Quem é quem na CCBP - Ator Sérgio Rezende Costa

DO TEXTO:

Sérgio Rezende  É um cineasta brasileiro. Filho dos juristas Valério de Rezende e Nilza Perez de Rezende. Dirigiu vários filmes biográficos de personalidades brasileiras como Lamarca, Mauá - O Imperador e o Rei,Zuzu Angel e Guerra de Canudos, sendo este último também exibido pela Rede Globo de Televisão como minissérie.
Entrou numa disputa judicial com Jorge Caldeira, autor do livro Mauá: Empresário do Imperio, que acusou Sérgio Rezende de plágio por usar diálogos inteiros de seu livro no filme Mauá - O Imperador e o Rei.

Filmografia

2016 - Em Nome da Lei
2009 - Salve Geral[1]
2006 - Zuzu Angel
2004 - Onde Anda Você
2000 - Quase Nada
1999 - Mauá - O Imperador e o Rei
1997 - Guerra de Canudos
1994 - Lamarca
1989 - Doida Demais
1986 - O Homem da Capa Preta
1982 - O Sonho não Acabou
1980 - Até a Última Gota

v
Filmes dirigidos por Sérgio Rezende
Década de 1980 Até a Última Gota (1980)  • O Sonho Não Acabou (1982)  • O Homem da Capa Preta (1987)  • Doida Demais (1989)

Década de 1990 Lamarca (1994)  • Guerra de Canudos (1997)  • Mauá - O Imperador e o Rei (1999)

Década de 2000 Quase Nada (2000)  • Onde Anda Você (2004)  • Zuzu Angel (2006)  • Salve Geral (2009)


EM NOME DA LEI (2016) - SERGIO REZENDE

Atores já conhecidos, inclusive por trabalhar bem; uma história baseada em fatos, um enredo de suspense em território nacional, e... um resultado desastroso.

Acho que nem assim consigo explicar o quão desastroso é todo o pacote de Em nome da Lei como filme. O que sinceramente mais me chateia é ver o potencial. Ou saber que como a maioria do material produzido pela famosa emissora, que personagens interessantes se transformam em personagens abobalhados e só se apresentam de forma caricata.

O filme começa mostrando o novo juiz chegando a cidade. Nem dois minutos de cena e o filme já entrega o provável desfecho de um dos personagens. O juiz é novo no pedaço, e como um galã, chega com sua moto, já é reconhecido como um homem "gatinho", e se vê trabalhando ao redor de funcionários bobalhões e medrosos. O núcleo de vilões do filme também é bem raso. É apresentado mostrando como intolerante, em cena,  muito vermelho e pouca iluminação. 

Sem duvida alguma, o pior do filme é saber que ele tem potencial, mas nada nele parece ajudar de fato. A atuação dos atores não é das piores, mas as falas são péssimas. É difícil levar a sério um juiz que não sabe se é galã, juiz ou um menino mimado. Conhecendo um mínimo da cidade, ele insiste em usar os seus métodos e de impor justiça a qualquer custo, o que obviamente não vai dar certo e vai transformar o filme bem mais longo do que talvez devesse. 

O diretor parece confuso. Horas ele tenta representar uma aventura com histórias de amor, horas ele quer fazer um suspense noir, e em alguns momentos ele se perde com tantas cenas desnecessárias. A montagem não ajuda. Cenas e cenas desconexas se agrupam. E em todo o filme, você fica sabendo o que acontece a seguir sem esforço. Não tem uma parte sequer que você não adivinhe o que vai acontecer na próxima cena e isso foi realmente chato. 

Existe o lado positivo de que nossos mafiosos e nossa justiça estejam sendo representados e apresentados. Que nossos juízes possam ser tão maravilhosos quanto qualquer juiz de série ou filme hollywoodiano, mas apesar da ideia do filme ser essa, ainda não foi dessa vez. Infelizmente.
E como o filme não surpreende, tenta divertir usando um personagem cômico, que de cômico não tem nada e tenta apresentar histórias diferentes que tenham alguma conexão com seus personagens. Falha miseravelmente.

A seguir trechos do debate com Sérgio Rezende, ocorrido no Cine Clube Cauim, durante a Mostra Permanente de Cinema Brasileiro realizada pelo SESC.

SALVE GERAL

A minha idéia sobre este filme é discutir um pouco o Brasil, isto é uma coisa que eu tenho feito sempre no meu cinema... Eu acho que cinema tem que ser entretenimento, tem que de alguma maneira emocionar as pessoas, mas ao mesmo tempo tem que estar falando da nossa realidade. Eu acho que estes fatos que aconteceram em São Paulo, há três anos, guardadas as devidas proporções, foi o nosso  11 de setembro. Nós nunca podíamos imaginar que a maior cidade da América Latina pudesse ser paralisada e viver sob o terror, debaixo de ordens de uma organização montada e liderada dentro dos presídios brasileiros. Eu acho que este assunto não é um assunto dos presos, do Estado, é um assunto da sociedade brasileira inteira...Se não pode matar,  joga-se numa prisão, esquece e finge que não tem ninguém vivendo lá. Isto não é uma coisa possível. Isto volta como um bumerangue contra nós mesmos.

Eu adoro trabalhar com  grandes atores  famosos, mas no caso de projeto específico,  eu queria trabalhar com atores que não são muito conhecidos do grande público, mas não atores amadores..... acho que isto dava um mistério para o Salve Geral  que quando começasse a entrar com estes personagens vocês não fizessem uma identificação imediata do ator com o personagem, e encontrei em São Paulo que tem uma cena teatral maravilhosa. Foi assim que selecionamos Denise Weinberg, que faz a Ruiva, que é uma atriz com quem eu já tinha feito outros três filmes,  e  os outros atores também são de São Paulo  como o Lee Thalor (Rafa),  do grupo Antunes Filho.

A presença das mulheres

Quando eu comecei a pesquisar, o que me surpreendeu muito é a presença das mulheres nestas organizações criminosas... sejam como mulheres dos presos ou como suas advogadas,  elas tem uma participação muito importante neste mundo do crime. Isto me surpreendeu muito e  quando eu comecei  a escrever o roteiro, resolvi construir o filme ficcionalmente em torno destas mulheres... Eu também queria que esta realidade fosse vista pelo olhar de uma mulher da classe média, quase uma artista, sensível,  e que de repente fosse confrontada violentamente com esta realidade brutal dos presídios e da violência social.

Roteiro

O cinema construiu em sua história aquela questão do chapéu branco e do chapéu preto, como por exemplo aqueles velhos faroestes, filmes de mocinhos e bandidos, onde havia uma distinção nítida entre o bem e o mal... assim como os super-heróis:  este personagem é o Batman defensor da sociedade e o outro cara é o mal, o criminoso... A vida não é bem assim, a vida é mais complicada do que isto. Eu, deliberadamente, não quis fazer este filme preto e branco, mas em tons cinzas.

Outro tema que eu desenvolvi  no filme é a questão do controle e do descontrole. De como a gente deseja em todas as circunstâncias controlar e ter o controle sobre todas as coisas e como isto é praticamente impossível: o Estado não controla os presídios, a polícia não controla as ruas, nós, como pessoas, não controlamos nossos sentimentos. De repente esta mulher educada de classe média, se apaixona por um bandido. O filho dela também não controla o automóvel e desencadeia uma série de acontecimentos trágicos. Este descontrole absoluto das coisas.

O público corriqueiro do cinema quer respostas mais claras: quem é o bom, quem é o ruim..  Eu quis propor uma conversa:  aonde que está o bem? Aonde é que está o mal? Quais são as matizes disto? Com todas as mazelas da sociedade brasileira: falta de educação, miséria, falta de assistência, é muito complicado a gente ser categórico: este está errado, este está certo, este é o bom, este é o mal... As coisas são um pouco mais sutis.

A personagem Ruiva

Eu já tinha feito 4 filmes com a Denise Weinberg mas com personagens menores. Eu já conhecia o talento dela. Na verdade o filme tem duas protagonistas:  Lucia, a professora,  e a Ruiva. Seus papéis equivalem em importância no filme. Por exemplo aquela cena em que a Lucia vai pela primeira vez ao salão de cabeleireiro, corta o cabelo e vai se olhar no espelho, que é um espelho falso, do outro lado está a Ruiva. Aquela cena é muito marcante. Naquele instante a Lucia está olhando, sem ver, para o que ela irá se transformar depois. Durante o filme a Lucia irá assumir traços da personalidade da Ruiva, a tal ponto que no final ela estará com uma arma na mão e matará a outra.

Outra característica destas duas personagens é que não são mulheres de chororo, elas jogam o jogo, é preciso fazer, eu vou lá e faço.  Para proteger seu filho, a Lucia não exita em subornar e ter um caso com um bandido poderoso. Uma das cenas mais bacanas do filme, que eu adoro, é quando a Lucia dá um tiro na Ruiva e que a Ruiva sabe que vai morrer, não tem chororo, há uma troca de olhares entre elas, e a Ruiva se retira e vai morrer na rua. Estas duas grandes atrizes souberam interpretar magnificamente estas mulheres tem uma visão muito clara da vida e do que elas estão fazendo lá.

Lee Thalor

O Lee Thalor (Rafael) foi um milagre que Deus me deu. Eu vim para São Paulo fazer testes com atores  e já estavam agendados 50 testes de rapazes jovens para fazer o personagem do Rafa, e no avião eu folheei a revista da Gol onde tinha uma reportagem sobre ele, dizendo que era do grupo do Antunes, e que tinha um futuro promissor, que era um grande ator e vi as fotos ele.  Achei interessantíssimo e pedi  à produção de São Paulo para que fizessemos o teste com ele.

Na hora do teste, eu dei um texto para ele de um outro personagem, ele começou ler aquilo e na hora eu pensei: este cara é o Rafa. Parei os testes todos, li o personagem inteiro junto com ele e fiquei , desde o primeiro momento, consciente de que ele era o ator que eu estava buscando e fiquei felicíssimo de trabalhar  com ele.

Atores de teatro  tem este clima: eles tem disciplina, tem empenho, eles estudam o texto, se dedicam... O Lee, por exemplo, naquela cena de perseguição de automóvel, ele recusou que um duble dirigisse aquele carro para ele. Ele pagou do próprio bolso aulas de pilotagem de automóvel e chegou lá e resolveu dirigir o carro. Então tem esta guarra de ser ator o tempo todo.

Os caminhos trilhados pelos personagens

Este filme não é uma aula de catecismo. O filme mostra as coisas como as coisas são. Nós somos assim, nós somos imperfeitos. A personagem da Lucia é absolutamente imperfeita. Sob o ponto de vista da lei ela está absolutamente errada. Ela não poderia fazer nenhuma daquelas coisas que ela faz e no entanto ela faz.

Produção do filme

Este filme foi rodado em Campinas, por uma questão de logística, porque é uma cidade parecida com São Paulo, sem tantos problemas de engarrafamentos e autorizações. Filmamos sete semanas em Campinas. Os interiores  foram feitos em estúdio em Paulínia,  e depois duas semanas em São Paulo, capital.

Processo de pesquisa

Alem das fontes tradicionais como internet e noticiários de TV e jornais, a principal fonte foi o depoimento dado pelo  Marcola (um dos líderes do PCC)  para a CPI do tráfico de armas (disponível nos anais do Senado Federal). São 250 páginas de depoimentos quando ele relata desde os primórdios da organização, na década de 90.

OSCAR

Eu acho que o Oscar é uma grande festa do cinema americano, da industria de Hollywood, transmitida para um bilhão de pessoas no mundo inteiro. É a celebração do poder do cinema americano. E dentro desta festa tem uma pequena janela para o cinema do resto do mundo que é o premio para o melhor filme estrangeiro. Comparando numericamente, numa festa de 2 horas, 1h59m são para o cinema americano e 1 minuto para o resto do mundo.  Este ano foram 68 países apresentam seus filmes dos quais 5 foram escolhidos para concorrer ao prêmio. A primeira tarefa disto é você dar visibilidade ao seu filme. Na verdade uma campanha para o Oscar é como um lançamento de um filme no mercado brasileiro, envolvendo anúncios nos meios de comunicação, outdoors, etc. objetivando com que as pessoas assistam ao filme. Lá no Oscar também há necessidade de se convencer os membros da academia de assistir ao seu filme, num determinado dia, para que se eles gostarem, votarem no seu filme. E isto envolve muitos recursos financeiros. Para nós brasileiros,  participar da festa do Oscar é uma honraria. Profissionalmente falando isto é business, com altos investimentos para dar visibilidade ao filme. Eu acho que hoje ter uma indicação ao Oscar e eventualmente ganhar algum prêmio é um fato que tem uma representação simbólica e comercial muito grande.

A PROLIFERAÇÃO DE FILMES QUE MOSTRAM A VIOLÊNCIA NO BRASIL

Eu acho que não dá para jogar a sujeira para debaixo do tapete. O que estes filmes mostram é o desfecho da sociedade brasileira. É uma coisa muito cafona e subdesenvolvida você querer sempre esconder seus lados ruins. Uma maneira de você se desenvolver e melhorar é olhar para seus defeitos. Isto vale para cada um de nós e para a sociedade de maneira global. Não adianta o cinema não falar disto (da violência) e quando a gente sair na rua aqui a gente vai ver isto. Então para resolver isto, é preciso que a gente tenha um espaço de reflexão, encare as coisas de frente e procure melhora-las. O cinema brasileiro não está inventando a violência, está simplesmente espelhando aquilo que a gente está vendo cotidianamente nas ruas.

CRÍTICOS

Quanto aos críticos, eles são os espectadores que são pagos. Eu tenho um respeito absoluto por um crítico, como tenho um respeito absoluto por cada um de vocês que está aqui. O cinema tem uma coisa maravilhosa, depois que a luz apaga e começa um filme, não é questão de inteligência, de cultura, sabedoria, ninguém é melhor do que ninguém dentro  de uma sala de cinema . Um genio e um cara analfabeto reagem da mesma maneira nas mesmas cenas: riem na mesma hora, choram na mesma hora, se emocionam no mesmo momento... por isto acho que o crítico não é melhor do que ninguém. Ele é um cara, como outro qualquer, que tem uma função específica num jornal de escrever, fazer uma resenha.

O PAPEL DO CINEMA

O cinema é um entretenimento escapista.  Ninguém nunca foi ao cinema para se aborrecer. As pessoas vão para se divertir. Desde as comédias do Chaplin, o cinema é um entretenimento escapista, mas não é só isto. O cinema é igual a uma sorveteria: tem que ter todos os sabores.   Tem aquelas pessoas que são mais reflexivas, que querem assumir  um papel mais positivo, mais ativo na vida social, e tem outros que vão na boiada. A gente não pode exigir que ninguém vá alem das suas possibilidades, mas também a gente não pode fechar a porta para  para um fato eventualmente mais doloroso porque senão o mundo não adava.

INFLUENCIAS

O que me influenciou mesmo foi a música: John Lennon, Jamis Joplin, Cartola... Eu gostava muito mais de música do que cinema quando eu era jovem. Se eu tivesse talento talvez tivesse sido músico. Mas decobri com o tempo que aquilo não era pra mim. E ai comecei a freqüentar cineclubes e até hoje os caras que eu gosto mais é o Fellini, eu acho que o 8 ½ é o maior filme que a Europa já fez, e do cinema americano Copolla, e mais antigo,  John Ford.

FILMOGRAFIA

O que me interessa nos filmes que já filmei são os aventureiros.

Antonio Conselheiro (Guerra dos Canudos): um cearence comum,  que casou com uma mulher que o traiu, ele tem uma crise, sai pelo sertão com uma pregação mística,  e de repente tem  50 mil caras atrás dele. Ele desafia o Estado da República, enfrenta o exército, uma guerra.

Lamarca, um  filho de sapateiro, que vive no Morro do Estácio, no Rio de Janeiro, um militar caretasso, campeão de tiro.. de repente ele se vê no meio da transformação dos anos da ditadura,  se envolve com a luta política, se envolve com a guerrilha, e aí entra para a história do Brasil.

Barão de Mauá (Mauá, o Imperador e o Rei), na verdade era um cara do Rio Grande do Sul cujo pai foi assassinado, a mãe se casou de novo, o padrasto não o quis em casa e a mãe manda este menino para o Rio de Janeiro. No Rio ele vai trabalhar num armazém como caixeiro,  20 anos depois é um dos caras mais ricos do mundo.

Estas aventuras, estes acontecimentos surpreendentes, essa trajetória de aventura dos caras é o que eu acho fascinante. Porque é um negócio que nós todos podemos.   

Uma curiosidade: Daniel Alves, jogador da seleção brasileira, que atualmente joga no Barcelona, foi figurante do meu filme Guerra dos Canudos, em 1996. Ele ia lá trabalhar para ganhar R$ 30 e um almoço e hoje ganha milhões de euros. Esta história eu gostaria de contar.




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