Cover mais famoso de Roberto Carlos quer lançar autobiografia

DO TEXTO:
Uma tábua de madeira, pneu de bicicleta, agulha e linha. Estes foram os materiais usados na primeira homenagem que Carlos Evanney fez para Roberto Carlos. Aos 7 anos, ele inventou sua própria vitrola para ouvir o compacto com a música “Tudo que sonhei’’, emprestado pelo vizinho. Mais de 50 anos depois, a vida pessoal dele se mistura com a de cover mais famoso de Roberto. E tudo deve virar uma autobiografia: ele já procura editoras interessadas.

— Faz um bom tempo que tive a ideia. A vida de cover dá um livro e como Carlos, outro. Se misturar os dois então — diz o artista, que quer conhecer os processos de publicação antes de escrever suas páginas.

Nascido em Maragogipe, interior da Bahia, ele veio para o Rio com 19 anos. Mas, antes de virar cover do Rei, em 2000, gravou dois compactos, dois LPs e três CDs. O tempo é medido em obras para não revelar a idade, que mantém em sigilo, a exemplo do nome de batismo.

— Eu digo que tenho a idade do Rei, mas é bem menos — conta ele, que estreou com um “n” só em Evaney, mas acrescentou outro depois para igualar a quantidade de letras as do nome do ídolo: 13.
Entre as loucuras feitas desde que adotou o visual, as gírias e tudo que Roberto viesse a fazer, Evanney guarda, até hoje, um pedaço de bolo que ganhou, em 2013, do ídolo aniversariante. Ele estava na calçada em frente ao prédio do Rei, junto a outros fãs, quando a produção o chamou.

— Minha filha também ganhou, mas comeu — diz o cover, sobre a caçula Roberta Carla: — Consertei meus erros com ela. Tive quatro filhos antes e devia ter colocado Roberto Carlos 1, Roberto Carlos 2...

A vida de artista também lhe rendeu boas histórias.

— Sobem no palco para tocar minha perna. Também já parei o trânsito, porque cobradores de ônibus queriam autógrafos — recorda ele, rindo.
Se alguém ainda duvida que a autobiografia gerará curiosidade do público, ele não:

— Sempre quis ser o Carlos Evanney, cantor. Tive medo de ser mais um imitador. Mas, hoje, todos me conhecem. Sabem que sou o Evanney e que sou cover do Rei — gaba-se.

Gravadora foi contra, mas ele insistiu

No Rio de Janeiro, quando ia gravar seu primeiro compacto simples, em 1978, a ideia de interpretar apenas músicas de Roberto veio à cabeça pela primeira vez. Mas o sucesso de Ricardo Braga, cantando um pot-pourri do Rei, na mesma época, fez com que a gravadora com a qual tinha fechado contrato o desestimulasse.

— Como já tinha alguém fazendo, a gravadora ficou com medo de não vender. Os produtores nunca acertam mesmo — avalia, rindo.

Mesmo assim, por conta da admiração, Evanney sempre guardou metade do tempo de seus shows para o repertório do ídolo. Durante esse tempo, conciliava as apresentações com trabalhos como pintor, cabeleireiro e cartazista. Em 2000, a necessidade de um foco fez ele abandonar a ideia de emprego fixo e programar uma apresentação inteiramente dedicada ao Rei. O dia marcou o início da carreira de cover.

— No final, uma mulher falou: “Só faltaram as rosas”.

Das fãs que o acompanhamos, vieram ainda outras ideias. Em 2009, uma delas perguntou, durante show, porque ele não fazia um cruzeiro igual ao de Roberto.
— Ela gritou, no meio de uma música. Quando terminei de cantar, falei: “Igual não dá, mas quem sabe num barquinho...” — lembra ele, ressaltando o sucesso que o passeio, realizado na Baía de Guanabara, virou: — Atualmente, faço quatro por ano.

Cada passeio tem capacidade para 200 pessoas, que pagam R$ 100 pelo ingresso. A homenagem ao Rei dá também lucro.

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