O vulcão que impulsionou a maior vaga de emigração dos Açores

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O vulcão que impulsionou a maior vaga de emigração dos Açores


O Vulcão dos Capelinhos, que há 58 anos eclodiu junto à costa Oeste da ilha do Faial, marcou indelevelmente a conturbada História destas ilhas e das suas gentes, pelas consequências sociais e económicas que despoletou. Deixando milhares de faialenses sem casa, o vulcão motivou o maior êxodo migratório jamais acontecido naquela ilha e, por arrasto, na generalidade do arquipélago. Inaugurado em agosto de 2008, O Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos faz-nos recuar até 1957.


Salomé Meneses nasceu na ilha Terceira e licenciou-se em geologia e recursos naturais pela Universidade de Lisboa. Regressou às “suas ilhas”, primeiro à Terceira e depois ao Faial, como técnica superior e hoje é coordenadora do Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos (CIVC), inaugurado em 2008. Afirma que “fazia muita falta este Centro de Interpretação”. “Aqui existia uma bela paisagem, criada em 1957/58, pela erupção do vulcão, mas durante esse meio século era somente uma paisagem que podia ser visitada, mas uma paisagem inóspita, sem nada que a interpretasse. Este Centro é único e surge pela necessidade que existia em interpretar esta bela paisagem”, explicou ao ‘Mundo Português’. Revela que o Centro recebe imensas visitas e que em 2015 bateram o recorde com 23 mil visitantes. Desde 2008 já contabilizam 160 mil pessoas. O bilhete tem os seus custos, mas é uma experiência única que proporciona às pessoas uma viagem ao centro da terra, como se formou o nosso planeta, e que termina com as belas paisagens dos como as conhecemos hoje. Durante a época alta o espaço está aberto todos os dias e na restante época de terça a domingo. O perfil do visitante, revela Salomé Meneses, vai desde o mero curioso, com curiosidade na área científica e nas ciências da terra ao turista que vem da Europa e de outras partes do mundo que quer conhecer as ilhas e ainda muitas pessoas que regressam à sua terra.
Em relação a estes últimos, “percebemos logo, pois é uma visita muita emotiva, com lágrimas nos olhos, e aí somos nós que aprendemos com os açorianos desta ilha que um dia tiveram que partir”, revela. “O surto emigratório por via deste vulcão foi enorme, há quem defenda que o vulcão não foi o fim mas o abrir de portas para outro mundo, para novas oportunidades que surgiram com a emigração e hoje da diáspora açoriana quando regressa”, salienta Salomé, acrescentando que estas pessoas “vêm com o vulcão no coração e quando chegam aqui tem uma experiência única, posso quase dizer uma experiência traumatizante, pois é como reviver, todo o drama” Um drama recebnte, vivido há 58 anos.
Na página da internet do Centro Interpretação pode ler-se que este “leva-nos numa viagem interpretativa que nos permite compreender o fenómeno em termos geológicos, enquadrá-lo na geologia do Planeta e ‘reviver’ os últimos oito milhões de anos que levaram à formação destas nove ilhas em pleno Atlântico”. Composto por vários espaços visitáveis, a oferta do CIVC é bastante diversificada e a sua atuação centra-se essencialmente na divulgação e preservação do património geológico. Galardoado com vários prémio,s o CIVC pertence ao Parque Natural do Faial “e faz-nos sentir que vivemos num planeta vivo e numa região em que os vulcões são muito mais do que fenómenos destrutivos e assustadores, são, como diria o poeta – ‘as fábricas da paisagem’”.


O SURTO EMIGRATÓRIO QUE AJUDOU A MUDAR A HISTÓRIA DOS AÇORES O ex-presidente norte-americano John F. Kennedy levou ao Congresso dos EUA, em 1958, uma lei conhecida por ‘Azorean Refugee Act’, que permitiu a milhares de refugiados do vulcão dos Capelinhos recomeçarem as suas vidas naquele país. A lei possibilitou a milhares de açorianos, que não apenas as vítimas do vulcão dos Capelinhos, aproveitarem a janela de oportunidade criada, melhorando substancialmente a sua qualidade de vida em território norte-americano.
Por isso hoje se diz em muitas conferências que o vulcão não foi o fim mas o princípio da expansão, e registe-se com muito sucesso, dos açorianos além Atlântico - com eles levaram a sua cultura e fé e como gente de trabalho, singraram na vida e venceram. Estima-se que 17 dos 30 mil habitantes da ilha do Faial à altura da catástrofe, tenham abandonado a ilha, com destino quase incontornável para os Estados Unidos da América. Estima-se que entre 1960 e 1990 tenham emigrado para os Estados Unidos da América cerca de 90 mil açorianos. Mais do que fugirem às incertas forças da natureza, os açorianos tiveram no vulcão dos Capelinhos uma justificação para expandir o arquipélago a outras paragens.

 António Freitas

in-http://www.mundoportugues.org
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2 Comentários

Comentários

  1. Ano de 1957. Tinha eu 14 anos. UM ano depois, já com 15 anos, lá estive e o vulcão ainda deitava alguma fumaça. Posteriormente, como adulto e já na qualidade de jornalista, passei pelo vulcão dos Capelinhos várias vezes, uma delas quando, ao serviço de A Bola, estive na companhia de outro companheiro do mesmo jornal, o falecido Manuel Rebelo Carvalheira. Em 1998, no dia 9 de julho, a ilha foi sacudida por uma terramoto que vitimou algumas pessoas e fez muitos estragos em edifícios, inclusive igrejas. Estava eu de férias de verão, interrompidas por alguns dias para colaborar com os jornais e rádios que me pediam informações sobre o acontecimento. Acresce que, no dia 1 de janeiro de 1980, outro terramoto na ilha Terceira, mas este de muito maiores proporções em termos de vítimas, feridos e estragos na ilha que atingiram praticamente os 70 por cento. Nenhuma igreja resistiu à força do abalo.

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    1. Acresce que, no dia 1 de janeiro de 1980, também estava de férias natalícias. Quando a terra tremeu, só se via poeira. Do mar, praticamente não se vislumbrava a terra. Foi grande a debandada para abrigos em função das fortes réplicas que se seguiram sistematicamente. Fui encontrar parte da minha família no quartel de Angra, o então BII17. Andei por cima de escombros, de enormes pedregulhos nas ruas e, debaixo dos mesmos, alguns cadáveres, um deles um amigo e companheiro que comigo esteve no serviço militar em Angola.

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