ÀS QUARTAS – FEIRAS – Da “mágica do computador”

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Por: Carlos Alberto Alves
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Helena dos Santos ficou viúva muito jovem e com cinco filhos para criar. "Essa história de música surgiu na minha vida quando eu não tinha mais para o que apelar. Pedi a Deus um trabalho que me desse condições de criar meus filhos. E comecei a fazer uns sambinhas." E foi na condição de mulher, negra, viúva e favelada, que Helena dos Santos saiu à procura dos cantores para gravar suas músicas. Sem tocar nenhum instrumento, valendo-se apenas de lápis e papel, Helena dos Santos compunha sambas, boleros e marchas carnavalescas. "Não aprendi piano porque nunca tive esse instrumento em casa e não aprendi violão porque tinha muita corda, eu me atrapalhava toda. Se o violão tivesse uma ou duas cordas talvez eu tivesse aprendido", brinca Helena.
O problema é que nenhum cantor se interessava pelas composições de Helena dos Santos, que procurou quase todos: Jamelão, Dolores Duran, Emilinha Borba, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto, a quem ela tentou abordar numa certa tarde, na Rádio Nacional. "Cauby, você me desculpe, mas eu preciso tanto falar com você", disse-lhe Helena. "Agora não vai dar, meu amor. Já está em cima da hora para eu cantar. Depois do programa você me procura." Helena ficou esperando o programa terminar, mas não conseguiu falar com o cantor porque ele saiu por outra porta. "Eu estava passando uma fase que só Deus sabe. Faltavam três dentes na minha boca", lembra Helena.

Cansada de procurar cantores de sambas e de marchinhas, Helena decidiu bater à porta de um cantor de rock, e o mais famoso da época era Sérgio Murilo. Pensando nele, Helena fez uma música em que citava Marcianita e Broto legal, os dois principais sucessos do cantor, o resultado foi o twist Na Lua não há: "Eu vou perguntar se na Lua há/ um broto legal/ pra mim namorar...". Sua intenção era entregar essa composição ao próprio Sérgio Murilo, mas, como das outras vezes, não obteve acesso ao cantor. Foi quando Rogéria Barros, cantora da Rádio Nacional, sugeriu que ela procurasse um jovem cantor chamado Roberto Carlos, que estava justamente montando repertório para o seu LP na CBS. E ela disse a Helena que o tal cantor, "um rapaz atencioso e bom", podia ser encontrado no programa de Luis de Carvalho na Rádio Globo.

Cheia de esperança, no dia seguinte Helena dos Santos foi para lá e procurou se informar quem era o tal Roberto Carlos. "Puxa, ele ainda é um menino", surpreendeu-se, ao vê-lo de perto no estúdio da emissora. O cantor percebeu aquela mulher baixinha e tão magrinha olhando fixamente para ele e perguntou: "Você quer falar comigo?". "Sim, mas só depois, em particular." Helena ficou com vergonha de se apresentar ali, no meio dos outros. "Então você senta ali e me espera que depois eu vou lá conversar com você", disse-lhe Roberto. De fato, ao final do programa, ele foi falar com Helena dos Santos. "Eu queria ter tido uma câmera para filmar porque foi o momento mais lindo da minha vida. Roberto Carlos deixou todos os colegas, os cantores, para vir falar comigo", lembra Helena dos Santos. Isso foi marcante para ela porque pela primeira vez um cantor ia em sua direção. Até então, sempre lhe viravam as costas. Roberto Carlos sentou-se ao seu lado e perguntou o que ela queria conversar com ele. Helena explicou que era compositora, que tinha feito uma música e que gostaria que ele gravasse. "É mesmo? E como é a música?" Helena entregou-lhe uma folha de caderno com a letra de Na Lua não há. O cantor leu e perguntou. "Por que na Lua?" "Não sei, não fica bem?" "Fica ótimo. Essa letra é muito interessante. Canta a melodia aí que eu quero ouvir." Helena cantou duas, três vezes, enquanto Roberto Carlos ia fazendo a marcação rítmica na perna. "Isto é um twist, dona Helena. E vou gravar com uma nave espacial levantando. Você vai ver", disse o cantor animado. E Helena dos Santos mal acreditou quando dias depois Roberto Carlos a procurou para que ela assinasse o documento de autorização da gravação. Finalmente Helena dos Santos ouviria sua música gravada por algum cantor.

Nossa canção foi um dos grandes sucessos do álbum de 1966, chamando a atenção para o jovem compositor Luiz Ayrão. "Essa música abriu muitas portas para mim porque depois dela me tornei um compositor mais conhecido. Todos os outros cantores começaram a pedir músicas minhas para gravar" diz Luiz Ayrão, que depois disso esgotou a reserva que tinha naquele caderninho de música que carregava desde os catorze anos de idade.










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