Dois Séculos de Vida Operária > Mais que uma biografia, uma historia de vida
AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO – ANOS 50
Nos anos 50, a Usina da Belgo foi ampliada e modernizada, passando a ocupar importante espaço na produção de aço no País.
O crescimento da usina encontrava-se diretamente associado ao desenvolvimento de João Monlevade, que, apesar de estar ligada politicamente ao município de Rio Piracicaba, permaneceria como um núcleo urbano privado, administrado pela companhia até os anos 60.
Economicamente o município sempre viveu da extração de recursos minerais, como o minério de ferro, as pedras preciosas e a produção de aço.
Em 1943, já existiam em Monlevade 600 residências; em 1948, 1440 e em 1952 eram ao todo 2.500 residências, distribuídas em 19 núcleos residenciais.
Também começou a ser construído, a partir do final da década de 40, todo um conjunto obras de infra-estrutura e serviços - redes de água e esgoto, estação de tratamento, abertura, calçamento e iluminação de ruas, rodovias vicinais, centro comercial, escolas, hospitais, hotéis - como o "Cassino" -, clubes, cinema, igreja e muitos outros equipamentos urbanos estruturais e sociais.
Surgem os primeiros hotéis e o majestoso e ostentoso Cassino.
Ao mesmo tempo, a administração sob o comando de Ensch não descurou também da questão do minério de ferro.
💢💢💢
Nota n.º 1 de Bottary: Meus Amigos e Minhas Amigas:
Não poderia deixar de mostrar aqui, a sublime homenagem que foi feita ao magnânimo engenheiro e empreendedor humanista nos negócios da siderurgia, na incipiente João Monlevade, Dr. Louis Ensch. É de justiça lembrar que foi ele um homem de uma nobreza ímpar, cuja capacidade de agregar valor aos seus colaboradores – e era assim que ele tratava com seus funcionários da Belgo-Mineira – mostrando espontaneamente ser alguém muito além de ser alguém que daria valor tão somente aos seus altofornos. Foi mais que um patrão; ele foi um verdadeiro Pai pra todos, nos dizeres populares. Neste contexto gostaria de mostrar, nesta pesquisa, o conteúdo na íntegra dos discursos proferidos nas homenagens que se seguiram no palco do ostentoso Cine Monlevade, no dia 15 de Novembro de 1952.
💢💢💢
BODAS DE PRATA 25º Aniversário Administração do Dr. Louis Ensch
Transcorreu, no mês de novembro de 1952, o vigésimo quinto aniversário da administração do Dr. Louis Ensch, Diretor-Geral da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira.
Desejando comemorar com o merecido destaque a passagem dessa efeméride tão significativa, os seus colaboradores imediatos fizeram realizar diversas solenidades nas Usinas de Siderúrgica e Monlevade, dando ensejo a que todo o pessoal da empresa se associasse às homenagens prestadas ao seu eminente Diretor-Geral.
Para o maior brilhantismo dos festejos, contaram os seus realizadores com a plena solidariedade dos órgãos administrativos da companhia, especialmente dos ilustres componentes da sua Diretoria, senhores: Christiano França Teixeira Guimarães – Presidente; Mário Dias de Castro – Vice-Presidente; Jules Verelst – Diretor-Superintendente; Trajano de Miranda Valverde – Diretor-Primeiro Secretário e Edmundo da Luz Pinto – Diretor-Segundo Secretário.
Fazendo editar o presente álbum que, contendo uma síntese do que foram aquelas festividades, é, ao mesmo tempo, um testemunho do que representa a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira no panorama industrial do Brasil, desejam os seus autores consignar a sua grata e sincera homenagem aos dignos diretores da Companhia que, com a sua esclarecida orientação e valioso apoio, tornaram possível a concretização deste empreendimento.
Discurso pronunciado pelo Dr. Albert Scharlé, em nome do pessoal da Companhia, na sessão solene realizada no Cine Monlevade, em 15 de novembro de 1952:
"Exmo. Sr. Dr. Louis Ensch e Exma. Senhora, Minhas senhoras e meus senhores,
Todos nós, reunidos hoje neste recinto, como integrantes da mesma grande família, cercando carinhosamente a figura do nosso querido chefe, sentimos os corações transbordando da mais legítima e natural alegria, ao festejar as bodas de prata da administração Louis Ensch, cuja vida se identifica com a própria Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira. É, certamente, uma praxe muito louvável e justa, em tal efeméride, voltar os pensamentos ao passado, para relembrar tanto as horas alegres quanto os momentos amargos de tão longa convivência, para melhor apreciação da tarefa realizada. Um quarto de século atrás, em meiados do ano de 1927, estava em jogo o futuro da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira... Com 6 anos de vida infrutífera, acabava ela de acordar de um sono improdutivo de mais de 6 meses, sem nenhuma esperança no porvir. Foi então que os responsáveis pela empresa resolveram fazer uma última tentativa, para salvar a existência de um empreendimento que parecia condenado ao fracasso. Lembraram-se, em boa hora, de um jovem engenheiro, que trabalhava numa das suas usinas na Europa, o qual, apesar de seus 30anos de idade, já havia alcançado o elevado cargo de chefe de serviço, num meio altamente conservador e de grande competição de valores humanos, graças às suas altas qualidades profissionais e ao seu dinamismo invulgar. E, nas mãos decididas deste homem, foi colocado então o destino da Companhia! Assim, numa tarde risonha de 10 de novembro de 1927, apareceu em Sabará, o engenheiro Louis Ensch, credenciado não somente pelo título de novo Diretor da Usina, mas também pela mais alta capacidade técnica e organizadora. O ambiente parecia de todo acolhedor...De um lado, a natureza festejava sua renascença anual, numa sinfonia maravilhosa de cores, e um clima ameno envolvia os sentidos. De outro lado, um punhado de homens devotados ao trabalho apresentava as suas sinceras boas-vindas ao novo chefe. Mas a realidade nua era bem diferente... Lá estava, cercada de altos morros, a pequena usina de Siderúrgica, transformando penosamente, cada dia, umas 20 toneladas de gusa em outras tantas de aço e laminados. Porém, este material destinava-se a ser guardado nos depósitos, porque as fundições e os construtores do País nenhuma confiança tinham nos produtos da siderurgia nacional. Não dispunha a usina da menor garantia para suprimento de combustível ou de outras matérias primas indispensáveis, salvo talvez o minério de ferro, que era rudimentarmente explorado na jazida do Segredo. Para completar este quadro desolador, basta dizer que fora da cerca da usina, não tinha a Empresa – seriamente endividada – um plano de terreno, sendo que o próprio trilho que dava acesso à casa da bomba, nas proximidades do rio, era de propriedade de outros. Como quartel-general, dispunha de um pequeno barracão, pretensiosamente chamado escritório, ao lado do qual o atual escritório provisório de Monlevade é um autêntico palacete. E na realidade, não existia motivo, então, para acomodações mais vastas, porquanto o modesto dirigente, sozinho como se achava, teve de acumular na sua pessoa, todo o peso das funções técnicas, comerciais e administrativas, desde diretor a engenheiro chefe, chefe de serviço e engenheiro assistente, às vezes mesmo contra-mestre... Tal situação desanimadora, no entanto, longe de oprimir o espírito do novo dirigente, provocou nele uma reação criadora, quase como um desafio contra tantas adversidades! À sua tarefa, dedicou-se ele com todo o ardor e entusiasmo próprios da mocidade, seguro de si mesmo, e infundindo nos seus colaboradores a sua própria fé no futuro. Em conseqüência de tal intervenção enérgica e clarividente, ligada ao profundo conhecimento do assunto, não podiam deixar de aparecer os primeiros sintomas de convalescença. Graças a um esforço heróico de todo pessoal, esforço que exigiu, muitas vezes, sacrifícios materiais a até morais, começaram os produtos da usina a conquistar o mercado interno. Foi posto em serviço o novo alto forno; criou-se uma base carbonífera com os próprios recursos e, em meados de 3 anos, estava saneada a situação financeira da Companhia, e evidenciada a razão de sua existência. É de justiça realçar aqui a colaboração dedicada dos operários da usina, os quais, no momento mais crítico, concordaram, num grande espírito de sacrifício, em uma redução de salários, fato inédito na historia da indústria. Para qualificar tal realização, existe só uma palavra, cunhada nos Estados Unidos da América, ao tempo da sua formação ‘PIONEIRO’! Pioneiro da siderurgia no Brasil! Fortificada e em franco desenvolvimento, como se achava, foi com relativa facilidade que a empresa venceu os efeitos desastrosos da crise mundial nos anos de 1930 e 1931. Tendo assim a Companhia suportado, valorosamente, mais esta prova árdua, não hesitou o seu jovem administrador em realizar os seus planos de ampliação da usina, construindo mais um forno de aço, e um novo laminador, e criando uma fonte segura de energia elétrica. Mas não se descuidando do bem estar de seus colaboradores, fez construir a primeira Vila Residencial para os empregados, organizou o Serviço Médico, e fundou Clubes esportivos e recreativos. E, a esse tempo, tendo colocado a usina de Siderúrgica em base inabalável e autônoma, volveu os seus olhos, em fins de 1934, para os planos já amadurecidos, de construção de uma nova usina! Com efeito, graças à sua fé absoluta no futuro do Brasil, à sua coragem indomável e à sua palavra convincente, havia o nosso grande chefe conseguido a autorização e alguns recursos, embora escassos, para começar a realização da usina de Monlevade Dos seus colaboradores, que tiveram a ventura de contribuir, ainda que modestamente, para a concretização deste grandioso plano, poucos são os que, em raras ocasiões, se lembram das dificuldades aqui intransponíveis, das adversidades tenazes, dos empecilhos fatídicos, que se antepunham ao esforço humano, durante a construção desta obra. Queremos só recordar as viagens longas e exaustivas a cavalo e em vagões abertos do lastro, as juntas de bois arrastando o primeiro maquinismo na chamada “esplanada”, a instabilidade do terreno, que desafiou os mais seguros cálculos... Está aqui, visível a todos os olhares, o imponente monumento de trabalho e progresso, obra de uma só homem, e para o qual não hesitamos em aplicar as famosas palavras do primeiro Ministro inglês, proferidas em fins de 1940: nunca tantos homens deveram tanto a tão poucos! É de justiça, no entanto, que sejam postas à luz do dia algumas das épocas ou decisões mais marcantes da história de Monlevade. Durante os anos de 1936 até fins de 1939, foram construídos e postos em funcionamento, de acordo com um plano preestabelecido, uma possante usina hidrelétrica, 2 altos fornos, 2 fornos de aço e os laminadores. Quando tudo estava pronto para os primeiros e reais resultados, sobreveio a segunda guerra mundial. Mas o nosso eminente administrador não foi tomado de surpresa, nem desprevenido... Com efeito, graças à sua clarividência, infalível, e com plena ciência de sua responsabilidade, tinha ele mandado acumular, nos diversos depósitos das usinas, vultosas quantidades das indispensáveis matérias primas de importação, previdência que permitiu à empresa produzir a plena marcha, durante o longo período da conflagração mundial. Mas não parou por aqui a inestimável contribuição do nosso homenageado, para o desenvolvimento da indústria siderúrgica no Brasil. Estamos todos lembrados daquela memorável entrevista com o Ministro da Viação e Obras Públicas, em fins de 1942, durante a qual o Dr. Ensch, dando prova mais uma vez de sua coragem audaciosa, assumiu o compromisso de fornecer ao Brasil, dentro de um ano, trilhos para as suas estradas de ferro, compromisso esse que tão brilhantemente cumprido! Baseado em observações perspicazes, colhidas durante a guerra, e em estudos da situação econômica, tanto interna quanto internacional, tratou logo o Dr. Ensch de solidificar as bases da usina de Monlevade, dotando-a sucessivamente de instalações novas e inéditas, marcando cada uma delas novo passo de pioneiro. Entre tais inovações, citemos: a maquinaria para produção de arame duro de alta qualidade, valorizando ao mesmo tempo o material e a mão de obra; a moderníssima Fábrica de Tubos galvanizados, que proporcionou ao Brasil a independência dos produtos estrangeiros; a famosa usina de Sinterização, cujo produto não só deu resultados espetaculares nos Altos Fornos, como também permitiu uma exploração racional e total das riquezas minerais da jazida de Andrade. Só esta última providência, em conjunto com o reflorestamento artificial intenso, deu á empresa a garantia de uma vida perene, nas mais sólidas condições econômicas; o Laminador reversível, que além de fornecer a matéria prima para a Fábrica de Tubos, veio abrir um novo mercado compensador, para fitas de alta qualidade. Tão impressionante conjunto de realizações daria, ao administrador mais ambicioso, motivos de sobra para intercalar, em suas atividades, um período de descanso, mais do que merecido. Mas não para o estimado Chefe... Confiante no grande futuro do Brasil, seu espírito criador já concebeu novos grandiosos planos de ampliação das instalações e de especialização dos produtos, com introdução de novos processos e maquinaria ultra-moderna, projetos estes em plena via de estudos e execução. Como grande e autêntico líder que é, não podia o Dr. Ensch deixar de cuidar também do bem estar de seus colaboradores. À medida que surgiram os fornos e chaminés da usina, foram sendo criados Hospitais, Assistências, Escolas, Igrejas. Essa atividade social tomou um surto extraordinário, desde o dia memorável em que um destino providencial fez o Dr. Ensch encontrar a companheira ideal da sua vida. Este acontecimento foi duplamente auspicioso. De uma parte, proporcionou ao nosso querido chefe um lar reconfortador, que o faz esquecer os dissabores quotidianos da profissão; e por outra, conquistou para os seus colaboradores uma defensora, ardente e incansável, das suas necessidades materiais e morais. Para aquilatar devidamente a obra monumental do nosso homenageado, quero me reportar às críticas frequentemente surgidas no inicio da construção desta usina, quando não foram poucos os descrentes que, de boa ou má fé, julgaram a sua atividade condenada ao fracasso, classificando-a desdenhosamente de “siderurgia a lombo de burro...” No entanto, quão errados estavam tais profetas! Com efeito, uma industria, sabiamente baseada sobre o carvão vegetal e a força hidroelétrica, quer dizer, sobre duas fontes essenciais de combustível e energia, que se renovam indefinidamente, sob a ação duradoura do sol, oferece, sem dúvida, maior estabilidade do que as empresas que consomem reservas de combustível acumuladas pela natureza, mas esgotáveis em futuro previsível. E não hesitamos um momento em afirmar que, se amanhã, o ilustre realizador desta majestosa usina tivesse de recomeçar, empregaria as próprias palavras do herói da imortal obra de Corneille: “ Je le ferais encore, si j’avais à le refaire”, quer dizer, faria a mesma coisa se tivesse de fazer de novo. É pois, com o mais legítimo orgulho e a mais justa satisfação que vós, Dr. Louis Ensch, podeis contemplar esta vossa obra, na certeza e perfeita usina, uma usina pioneira, que abriu o caminho e deu o exemplo, no Vale do Rio doce, para outras empresas congêneres já estabelecidas ou que vierem a ser montadas. E aproveitando a grata ocasião deste dia significativo, queremos pedir-vos que aceiteis uma modesta lembrança que entrego em nome de todos os membros desta grande família, a Belgo-Mineira, com a expressão do profundo reconhecimento, da elevada admiração e da sincera amizade que soubestes implantar no coração de cada um de nós. Faço votos ardentes para que Deus vos dê, assim como à vossa Exma. Família, muitos anos de felicidade perfeita, com vigor e saúde, a fim de poderdes continuar vossa atividade criadora, para o bem dos vossos colaboradores e para a grandeza do Brasil."
Discurso pronunciado pelo Dr. Louis Ensch, na sessão solene realizada no Cine Monlevade, no dia 15 de novembro de 1952.
“Meus senhores, minhas senhoras, Acabo de escutar, com profunda emoção e sincero prazer, as palavras dos dignos oradores que se fizeram ouvir nesta solenidade, trazendo à minha pessoa, e à minha Senhora, a generosa homenagem da nossa Companhia, aqui representada por seus órgãos administrativos e por seu dedicado pessoal. Ao aceitar, em 1927, o convite que me foi feito pelos saudosos amigos Emile Mayrish, Gaston Barbanson e Aloyse Meyer, - a cuja memória desejo render o preito da minha grande admiração – para vir dirigir, no Brasil, a Usina que então se formava, da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, estava certo de que se abria, para a minha vida profissional, um novo campo de possibilidades imprevisíveis. E o que me entusiasmava, acima de quaisquer possíveis recompensas materiais, era a oportunidade de aplicar, em um País de vida industrial ainda em formação, as experiências e os ensinamentos adquiridos no Velho Continente. Assim, neste último quarto de século, dediquei quase todas as horas da minha vida aos empreendimentos que vimos realizando, e cuja admiração me foi confiada. Sinto-me tranqüilo, porque estou certo de haver feito o possível, para justificar a confiança em mim depositada. Porém, devo confessar, que, se me coube assumir tão grande parcela de responsabilidade, menor não foi o quinhão dos meus colaboradores, nos trabalhos de realização do importante conjunto industrial que é hoje o valioso patrimônio da nossa Companhia. Dos meus companheiros de Diretoria, tenho recebido as mais confortadoras provas de solicitude pelo constante êxito dos nossos empreendimentos. Nos ilustres componentes dos nossos Conselhos, encontrei sempre a mais perfeita compreensão dos graves problemas cuja solução tivemos de equacionar. E dos mais modestos empregados, aos técnicos e engenheiros mais graduados, que foram a grande família siderúrgica que se constituiu nos nossos núcleos de trabalho, sempre recebi a mais completa lealdade, numa constante demonstração de interesse pelo progresso da empresa. São tantos estes colaboradores, que me sinto na impossibilidade de referir-me nominalmente a todos eles, embora cada um tenha o seu grande mérito pelo trabalho realizado... Peço-vos permissão, todavia, para lembrar o nome de Albert Scharlé, meu querido companheiro, na usina de Siderúrgica, tem me acompanhado com a sua sincera amizade, sua dedicação e sua competente capacidade, tornando-se merecedor de todo o meu reconhecimento. Sendo, pois, o fruto do esforço e da dedicação de todos os integrantes da empresa, o êxito dos nossos empreendimentos não deve ser atribuído unicamente à minha pessoa. Por todas estas razões não poderiam ser mais generosos meus colaboradores imediatos, ao programarem, sob os auspícios dos colegas da Diretoria, as comemorações do vigésimo quinto aniversário da minha administração. Recebo, assim, com inexprimível emoção, as homenagens de que venho sendo alvo, e desejo aproveitar esta oportunidade para testemunhar os meus sinceros, agradecimentos aos meus colegas e colaboradores, e aos distintos convidados que, com a sua honrosa presença, tanto brilho vieram emprestar a estas solenidades. Estou certo de que, no futuro, continuaremos todos juntos a trabalhar pelo maior desenvolvimento da nossa empresa. Terminada, que foi, o que podemos chamar de primeira fase da usina de Monlevade, já estamos empolgados pela duplicação da sua capacidade produtora. Aprovados os primeiros planos, e colocadas as encomendas das novas instalações com que iremos alcançar aquele resultado, iniciaremos em breve os trabalhos de expansão da usina. E, se pudermos continuar trabalhando, como até hoje, num ambiente de perfeita compreensão dos deveres de cada um, e de completa harmonia em todos os setores de atividades, daremos mais um importante passo para a completa emancipação industrial do Brasil. Meus Senhores, Não desejo terminar estas palavras sem expressar a minha profunda satisfação pela presença, entre nós, de um dos mais esclarecidos estadistas brasileiros, cuja vida tem sido um constante exemplo de amor e dedicação aos mais elevados interesses da Pátria! Quando Presidente de Minas Gerais, nos primórdios dos nossos empreendimentos, foi de Sua Excia. que recebemos os melhores estímulos para o real desenvolvimento da siderurgia em nosso Estado. Quando os nossos produtos de aço – os primeiros laminados fabricados no Brasil – ainda eram recebidos com desconfiança, por se tratar de produto nacional, foi Sua Excia. quem ordenou o seu emprego nas obras públicas, dando uma evidente prova de confiança na qualidade do aço mineiro. No correr da sua longa e brilhante vida pública, tem sido um ardoroso defensor do desenvolvimento da siderurgia em Minas Gerais, bem compreendendo a sua importância para a economia do Estado e o progresso do Brasil. Refiro-me, como vós, certamente, já o compreendestes, ao eminente Presidente Melo Vianna, ilustre Senador da República, a quem agradeço, de público, por tudo que tem feito pela siderurgia de Minas Gerais e, por conseguinte, pela Belgo-Mineira."
1817 – 2017
Dois Séculos de Vida Operária > Mais que uma biografia, uma historia de vida
AMPLIAÇÃO E MODERNIZAÇÃO – ANOS 50
Nos anos 50, a Usina da Belgo foi ampliada e modernizada, passando a ocupar importante espaço na produção de aço no País.
O crescimento da usina encontrava-se diretamente associado ao desenvolvimento de João Monlevade, que, apesar de estar ligada politicamente ao município de Rio Piracicaba, permaneceria como um núcleo urbano privado, administrado pela companhia até os anos 60.
Economicamente o município sempre viveu da extração de recursos minerais, como o minério de ferro, as pedras preciosas e a produção de aço.
Em 1943, já existiam em Monlevade 600 residências; em 1948, 1440 e em 1952 eram ao todo 2.500 residências, distribuídas em 19 núcleos residenciais.
Também começou a ser construído, a partir do final da década de 40, todo um conjunto obras de infra-estrutura e serviços - redes de água e esgoto, estação de tratamento, abertura, calçamento e iluminação de ruas, rodovias vicinais, centro comercial, escolas, hospitais, hotéis - como o "Cassino" -, clubes, cinema, igreja e muitos outros equipamentos urbanos estruturais e sociais.
Surgem os primeiros hotéis e o majestoso e ostentoso Cassino.
Ao mesmo tempo, a administração sob o comando de Ensch não descurou também da questão do minério de ferro.
Meus Amigos e Minhas Amigas:
Não poderia deixar de mostrar aqui, a sublime homenagem que foi feita ao magnânimo engenheiro e empreendedor humanista nos negócios da siderurgia, na incipiente João Monlevade, Dr. Louis Ensch.
É de justiça lembrar que foi ele um homem de uma nobreza ímpar, cuja capacidade de agregar valor aos seus colaboradores – e era assim que ele tratava com seus funcionários da Belgo-Mineira – mostrando espontaneamente ser alguém muito além de ser alguém que daria valor tão somente aos seus altofornos.
Foi mais que um patrão; ele foi um verdadeiro Pai pra todos, nos dizeres populares.
Neste contexto gostaria de mostrar, nesta pesquisa, o conteúdo na íntegra dos discursos proferidos nas homenagens que se seguiram no palco do ostentoso Cine Monlevade, no dia 15 de Novembro de 1952.
25º Aniversário
Administração do Dr. Louis Ensch
Transcorreu, no mês de novembro de 1952, o vigésimo quinto aniversário da administração do Dr. Louis Ensch, Diretor-Geral da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira.
Desejando comemorar com o merecido destaque a passagem dessa efeméride tão significativa, os seus colaboradores imediatos fizeram realizar diversas solenidades nas Usinas de Siderúrgica e Monlevade, dando ensejo a que todo o pessoal da empresa se associasse às homenagens prestadas ao seu eminente Diretor-Geral.
Para o maior brilhantismo dos festejos, contaram os seus realizadores com a plena solidariedade dos órgãos administrativos da companhia, especialmente dos ilustres componentes da sua Diretoria, senhores: Christiano França Teixeira Guimarães – Presidente; Mário Dias de Castro – Vice-Presidente; Jules Verelst – Diretor-Superintendente; Trajano de Miranda Valverde – Diretor-Primeiro Secretário e Edmundo da Luz Pinto – Diretor-Segundo Secretário.
Fazendo editar o presente álbum que, contendo uma síntese do que foram aquelas festividades, é, ao mesmo tempo, um testemunho do que representa a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira no panorama industrial do Brasil, desejam os seus autores consignar a sua grata e sincera homenagem aos dignos diretores da Companhia que, com a sua esclarecida orientação e valioso apoio, tornaram possível a concretização deste empreendimento.
Discurso pronunciado pelo Dr. Albert Scharlé, em nome do pessoal da Companhia, na sessão solene realizada no Cine Monlevade, em 15 de novembro de 1952:
"Exmo. Sr. Dr. Louis Ensch e Exma. Senhora,
Minhas senhoras e meus senhores,
Todos nós, reunidos hoje neste recinto, como integrantes da mesma grande família, cercando carinhosamente a figura do nosso querido chefe, sentimos os corações transbordando da mais legítima e natural alegria, ao festejar as bodas de prata da administração Louis Ensch, cuja vida se identifica com a própria Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira.
É, certamente, uma praxe muito louvável e justa, em tal efeméride, voltar os pensamentos ao passado, para relembrar tanto as horas alegres quanto os momentos amargos de tão longa convivência, para melhor apreciação da tarefa realizada.
Um quarto de século atrás, em meiados do ano de 1927, estava em jogo o futuro da Cia. Siderúrgica Belgo-Mineira...
Com 6 anos de vida infrutífera, acabava ela de acordar de um sono improdutivo de mais de 6 meses, sem nenhuma esperança no porvir.
Foi então que os responsáveis pela empresa resolveram fazer uma última tentativa, para salvar a existência de um empreendimento que parecia condenado ao fracasso.
Lembraram-se, em boa hora, de um jovem engenheiro, que trabalhava numa das suas usinas na Europa, o qual, apesar de seus 30anos de idade, já havia alcançado o elevado cargo de chefe de serviço, num meio altamente conservador e de grande competição de valores humanos, graças às suas altas qualidades profissionais e ao seu dinamismo invulgar.
E, nas mãos decididas deste homem, foi colocado então o destino da Companhia!
Assim, numa tarde risonha de 10 de novembro de 1927, apareceu em Sabará, o engenheiro Louis Ensch, credenciado não somente pelo título de novo Diretor da Usina, mas também pela mais alta capacidade técnica e organizadora.
O ambiente parecia de todo acolhedor...De um lado, a natureza festejava sua renascença anual, numa sinfonia maravilhosa de cores, e um clima ameno envolvia os sentidos.
De outro lado, um punhado de homens devotados ao trabalho apresentava as suas sinceras boas-vindas ao novo chefe.
Mas a realidade nua era bem diferente...
Lá estava, cercada de altos morros, a pequena usina de Siderúrgica, transformando penosamente, cada dia, umas 20 toneladas de gusa em outras tantas de aço e laminados.
Porém, este material destinava-se a ser guardado nos depósitos, porque as fundições e os construtores do País nenhuma confiança tinham nos produtos da siderurgia nacional.
Não dispunha a usina da menor garantia para suprimento de combustível ou de outras matérias primas indispensáveis, salvo talvez o minério de ferro, que era rudimentarmente explorado na jazida do Segredo.
Para completar este quadro desolador, basta dizer que fora da cerca da usina, não tinha a Empresa – seriamente endividada – um plano de terreno, sendo que o próprio trilho que dava acesso à casa da bomba, nas proximidades do rio, era de propriedade de outros.
Como quartel-general, dispunha de um pequeno barracão, pretensiosamente chamado escritório, ao lado do qual o atual escritório provisório de Monlevade é um autêntico palacete.
E na realidade, não existia motivo, então, para acomodações mais vastas, porquanto o modesto dirigente, sozinho como se achava, teve de acumular na sua pessoa, todo o peso das funções técnicas, comerciais e administrativas, desde diretor a engenheiro chefe, chefe de serviço e engenheiro assistente, às vezes mesmo contra-mestre...
Tal situação desanimadora, no entanto, longe de oprimir o espírito do novo dirigente, provocou nele uma reação criadora, quase como um desafio contra tantas adversidades!
À sua tarefa, dedicou-se ele com todo o ardor e entusiasmo próprios da mocidade, seguro de si mesmo, e infundindo nos seus colaboradores a sua própria fé no futuro.
Em conseqüência de tal intervenção enérgica e clarividente, ligada ao profundo conhecimento do assunto, não podiam deixar de aparecer os primeiros sintomas de convalescença.
Graças a um esforço heróico de todo pessoal, esforço que exigiu, muitas vezes, sacrifícios materiais a até morais, começaram os produtos da usina a conquistar o mercado interno.
Foi posto em serviço o novo alto forno; criou-se uma base carbonífera com os próprios recursos e, em meados de 3 anos, estava saneada a situação financeira da Companhia, e evidenciada a razão de sua existência.
É de justiça realçar aqui a colaboração dedicada dos operários da usina, os quais, no momento mais crítico, concordaram, num grande espírito de sacrifício, em uma redução de salários, fato inédito na historia da indústria.
Para qualificar tal realização, existe só uma palavra, cunhada nos Estados Unidos da América, ao tempo da sua formação ‘PIONEIRO’! Pioneiro da siderurgia no Brasil!
Fortificada e em franco desenvolvimento, como se achava, foi com relativa facilidade que a empresa venceu os efeitos desastrosos da crise mundial nos anos de 1930 e 1931.
Tendo assim a Companhia suportado, valorosamente, mais esta prova árdua, não hesitou o seu jovem administrador em realizar os seus planos de ampliação da usina, construindo mais um forno de aço, e um novo laminador, e criando uma fonte segura de energia elétrica.
Mas não se descuidando do bem estar de seus colaboradores, fez construir a primeira Vila Residencial para os empregados, organizou o Serviço Médico, e fundou Clubes esportivos e recreativos.
E, a esse tempo, tendo colocado a usina de Siderúrgica em base inabalável e autônoma, volveu os seus olhos, em fins de 1934, para os planos já amadurecidos, de construção de uma nova usina!
Com efeito, graças à sua fé absoluta no futuro do Brasil, à sua coragem indomável e à sua palavra convincente, havia o nosso grande chefe conseguido a autorização e alguns recursos, embora escassos, para começar a realização da usina de Monlevade
Dos seus colaboradores, que tiveram a ventura de contribuir, ainda que modestamente, para a concretização deste grandioso plano, poucos são os que, em raras ocasiões, se lembram das dificuldades aqui intransponíveis, das adversidades tenazes, dos empecilhos fatídicos, que se antepunham ao esforço humano, durante a construção desta obra.
Queremos só recordar as viagens longas e exaustivas a cavalo e em vagões abertos do lastro, as juntas de bois arrastando o primeiro maquinismo na chamada “esplanada”, a instabilidade do terreno, que desafiou os mais seguros cálculos...
Está aqui, visível a todos os olhares, o imponente monumento de trabalho e progresso, obra de uma só homem, e para o qual não hesitamos em aplicar as famosas palavras do primeiro Ministro inglês, proferidas em fins de 1940: nunca tantos homens deveram tanto a tão poucos!
É de justiça, no entanto, que sejam postas à luz do dia algumas das épocas ou decisões mais marcantes da história de Monlevade.
Durante os anos de 1936 até fins de 1939, foram construídos e postos em funcionamento, de acordo com um plano preestabelecido, uma possante usina hidrelétrica, 2 altos fornos, 2 fornos de aço e os laminadores.
Quando tudo estava pronto para os primeiros e reais resultados, sobreveio a segunda guerra mundial.
Mas o nosso eminente administrador não foi tomado de surpresa, nem desprevenido...
Com efeito, graças à sua clarividência, infalível, e com plena ciência de sua responsabilidade, tinha ele mandado acumular, nos diversos depósitos das usinas, vultosas quantidades das indispensáveis matérias primas de importação, previdência que permitiu à empresa produzir a plena marcha, durante o longo período da conflagração mundial.
Mas não parou por aqui a inestimável contribuição do nosso homenageado, para o desenvolvimento da indústria siderúrgica no Brasil.
Estamos todos lembrados daquela memorável entrevista com o Ministro da Viação e Obras Públicas, em fins de 1942, durante a qual o Dr. Ensch, dando prova mais uma vez de sua coragem audaciosa, assumiu o compromisso de fornecer ao Brasil, dentro de um ano, trilhos para as suas estradas de ferro, compromisso esse que tão brilhantemente cumprido!
Baseado em observações perspicazes, colhidas durante a guerra, e em estudos da situação econômica, tanto interna quanto internacional, tratou logo o Dr. Ensch de solidificar as bases da usina de Monlevade, dotando-a sucessivamente de instalações novas e inéditas, marcando cada uma delas novo passo de pioneiro.
Entre tais inovações, citemos: a maquinaria para produção de arame duro de alta qualidade, valorizando ao mesmo tempo o material e a mão de obra; a moderníssima Fábrica de Tubos galvanizados, que proporcionou ao Brasil a independência dos produtos estrangeiros; a famosa usina de Sinterização, cujo produto não só deu resultados espetaculares nos Altos Fornos, como também permitiu uma exploração racional e total das riquezas minerais da jazida de Andrade.
Só esta última providência, em conjunto com o reflorestamento artificial intenso, deu á empresa a garantia de uma vida perene, nas mais sólidas condições econômicas; o Laminador reversível, que além de fornecer a matéria prima para a Fábrica de Tubos, veio abrir um novo mercado compensador, para fitas de alta qualidade.
Tão impressionante conjunto de realizações daria, ao administrador mais ambicioso, motivos de sobra para intercalar, em suas atividades, um período de descanso, mais do que merecido.
Mas não para o estimado Chefe...
Confiante no grande futuro do Brasil, seu espírito criador já concebeu novos grandiosos planos de ampliação das instalações e de especialização dos produtos, com introdução de novos processos e maquinaria ultra-moderna, projetos estes em plena via de estudos e execução.
Como grande e autêntico líder que é, não podia o Dr. Ensch deixar de cuidar também do bem estar de seus colaboradores.
À medida que surgiram os fornos e chaminés da usina, foram sendo criados Hospitais, Assistências, Escolas, Igrejas.
Essa atividade social tomou um surto extraordinário, desde o dia memorável em que um destino providencial fez o Dr. Ensch encontrar a companheira ideal da sua vida.
Este acontecimento foi duplamente auspicioso.
De uma parte, proporcionou ao nosso querido chefe um lar reconfortador, que o faz esquecer os dissabores quotidianos da profissão; e por outra, conquistou para os seus colaboradores uma defensora, ardente e incansável, das suas necessidades materiais e morais.
Para aquilatar devidamente a obra monumental do nosso homenageado, quero me reportar às críticas frequentemente surgidas no inicio da construção desta usina, quando não foram poucos os descrentes que, de boa ou má fé, julgaram a sua atividade condenada ao fracasso, classificando-a desdenhosamente de “siderurgia a lombo de burro...”
No entanto, quão errados estavam tais profetas!
Com efeito, uma industria, sabiamente baseada sobre o carvão vegetal e a força hidroelétrica, quer dizer, sobre duas fontes essenciais de combustível e energia, que se renovam indefinidamente, sob a ação duradoura do sol, oferece, sem dúvida, maior estabilidade do que as empresas que consomem reservas de combustível acumuladas pela natureza, mas esgotáveis em futuro previsível.
E não hesitamos um momento em afirmar que, se amanhã, o ilustre realizador desta majestosa usina tivesse de recomeçar, empregaria as próprias palavras do herói da imortal obra de Corneille: “ Je le ferais encore, si j’avais à le refaire”, quer dizer, faria a mesma coisa se tivesse de fazer de novo.
É pois, com o mais legítimo orgulho e a mais justa satisfação que vós, Dr. Louis Ensch, podeis contemplar esta vossa obra, na certeza e perfeita usina, uma usina pioneira, que abriu o caminho e deu o exemplo, no Vale do Rio doce, para outras empresas congêneres já estabelecidas ou que vierem a ser montadas.
E aproveitando a grata ocasião deste dia significativo, queremos pedir-vos que aceiteis uma modesta lembrança que entrego em nome de todos os membros desta grande família, a Belgo-Mineira, com a expressão do profundo reconhecimento, da elevada admiração e da sincera amizade que soubestes implantar no coração de cada um de nós.
Faço votos ardentes para que Deus vos dê, assim como à vossa Exma. Família, muitos anos de felicidade perfeita, com vigor e saúde, a fim de poderdes continuar vossa atividade criadora, para o bem dos vossos colaboradores e para a grandeza do Brasil."
Discurso pronunciado pelo Dr. Louis Ensch, na sessão solene realizada no Cine Monlevade, no dia 15 de novembro de 1952.
“Meus senhores, minhas senhoras,
Acabo de escutar, com profunda emoção e sincero prazer, as palavras dos dignos oradores que se fizeram ouvir nesta solenidade, trazendo à minha pessoa, e à minha Senhora, a generosa homenagem da nossa Companhia, aqui representada por seus órgãos administrativos e por seu dedicado pessoal.
Ao aceitar, em 1927, o convite que me foi feito pelos saudosos amigos Emile Mayrish, Gaston Barbanson e Aloyse Meyer, - a cuja memória desejo render o preito da minha grande admiração – para vir dirigir, no Brasil, a Usina que então se formava, da Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, estava certo de que se abria, para a minha vida profissional, um novo campo de possibilidades imprevisíveis.
E o que me entusiasmava, acima de quaisquer possíveis recompensas materiais, era a oportunidade de aplicar, em um País de vida industrial ainda em formação, as experiências e os ensinamentos adquiridos no Velho Continente.
Assim, neste último quarto de século, dediquei quase todas as horas da minha vida aos empreendimentos que vimos realizando, e cuja admiração me foi confiada.
Sinto-me tranqüilo, porque estou certo de haver feito o possível, para justificar a confiança em mim depositada.
Porém, devo confessar, que, se me coube assumir tão grande parcela de responsabilidade, menor não foi o quinhão dos meus colaboradores, nos trabalhos de realização do importante conjunto industrial que é hoje o valioso patrimônio da nossa Companhia.
Dos meus companheiros de Diretoria, tenho recebido as mais confortadoras provas de solicitude pelo constante êxito dos nossos empreendimentos.
Nos ilustres componentes dos nossos Conselhos, encontrei sempre a mais perfeita compreensão dos graves problemas cuja solução tivemos de equacionar.
E dos mais modestos empregados, aos técnicos e engenheiros mais graduados, que foram a grande família siderúrgica que se constituiu nos nossos núcleos de trabalho, sempre recebi a mais completa lealdade, numa constante demonstração de interesse pelo progresso da empresa.
São tantos estes colaboradores, que me sinto na impossibilidade de referir-me nominalmente a todos eles, embora cada um tenha o seu grande mérito pelo trabalho realizado...
Peço-vos permissão, todavia, para lembrar o nome de Albert Scharlé, meu querido companheiro, na usina de Siderúrgica, tem me acompanhado com a sua sincera amizade, sua dedicação e sua competente capacidade, tornando-se merecedor de todo o meu reconhecimento.
Sendo, pois, o fruto do esforço e da dedicação de todos os integrantes da empresa, o êxito dos nossos empreendimentos não deve ser atribuído unicamente à minha pessoa.
Por todas estas razões não poderiam ser mais generosos meus colaboradores imediatos, ao programarem, sob os auspícios dos colegas da Diretoria, as comemorações do vigésimo quinto aniversário da minha administração.
Recebo, assim, com inexprimível emoção, as homenagens de que venho sendo alvo, e desejo aproveitar esta oportunidade para testemunhar os meus sinceros, agradecimentos aos meus colegas e colaboradores, e aos distintos convidados que, com a sua honrosa presença, tanto brilho vieram emprestar a estas solenidades.
Estou certo de que, no futuro, continuaremos todos juntos a trabalhar pelo maior desenvolvimento da nossa empresa.
Terminada, que foi, o que podemos chamar de primeira fase da usina de Monlevade, já estamos empolgados pela duplicação da sua capacidade produtora.
Aprovados os primeiros planos, e colocadas as encomendas das novas instalações com que iremos alcançar aquele resultado, iniciaremos em breve os trabalhos de expansão da usina.
E, se pudermos continuar trabalhando, como até hoje, num ambiente de perfeita compreensão dos deveres de cada um, e de completa harmonia em todos os setores de atividades, daremos mais um importante passo para a completa emancipação industrial do Brasil.
Meus Senhores,
Não desejo terminar estas palavras sem expressar a minha profunda satisfação pela presença, entre nós, de um dos mais esclarecidos estadistas brasileiros, cuja vida tem sido um constante exemplo de amor e dedicação aos mais elevados interesses da Pátria!
Quando Presidente de Minas Gerais, nos primórdios dos nossos empreendimentos, foi de Sua Excia. que recebemos os melhores estímulos para o real desenvolvimento da siderurgia em nosso Estado.
Quando os nossos produtos de aço – os primeiros laminados fabricados no Brasil – ainda eram recebidos com desconfiança, por se tratar de produto nacional, foi Sua Excia. quem ordenou o seu emprego nas obras públicas, dando uma evidente prova de confiança na qualidade do aço mineiro.
No correr da sua longa e brilhante vida pública, tem sido um ardoroso defensor do desenvolvimento da siderurgia em Minas Gerais, bem compreendendo a sua importância para a economia do Estado e o progresso do Brasil.
Refiro-me, como vós, certamente, já o compreendestes, ao eminente Presidente Melo Vianna, ilustre Senador da República, a quem agradeço, de público, por tudo que tem feito pela siderurgia de Minas Gerais e, por conseguinte, pela Belgo-Mineira."
A seguir: Jean Monlevade (III)
Comentários
Enviar um comentário
🌟Copie um emoji e cole no comentário: Clique aqui para ver os emojis