Um dia de Rotina - RC 1973

DO TEXTO:

Por Danilo Bezerra 

Quando um cantor chega a mais de 50 anos de carreira é comum que muitos de suas composições se percam na vasta discografia que esse constitui. Tratando-se de Roberto Carlos, muitas de suas músicas não são conhecidas por parte do público, não que estas não sejam dignas de serem eternizadas, mas em meio a mais de 500 músicas gravadas em português algumas se destacam mais do que outras.

Capa do LP 1973 - "A Rotina"

Sua obra se estende por décadas e sua qualidade o acompanha por essa estrada, o Na peugada da Obra do Rei realiza mais uma cavalgada pela obra do nosso Rei. Após alguns tempos distantes de vocês voltamos para juntos relembrarmos o que “esse cara” já cantou e encantou nossas vidas. Vamos aos anos 70, década de ouro que rendeu aos fãs suspiros e canções que entraram para o imaginário popular. Mais especificamente iremos para o ano de 1973, quando Roberto Carlos já não parecia em nada com aquele jovem rebelde do início dos anos 70 e já estava compondo como um homem romântico e sensível, com um jeito que conquistou o Brasil.

O long play de 1973 trazia logo em sua primeira faixa um arranjo que fugia dos convencionais conjuntos de cordas, típicos dos cantores que utilizavam de orquestras em suas músicas. Com uma sucessiva contraposição de violinos, violas e violoncelos A Cigana falava do encontro com uma cigana que mostraria em seus mistérios os caminhos que ele deveria seguir. Com uma interpretação que iria do intimista a sua explosão aos microfones, essa faixa já mostrava um pouco do que o resto do disco traria. Na sequencia Roberto Carlos canta Atitudes, que mostra o sofrimento do fim de um amor, “agora eu estou sem jeito vendo a noite chegar” e vai além dizendo “calado eu não saio do meu canto/ pra não ver a hora/ de recordar segredos e atitudes de nós dois.”. Essa canção ganhou uma outra versão famosa na voz do cantor Fagner.

Amaguras e amores
Esse disco é um marco na carreira do Rei por conter uma canção que inicia uma série de músicas fazem parte de seus shows até hoje. Trata-se da série sensual do Roberto, que depois seria chamada de fase motel, Proposta quebra os tabus da época em relação do sexo nas canções da época. Com uma letra que começava com o refrão “Eu te proponho/ nós amarmos/ nos entregarmos/ nesse momento/ tudo lá fora/ deixar ficar...” Roberto Carlos elabora imagens e mexe com a imaginação dos fãs ao tratar dos momentos pós o ato sublime do amor. Segundo o próprio cantor havia um receio em relação às críticas que a música podia gerar: “Tinha medo dessa canção não ser bem vista, pois tocava num tema até então delicado. Mas gostaram, até aplaudiram.”

Isolda é uma cantora desconhecida, mas que têm na carreira do Roberto grandes canções gravadas, entre elas Falando Sério. No repertório de 73 ela tem sua primeira canção interpretada pelo Rei com o título Amigos, Amigos. Essa canção trás uma situação que é típica, uma amizade que não virá amor, mas deixa marcas para uma das partes. Com toques de drama, o que é visto em muitas de suas canções, essa música é uma das pérolas que estão esquecidas em sua vasta discografia.

Moço Velho é uma das faixas que expõem um Roberto mais amargurado e desamoroso. Em seus poucos versos, um drama psicológico é mostrado, “Eu sou um livro aberto sem histórias/ um sonho incerto sem memórias/ do meu passado que ficou...”. Uma das canções mais tristes e belas da carreira que estão no anonimato real. A faixa termina com um desabafo “sou um moço velho/ que já sofreu tudo/(...) que já morreu cedo, (...) eu sou alguém livre/ não sou escrevo nunca fui senhor/ eu simplesmente sou um homem/ que ainda crê no amor”.

Na mesma linha, com um teor forte mais voltado para a relação a dois, Palavras é a faixa que vem em seguida. Esse álbum mostram um cantor e compositor mais amargo, que crer no amor sem a ingenuidade da Jovem Guarda e sabe que sofrer por amor também faz parte dos relacionamentos. Um homem que lida com as crises do amor e faz delas suas forças para amar outra vez.

Anos 70: amadurecimento
Esse mesmo álbum ainda vem com um faixa em espanhol, o bolero El Dias que me queiras. Esta última vez sucesso nos países latino. Mais os instrumentos elétricos não seriam esquecidos nessa nova fase da carreira do Roberto. Composta por Tim Maia a música Não adianta nada fez referência ao Soul Music que chegava ao Brasil aliada pelo lado eclético de Roberto Carlos, fazendo que suas interpretações ao vivo dessa canção serem memoráveis.

A penúltima faixa expõe seu lado religioso, com O Homem Roberto deixa claro sua crença na volta de Jesus Cristo e utiliza-se de metáforas para falar dos pecadores e exalta o divino no refrão: Tudo que aqui Ele deixou/ Não passou e vai sempre existir /Flores nos lugares que pisou/E o caminho certo pra seguir”. Uma das músicas mais tocadas no Natal de 73 e início de 1974.

Esse repertório já fecharia o álbum de 73 como um marco, à passagem de Rei da Jovem Guarda para, definitivamente, o Rei das multidões. Porém, a última faixa desse LP mostrar um lado interessante nas composições de Roberto Carlos e que seria cada vez mais presente: músicas que falassem de cenas cotidianas com toques de romantismo, e que aliado a isso tivessem arranjos mais trabalhados e envolventes. Tratava-se de, nesse ano, da canção Rotina. A canção fala de um casal que vive um relacionamento típico, “amor, amor y mas amor”, e que devido as atribuições do dia a dia eles se separam. Essa música é rica, pois em sua letra descreve com detalhes cenas desse relacionamento, como o acordar do casal, a busca pela amada, os contratempos “no momento de ir embora” do trabalho e quando os dois novamente se reencontram e o “ amor começa/ e só terminar/ quando nasce mais um dia/ um dia de rotina.”

Sempre que o Na peugada da Obra do Rei volta com uma nova matéria, um motivo especial o cerca. Nessa edição não seria diferente. O repertório de 1973 é dedicado ao irmão deste autor que vos escreve em alusão ao seu aniversário. Mas por que 73? Bem, sabemos que a vida é feita de momentos, e no momento atual do meu irmão de coração o álbum de 73 reflete muito desse homenageado. Um homem que deixa de ser menino e amadurece, que assume responsabilidades, que é capaz de ser humilde, mostrar suas convicções e ainda viver uma Rotina de amor com sua amada. E por essa outras que daqui presto minha singela homenagem ao nosso Rei Roberto Carlos e, permitam-me,  em especial a irmão que com “cabeça de homem e coração de menino” merece todo o meu carinho. Parabéns Tiago Domingos Rebolo.

Até a nossa próxima “cavalgada” por essa estrada colorida que é a obra do nosso Rei.
Roberto Carlos - Rotina - 1973



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