Crítica: canções falam alto na voz ‘del Rey’ Roberto Carlos

DO TEXTO:

 POR SILVIO ESSINGER

RIO - Rei no Brasil, Roberto Carlos também é tratado como se tivesse sangue azul em outros países da América Latina, falantes de espanhol, aos quais foi apresentado há 50 anos com o LP “Canta a la juventud”. A efeméride não passou batida para a Sony Music Latin, que investiu na produção de “Primera fila”, registro (em CD e DVD) de duas sessões (nos dias 11 e 12 de maio) de um espetáculo encenado no estúdio londrino Abbey Road, aquele famoso pelos Beatles.

Com versões em espanhol de algumas de suas músicas mais famosas (e outras no original em português, para a versão brasileira do produto, que chega nesta sexta-feira às lojas e plataformas digitais), “Primera fila” é um momento raro de Roberto fora do ambiente ao qual o público do seu país está acostumado. E, talvez por isso, seja o disco que traz mais novidades desde o “Acústico MTV”, de 2001.

Em “Primera fila”, Roberto recebe o tratamento que um astro da música latina, mesmo veterano, receberia nos dias de hoje — o que significa uma banda multinacional de experts (dirigida pelo guitarrista americano Tim Mitchell, braço direito da estrela colombiana Shakira) e arranjos novos, com riqueza de cordas. 

Os exageros e manias do cantor ficam um pouco de lado na embalagem entre o 
neutro e o elegante do projeto, que no DVD tem uma cinematografia limpa e reveladora. Descontraído em seus jeans, ele mostra bom humor em espanhol e deixa as canções falarem mais alto em sua voz.

Na parte em português do trabalho, está lá, pela enésima vez, “Emoções”, embora com um pouco mais de sabor do que de costume. “Cama e mesa” ficou bem vestida de baixo acústico e “Ilegal, imoral ou engorda”, em seu embalo meio surf music, permitiu a Roberto sentir-se, como ele mesmo disse, “um rock and roll singer”. “As curvas da estrada de Santos” brinda o ouvinte com um tipo de balanço de outros tempos e “Te amo, te amo, te amo” sobrevive bem ao teste de ter sido transformada em um reggae. 
É bonito ver Roberto, o intérprete, envolvido numa empreitada mais para fora da sua zona de conforto.





Como uma espécie de lado B da edição brasileira de “Primera fila”, entram as canções em espanhol (em boas versões, por sinal) — e é ali que está a verdadeira diversão. “Amigo” foi recriada segundo os padrões do atual pop latino, calcada num jogo de violões. Em “Amada amante”, Roberto encontrou o tom emocional certo, cativando a seleta plateia que participou das gravações. Um toque rancheiro deu novo sentido a “Mujer pequeña”, e “Jesús Cristo” ganhou densidade gospel. 

Como cerejas do bolo, a justificadíssima versão de “And I love her”, dos Beatles, e o dueto com o astro mexicano Marco Antonio Solís na quase sertaneja “Arrastra una silla” reforçam a impressão de que basta a Roberto Carlos arriscar-se um pouco para sair-se com algo digno de nota.

Cotação: Bom




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