso de contrastes em preto e branco, seja pela forma natural com a qual Firmo apreende cada cena. Ele eleva o que se consideraria cliché através de cenas inesperadas e beleza arquitetônica como só um artista de alto nível poderia fazer.
Walter Firmo diz que “o fotógrafo que envereda e transita pelo fotojornalismo durante algum tempo estará muito melhor armado para, se quiser, construir um trabalho pessoal”. A maneira nova de ver o fotojornalismo lhe rendeu alguns olhares tortos por parte de colegas no começo da carreira. Chegaram a lhe dizer que ele “fazia um desserviço à verdade jornalística”, por manipular as emoções dos leitores.Mas também por isso ele foi sendo requisitado pelos repórteres. “Eu mostrava uma outra vertente, uma outra verdade. A verdade nunca é uma só”.
A exposição Reinventando Firmo vem mostrar esse renascimento do fotógrafo e do homem. E não há ninguém melhor para contar essa história do que o próprio Walter, que estará presente nos dias de portas abertas. A curadoria e a produção são da Rococó Clean.
Walter Firmo:
Aos 26 anos Walter ganhou o Prêmio Esso com uma reportagem sobre o Rio Amazonas sugerida por ele, influenciado pela origem de seu pai, nascido “numa das palafitas à margem direita do rio.” Ele fez as fotos e o texto da matéria, e o prêmio foi o reconhecimento pela história ali contada.
O “poeta das lentes” e “mestre das cores” usa a influência que ele já confessou ter recebido das pinturas impressionistas para retratar como poucos as culturas brasileiras. Através de uma combinação de cores sem igual foi um dos primeiros a se aprofundar na realidade do negro no Brasil. No trabalho, nas festas populares e em rituais religiosos.
Outra grande influência em sua fotografia vem da sétima arte. No entanto ele foge do controle de um estúdio e corre em busca da vida real, sem domínio da situação e sem luzes artificiais. O que não o impede de dirigir certas cenas. É o caso de um de seus retratos mais famosos, feito para a Revista Manchete, com Pixinguinha sentado em uma cadeira. Tudo ali foi planejado. O local, o olhar para cima do músico, o enquadramento das flores, a posição do saxofone... tudo dirigido por Firmo.
Esse é apenas um dos retratos do que talvez seja sua faceta mais reconhecida. Muitos foram os músicos retratados por Firmo em uma época de efervecência da música brasileira. Todos os grandes nomes do samba e da MPB já passaram por suas lentes. “Cartola nunca me negou uma foto. Eu pedia e ele fazia”
“Trabalhar com a luz, com as vertentes de sedução, fez com que eu adotasse na minha fotografia sempre a questão da estética. Ficou muito claro em mim que a fotografia não era um flagrante, mesmo no fotojornalismo. Ela era sempre endossada pela questão da estética”
A maior qualidade do trabalho de um grande fotógrafo está na subjetividade. E Firmo alcançou a sua após transpassar a objetividade jornalística, no encontro de sua sensibilidade. Não é por acaso que outros grandes nomes como Araquém Alcântara, Arlindo Machado, Sérgio Cabral e Joaquim Ferreira dos Santos se referem a ele como “poeta” em depoimentos.
Galeria Indoor:
Localizada no bairro do Flamengo a Galeria Indoor traz para o Rio de Janeiro desde novembro de 2018 um novo conceito que tem tomado força internacionalmente. Unimos a estrutura física, curatorial e comercial de uma galeria de arte ao conforto e à pessoalidade que só um lar pode proporcionar.
Todas as obras expostas na Galeria Indoor estão à venda. Eventos de portas abertas acontecem sempre na abertura e encerramento das exposições, além de algumas outras datas agendadas pelos organizadores. Fora isso, as visitas devem ser agendadas pelo telefone: (21) 99638-0418.
A curadoria das exposições é da produtora cultural Rococó Clean e as impressões ficam a cargo de M.A. Impressão Fine Art. Os eventos e artistas representados pela Galeria Indoor são divulgados em sua página no Facebook e no perfil no Instagram.
Depoimentos - Firmo sob outras lentes:
“O que me fascina no Firmo é a humanidade explosiva que verte de suas imagens, o humor e a ironia, a cor e a luz em perfeita comunhão. O meu amigo fabrica epifanias com a naturalidade de um bebê. Firmo é história, fonte inspiradora, poeta maior.”
Araquém Alcântara
“Suas fotografias não falam de fotografia, não têm efeitos mirabolantes nem filigranas de estilo. Vão direto ao assunto. São um libelo contra a pressa e a vulgaridade. Guiados por seu olhar singular e delicado revisitamos um Brasil mítico que parece não existir mais; suas imagens nos convidam a passear pela nobreza e elegância da raça negra, onde Firmo desfila seu reflexo sem cair no folclorismo exótico e na pieguice tão comuns a essas incursões”.
Bob Wolfeson
“Walter Firmo é o melhor fotógrafo da alma ingênua nacional. Com o olhar sempre poético e respeitoso, ele fez o foco definitivo sobre o que alguém, em algum hino do passado, chamou de brava gente brasileira.”
Joaquim Ferreira dos Santos
“Firmo estaria bem à mesa com Pixinguinha e Matisse, Robert Doisneau e Paulinho da Viola, Mano Décio da Viola e Helmut Newton. (...) Suas verdades elevam e encorajam, em vez de abater e deprimir. Ele processa e digere um enorme repertório de formas e estilos, assim como o povo brasileiro.”
Cláudio Bojunga
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