Splish Splash!/ Fez o beijo que eu dei...

DO TEXTO:


SÉRGIO CINTRA
Especial para o DC Ilustrado

 Há 50 anos, mais precisamente no dia 22 de agosto de 1965, estreava, na TV Record, o programa Jovem Guarda, capitaneado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. O sucesso foi imediato e o que fora pensado para ocupar um espaço na programação da emissora em consequência da proibição das transmissões dos jogos do campeonato paulista, tornar-se-ia um movimento de amplo espectro: cultural, comportamental e, inclusive, econômico, e, ainda hoje, com presença marcante em parcela significativa de nossa gente.

 Se, de um lado, a Bossa Nova representava o intelectualismo da Zona Sul da capital Federal (Rio de Janeiro); do outro, a Jovem Guarda nascia em São Paulo sob forte influência do Rock catapultado por The Beatles, as guitarras invadiriam as ruas das principais cidades do país. A expressão “Jovem Guarda” foi sugerida pelo publicitário Carlito Maia, segundo alguns, numa referência explícita a Vladimir Ilyitch Ulianov, o Lênin, que cunhara: “O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada.

” Apesar da relação com o líder da, então, URSS, a Jovem Guarda foi vista com olhares enviesados pela elite intelecto-cultural (de esquerda) brasileira, especialmente por setores da MPB, que chegou a fazer uma passeata - felizmente sem o alcance esperado - capitaneada por Elis Regina, Edu Lobo, Geraldo Vandré, o MPB4, Jair Rodrigues e, até, Gilberto Gil: “A Passeata contra a Guitarra Elétrica”. Mesmo assim o iê-iê-iê (origem no “yeah, yeah, yeah” dos Beatles), com suas melodias simples e versos ingênuos e singelos, havia sido incorporado pelos jovens do Brasil.

 Ainda que necessário, esse historicismo precisa ser deixado de lado, sob pena de se omitir a poesia daqueles tempos. Depois de cinco décadas, é quase impossível afirmar que uma ou outra canção foi a melhor, mas os amantes da JG elegeram “Querida”(Jerri Adriani) como a mais simbólica entre todas e começa assim: “Querida, quero lhe dizer/Que toda a minha vida/Entreguei a você/Procure olvidar o que lhe fiz/Querida perdoa-me/Querida não vá” . Intencionalmente ou não, por mais que vivêssemos em uma ditadura, a canção revela a postura de submissão masculina, digna das cantigas medievais de amor ou do Romantismo do início do séc. XIX, remete à ideia revolucionária que quebra, simultaneamente, com o autoritarismo e com o patriarcalismo presentes na sociedade. Leituras como essa podem ser feitas em diversas outras canções como “Meu carro é vermelho...” (O Bom – Eduardo Araújo), ora, um carro vermelho em uma ditadura militar, nem o Chico Buarque ousaria.

 Mas o importante é que tanto a MPB quanto a Jovem Guarda cumpriram suas finalidades, marcando, ad eternum, algumas gerações. Não há nem melhor e nem pior, apenas gêneros diferentes. Quanto a mim, amante da MPB e simpático à JG, fico a cismar, um tanto ensimesmado, cantarolando “Moço Velho” (Sílvio César) e olhando para o meu blusão de couro... Talvez sejamos, agora, velhos moços de olhares míopes e cansados; porém, querendo apenas sussurrar aos ouvidos da amada um pouco de Antônio Marcos: “Como vai você?/Eu preciso saber/Da sua vida,/Peça alguém pra me contar/Sobre o seu dia.../Anoiteceu/E eu preciso só saber...

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