Eu sempre digo que o mundo é pequeno

DO TEXTO:

Volto a insistir, de forma clara e inequívoca, que o mundo é pequeno. Quando menos se espera, surge-nos algo porque passamos em tempos mais longínquos, por exemplo. E este tem mesmo a ver com o Brasil. Vejamos: no início de 1967, chegou Luanda uma armada brasileira, composta por um porta-aviões, corvetas e destróieres. Num total de seis navios que, durante três dias, estiveram ancorados no porto da capital angolana. Porque, realmente, Angola sempre se identificou com o Brasil (ainda se mantém essa relação), várias manifestações em Luanda de carinho para com os componentes da armada brasileira. Inclusive, um jogo de futebol entre a seleção dos brasileiros e das forças armadas portuguesas (Angola ainda era nossa), jogo que foi por mim dirigido e que se saldou por um empate a zero bolas. À noite, uma recepção a bordo da maior corveta. A dada altura, e após o jantar, um dos militares brasileiros (jogador) questionou-me pelo fato de eu não ter marcado uma grande penalidade a favor deles. Respondi, com uma pontinha de ironia: saiba o meu amigo que eu sou militar e, por conseguinte, para que tudo acabasse em bem, fiz vista grossa. Ele riu que se fartou.

Volvidos muitos anos (dois após ter chegado ao Brasil), conheci um amigo em Niterói e, numa das habituais cavaqueiras no café frequentador, falamos de Angola, do serviço militar, enfim, um recuo ao passado. A dado momento toquei no assunto, isto é, sobre a armada brasileira que tinha estado em Angola no início de 1967. Notei nos olhos do cidadão um enorme brilho de alegria. E teve motivos para isso. O cidadão em questão, paradoxal que possa parecer, fez parte daquela armada na qualidade de mecânico de um dos destróieres e também esteve no Estádio dos Coqueiros a puxar pela sua seleção. Inevitavelmente, meteu a sua farpa, depois de eu lhe ter contado que tinha sido o juiz do jogo: você não marcou um pênalti (escrito à-brasileira) contra a seleção dos militares portugueses. E foi mais além: eu lembro-me bem de tudo o que se passou. E lá tive que repetir a mesma frase de há anos atrás: para que tudo acabasse bem, fiz vista grossa. O cidadão desatou a rir e proferiu aquela velha frase brasileira: valeu!

Nunca mais soube deste cidadão, ou seja, se ainda continua no rol dos vivos. E digo isso porque, diariamente, e segundo ele próprio me confidenciou, abusava da cachaça. Não é água não!


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