Autor de “OsO escritor Euclydes da Cunha - Arquivo ABL/Divulgação
João Perassolo
São Paulo
Autor de “Os Sertões”, um dos livros mais importantes sobre a formação do Brasil, a respeito da revolta de Canudos, Euclydes da Cunha (1866-1912) é o autor homenageado da Flip 2019.
“Ele é um grande escritor e ‘Os Sertões’ é uma obra de não-ficção de altíssimo valor literário”, justifica a curadora do evento, Fernanda Diamant.
Ela explica que a ideia de colocar o jornalista carioca como destaque do maior evento literário do país se deve ao fato de parte de sua produção ser de não-ficção, que será a tônica da 17ª edição da festa de Paraty, entre 10 e 14 de julho do ano que vem.
“Os Sertões” foi publicado em 1902, e é fruto da cobertura jornalística que Euclydes da Cunha realizou para o jornal O Estado de S. Paulo da guerra de Canudos, no sertão da Bahia, alguns anos antes da virada para o século 20.
O conflito, instaurado em uma monarquia recém-tornada república, opôs um grupo de sertanejos pobres liderados pelo peregrino Antônio Conselheiro ao exército enviado pelo governo para defender interesses de grandes fazendeiros da região, apoiados pela Igreja. Embora vitorioso, “o exército saiu moralmente derrotado”, afirma Diamant.
“Os Sertões” explora a influencia do meio sobre o homem na procura de uma identidade nacional. “O livro é uma obra jornalística que traz assuntos que estamos debatendo hoje, mas de outro lugar na história. Por exemplo, conflitos sociais, regimes políticos, a própria formação do país. Também abre a possibilidade de falarmos de jornalismo e de notícia, muito importantes nesse momento”, completa a curadora.
Editora da revista literária Quatro Cinco Um ao lado do jornalista Paulo Werneck, Diamant conta que seu interesse pelo autor começou quando ela viu as encenações que o Teatro Oficina realizou a partir de “Os Sertões”, em meados dos anos 2000. O grupo de Zé Celso transformou as três partes do livro —“A Terra”, “O Homem” e a “A Luta”— em cinco espetáculos, totalizando 26 horas.
Este não deve ser o único texto do escritor em debate. Segundo a curadora, escritos sobre a Amazônia e outras reportagens para jornal farão parte das mesas de programação.
Fernanda Diamant, 38, assume a curadoria da programação principal Festa Literária Internacional de Paraty no lugar da jornalista baiana Joselia Aguiar, que ocupou o posto nas últimas duas edições. Desta vez, os debates se voltarão aos vários gêneros de não ficção, como obras memorialísticas, históricas e científicas, além de biografias e autobiografias.
Em entrevista para a Folha quando foi anunciada como curadora, afirmou: “A não-ficção fica mais tempo na boca depois que você assiste a um debate. Ela muitas vezes tem uma coisa mais para fora do que o exercício da ficção”.
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