Não adianta nem tentar me esquecer

DO TEXTO:

Rosas: um dos elos do Rei com os súditos


Por: Danilo Bezerra
Fotos: Acervo pessoal e Diego Marcel (Teatro Riachuelo)


Quando, ao colo do meu pai, ouvi pela primeira vez a canção Caminhoneiro, algo chamou a minha atenção. Talvez a pouca idade, teria eu no máximo uns 6 anos, não permitisse que compreendesse que aquele homem que cantava o amor e a dor em forma de canção representava para meus pais um porta-voz de recordações de um tempo que tinha passado. Seu nome? Era um cantor chamado Roberto Carlos.

O tempo foi passando e cresci em meio a doutrina rígida dos meus pais e as canções daquele ‘caminhoneiro’, apelido que dei ao Roberto. Disco após disco, descobri canções que mexiam com meu imaginário, fazendo sorrir ou emocionando-me profundamente, numa longa estrada onde todos os caminhos levava ao Rei.

"De frente pra você..."
A vida é cheia recomeços. O menino de 6 anos agora é um rapaz de 19 anos. Longe de casa, estudando e trabalhando na cidade grande, muitas foram as responsabilidades assumidas nessa nova vida. Nos momentos de saudade da casa simples no interior, ouvia baixinho, num rádio que tinha trazido comigo, as canções do Roberto. Se para o cantor algumas “recordações me matam”, aqueles momentos faziam muito bem para mim.


Não podia ir vê-lo num show, pois sua agenda não vinha para o nordeste. No entanto, um anúncio no jornal dava a notícia que tanto aguardava: “Roberto Carlos em Natal”. Desse dia em diante começava uma longa espera, a de ver no palco o maior ídolo de minha família. No entanto esse sonho estava em risco: não tinha dinheiro para pagar um ingresso tão caro. Alem de ser um show caro o teatro era pequeno e o resultado dessa soma era salgado.


Desprendendo-me da vergonha, comecei a pedi a amigos dinheiro para pagar minha entrada. E deu certo, um senhor que até hoje não descobri quem foi, doou, por meio de uma amiga, o meu ingresso. Com o dinheiro em mãos, enfrentei duas horas em pé para comprar o ingresso. Parecia uma criança ao ter o passaporte para aquele show em mãos. Agora era só aguardar. 30 de novembro de 2013, essa era a data do meu encontro com Roberto.

Orquesta, Coral, Iluminação, Roberto.
Entre trabalho e universidade, o mês foi passando e me vi no tão esperado sábado. Coração pulsando forte, felicidade estampada num leve sorriso e uma emoção contida. Assim cheguei ao teatro. Com horário previsto para as 22h, sabia que, como manda o figurino, ele atrasaria. A platéia começava uma sucessão de palmas e chamados pelo Rei. Então abre as cortinas, a orquestra começa a embalar as mais de mil pessoas que lotavam o Teatro Riachuelo.

“Senhoras e senhores, com vocês... Roberto Carlos!”, quando anunciado, todos ficaram de pé e, com um sorriso e uma aparente felicidade surge o homem que a gerações encanta os brasileiros. Mais previsível impossível, Emoções abria uma das noites que ‘durante muito tempo em minha vida eu vou (re) viver’. Daqui pra frente, as canções que se sucederam, foram clássicos desses 50 anos de carreira.

Meia-noite, Roberto pedia e cantava o Café da Manhã, depois de amar de forma ingênua, com Eu te amo, te amo, te amo, e dizer que tudo isso pode ser mal visto, com Ilegal, Imoral e Engorda. Porém fui às lágrimas quando recordei a cena dos meus pais à porta despedindo-se de mim no dia que sair de casa com O Portão e do amor incondicional de minha mãe, com Lady Laura.

Após sua maior declaração de amor em forma de música, Como é grande meu amor de por você, era a hora de despedir-se dos seus fieis chamando por Deus, a orquestra iniciava Jesus Cristo. Ele cantava e eu me amontoava em meio a outros fãs ao pé do palco. Era o momento das rosas. Queria mais era poder ficar mais próximo a ele. E ele veio, olhou pra mim, baixou-se e deu uma rosa. Fiquei sem jeito e feliz pelo gesto que se repetiu, para espanto de amigos que estavam presentes e o acompanhavam pelos shows. Eram duas rosas e o tão esperado chamado: ele apontou pra mim e chamou a produção. Era o sinal que ia vê-lo de perto em seu camarim.

Luz Divina
1h23 da manhã de 1º de dezembro. Estava eu, Ana e sua mãe, Luciana e Tiago, uma trupe que assim como eu eram fãs declarados do Rei. A espera tornou-se grande pela ansiedade. Pessoas iam e vinham e sentia que cada vez mais estava próximo do tão esperado encontro. O produtor chamou e pude então entrar. No final do pequeno estande estava ele, com seu sorriso característico e uma simpatia aparente.

"- Roberto, posso te dar um abraço? - Claro bicho!"
Não era somente do Roberto o privilégio e honra de ter um amigo de fé. O meu irmão camarada não tinha Carlos, mas Rebolo no nome, Tiago Rebolo. Após tantos momentos vividos juntos, demos os passos firmes, tendo em vista o encontro com meu ídolo. Eu estava ali, vivendo esse momento lindo, de frente para Roberto Carlos e as emoções sendo vividas. Conversamos um pouco, tiramos fotos e percebi que nem mesmo um show de duas horas fez com que ele aparentasse cansaço.

Na saída voltei-me a ele e pedi um abraço: - Claro bicho!, respondeu-me com a simplicidade que não esperava. Na despedida um olhar fraterno complementava seus dizeres: - Vá com Deus. Somente pude agradecer e sair. Ao entrar no carro para voltar pra casa ainda não acreditava que tinha estado frente a frente com um dos maiores nomes da música brasileira e com um dos cantores preferidos de minha família. Sem dúvidas, um momento que não adianta nem tentar me esquecer. Dessa vez sem trocadilhos.

Eu, Roberto e Tiago
A simplicidade de Roberto Carlos foi referência para escrever este texto. Confesso que não achava que seria tão fácil chegar a ele, tendo em vista as varias investidas de fãs que há anos tentam ter esse momento com o Rei. Ao conversarmos percebi que a coroa que é dada pelos súditos não subiu a cabeça do garoto de Cachoeiro de Itapemirim, e que sua música atravessou gerações por seu caráter simplista, isto é, tudo que ele canta é de fácil entendimento, pois isso o torna um fenômeno popular, pois tudo o que canta é direcionado para todos, num show onde a lembrança eterniza o momento.

Quero registrar meu agradecimento a Robson Barbosa Carvalho, meu tio do coração. Graças a esse homem todo esse sonho foi possível, pois por meio dele conheci Erasmo Carlos,Wanderléa e terminei no camarim do Rei. Robson Carlos, ou, pra mim, RC Cover, merece todo o aplauso por ter Roberto Carlos em sua vida de uma forma digna e especial, à altura de ser cover no Rei. Ao meu tio, o meu mais sincero obrigado.

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4 Comentários

Comentários

  1. Que lindo Danilo!
    Conforme fui lendo, fui me arrepiando toda, porque a sensação que sinto nos shows que já assisti,são as mesmas que você sentiu. E elas se repetem a cada show, sempre mais fortes. Quando o locutor o anuncia então,nossa,é demais.Já tive o privilégio de ir ao camarim também e constatar o quanto nosso ídolo é simples e humilde.
    Parabéns Danilo, amei o seu relato de fã do nosso "caminhoneiro"...

    Beijos,
    Carmen Augusta

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  2. Olá, Danilo!
    Excelente matéria! Fiquei extremamente sensibilizado com a forma como transmitiste todas as sensações por que passaste desde a infância até finalmente te encontrares com o Roberto dando-lhe aquele abraço.
    As minhas felicitações e um grande abraço robertocarlistico!

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  3. Gostei muito, Danilo,
    ... e de que te tivesses apercebido que a coroa que ele usa não lhe subiu á cabeça, que a simplicidade é um dos seus mais bonitos adjectivos!
    Tinha saudades de te ler, espero que o faças mais vezes!
    Fica com carinhos meus.

    Natália Pires

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  4. Amigo Danilo!

    Meu coração bateu forte ao ler a tua matéria.
    É linda a tua história.
    A dedicação e o Amor que desde criança nutres pelo NMQT, veio a ser coroado com esse emocionante encontro.
    Sei perfeitamente tudo o que sentiste e sentes, pois já tive a felicidade e a graça de passar por esses mágicos momentos...e na saída do camarim, tive a tua atitude...parei...e imaginando que aquele momento poderia nunca mais se repetir, pedi ao Nosso Rei mais um abraço, o que prontamente ele abriu os braços dizendo:
    - Claro, venha!
    Foi o abraço mais caloroso da minha vida!
    E como dizes:
    "...a lembrança eterniza o momento!
    Parabéns Danilo, pela forma maravilhosa como descreves a realização de teu sonho, demonstrando que já és um Grande Jornalista!
    Sucesso sempre em tua carreira!

    Abraços Robertocarlísticos
    Alba Maria

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