Epidemia de alergia após uso de unhas artificiais em gel e acrílico preocupa dermatologistas

DO TEXTO:

Associação Britânica de Dermatologistas emitiu alerta de que produtos químicos acrílicos, os principais ingredientes em unhas de acrílico, unhas de gel e unhas de polimento de gel, estão causando uma epidemia de alergia de contato no Reino Unido e na Irlanda. No Brasil, casos também aumentaram

São Paulo — 25/09/2018 - Produtos químicos metacrílicos, os principais ingredientes utilizados em unhas de acrílico, unhas de gel e unhas de polimento de gel, estão causando uma epidemia de alergia de contato no Reino Unido e na Irlanda, segundo comunicado da Associação Britânica de Dermatologistas após estudos e aumento de casos. 

A onda de alongar as unhas faz sucesso no Brasil e as alergias, por aqui, também aumentaram, segundo a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia: “Nem todas as pessoas podem usar as unhas postiças: há pessoas com doenças na pele ou nas unhas que não devem usar. Por exemplo: alérgicos aos componentes do adesivo, pessoas com a pele sensível, com psoríase da unha e infecção devem evitar, pois o trauma pode piorar a doença da pele e unhas. Além disso, todas as formas de alongamento trazem algum dano à unha original.” 

As reações alérgicas podem envolver o afrouxamento das unhas ou uma vermelhidão com comichão, não apenas nas pontas dos dedos, mas potencialmente em qualquer parte do corpo que tenha entrado em contato com as unhas, incluindo as pálpebras, face, pescoço e região genital. Muito raramente, podem ocorrer sintomas como problemas respiratórios.

De acordo com a dermatologista, é muito importante que as pessoas saibam que podem desenvolver alergias de unhas artificiais. “A verdade é que muitas mulheres sofrem com essas alergias que permanecem sem diagnóstico, porque elas podem não vincular seus sintomas às unhas, especialmente se os sintomas ocorrerem em outras partes do corpo. 

É importante que eles obtenham um diagnóstico para que possam evitar o alérgeno, mas também porque o desenvolvimento de uma alergia a esses produtos químicos pode ter consequências ao longo da vida para tratamentos odontológicos e cirurgias onde dispositivos contendo esses alérgenos são de uso comum”, afirma a médica.

 “Um quadro muito comum e involuntário é levarmos a unha ao rosto e muitas vezes às pálpebras, pescoço, à área da mandíbula e a consequência é a sensibilização destas regiões. As pessoas acabam achando que a razão é o perfume, o uso de cosméticos locais, mas na verdade são as unhas que provocam a sensibilidade, pois as levamos inúmeras vezes ao rosto sem percebermos e acabamos causando este quadro de hipersensibilidade à distância. É realmente uma preocupação hoje. Há pacientes que fazem uso contínuo dessa técnica e acabam tendo uma perda enorme da espessura da unha”, diz a dermatologista.

Hoje em dia, segundo a médica, as jovens e mesmo as profissionais que precisam estar o tempo todo com as unhas em ordem e as que viajam muito, acabam adotando as unhas em gel e as de acrílico, porque são mais simples de manter. “Por conta disso, começamos a perceber uma quantidade muito maior de casos de hipersensibilidade por reação cruzada a outras substâncias e além disso, alergias, não só na matriz da unha, que se torna ressecada, mas também na cutícula, que acaba ficando toda talhada. Também pode ocorrer um edema (inchaço) e eritema (rosa avermelhado) ao redor da unha”, afirma.

A Associação Britânica baseou-se em um estudo que descobriu que 2,4% das pessoas testadas tinham alergia a pelo menos um tipo de químico metacrilato. O estudo da Associação analisou três tipos principais de aprimoramentos de unhas contendo metacrilatos: unhas de gel, unhas acrílicas e com polimento de gel. 

“Unhas de gel são derivadas de metacrilatos que podem ser aplicadas sobre a unha natural ou usadas para esculpir extensões. O gel precisa ser endurecido sob uma lâmpada UV (ultravioleta). Não pode ser removido por imersão e deve ser cortado da unha”, explica. 

As unhas acrílicas são misturadas no salão; a pasta é aplicada sobre uma unha natural ou usada para criar comprimento adicionando pontas. Após isso, elas endurecem com a exposição do ar. As unhas acrílicas são recomendadas para serem removidas por imersão em acetona. 

“Já as unhas de polimento de gel, ou gel polonês, têm se tornando o mais popular das três opções, é um produto pré-misturado e um híbrido de verniz de gel e unhas. Tem uma consistência semelhante ao esmalte e é aplicado de forma semelhante. Uma vez aplicado, também requer endurecimento com o uso de uma lâmpada UV. E deve ser removido por imersão em acetona”, diz.

As preocupações foram levantadas sobre as três opções, mesmo que aplicadas profissionalmente. Quando os produtos entram em contato com qualquer parte da pele pode ocorrer a sensibilização aos produtos químicos. Isso é muito provável quando as pessoas aplicam um produto por elas mesmas com kits caseiros ou aplicadas com profissionais sem treinamento suficiente. “É necessário ser extremamente cauteloso com kits caseiros, que podem aumentar o risco do paciente desenvolver uma alergia”, explica a médica.

De acordo com o estudo, o risco é particularmente alto para manicures, esteticistas e outros profissionais que trabalham com aprimoramentos de unhas. “Usar luvas de proteção não é suficiente, pois os metacrilatos passam diretamente através de muitos tipos de luvas. Os proprietários de salões precisam considerar o nível de treinamento que oferecem aos funcionários nessa área. 

Uma precaução importante é usar luvas de nitrilo que são substituídas e descartadas a cada 30 minutos e removidas com uma técnica 'sem toque'. Os metacrilatos devem ser mantidos longe de todo contato direto com a pele. O treinamento também precisa reduzir as chances de iniciar uma alergia em seus clientes”, afirma a Associação.

Por fim, a dermatologista Dra. Claudia lembra que as unhas que contêm acrilato também podem causar danos físicos às unhas e cutículas quando elas são removidas, seja por polimento, raspagem ou imersão em acetona. “Nunca retirar o material sozinha pois pode danificar ainda mais, então procure um profissional habilitado. Procure sempre um dermatologista caso perceba alguma alteração ou alergia”, finaliza.

Fonte: DRA. CLAUDIA MARÇAL - É médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). É speaker Internacional da Lumenis, maior fabricante de equipamentos médicos a laser do mundo; e palestrante da Dermatologic Aesthetic Surgery International League (DASIL). Possui especialização pela AMB e Continuing Medical Education na Harvard Medical School. É proprietária do Espaço Cariz, em Campinas - SP.


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