O Baú do Carlos Alves (42)

DO TEXTO:





Por: Carlos Alberto Alves
Publicado no jornal A União em 23 de julho de 2010
Quando vejo um Ford antigo
Quantos casos e histórias já aconteceram comigo ao longo destes 46 (se Deus quiser e me ajudar, quero chegar aos 50 em 10 de Março de 2014. Nesse ano, vou receber uma “medalha de sabão” do Governo dos Açores) de jornalismo, sobretudo no que concerne a viagens. Muita coisa já narrei, mas outras ainda estão no baú (cheirando a naftalina, convenhamos) à espera da sua oportunidade.
Ora, em Agosto de 1977, quando escrevia para o DI (a primeira vez que saí deste então vespertino), fui ao Congresso Extraordinário da Federação Portuguesa de Futebol, que iria decidir o sim ou não quanto à entrada do Lusitânia, legítimo vencedor do Torneio dos Campeões Açorianos (com Teixeira e os seus perfumes a “embebedarem” os avançados contrários). Nessa altura, aguardando o almejado “fumo branco”, já se encontrava em Angra o técnico Mário Ribeiro Nunes que, ao saber da minha deslocação à capital, pediu-me para ir entregar o seu carro (um Ford cinzento) à esposa no Estoril. Desde logo, pus-lhe ao corrente que não dirigia, nem carta tinha. Mas, havia a hipótese de falar com o nosso comum amigo Jorge Shnitzer, jornalista de “A Bola” ou, então, outro meu conhecido que se disponibilizasse para lá ir. E, de facto, um dia à noite encontrei na baixa pombalina o nosso querido conterrâneo e amigo, João Manuel Fraga, que se prontificou no dia seguinte a ir comigo fazer a entrega do carro que estava “ancorado”, ao sol (bem quente) no Aeroporto da Portela. Coloquei alguma gasolina e lá fomos. Mas, o pior estava para vir. O carro, por falta de água (ninguém se lembrou desse pormenor, eu muito menos que não percebia, nem percebo ainda, nada de carros), começou a deitar uma grande fumaça em Paço D’Arcos e deixou de funcionar. Lá tivemos que esperar pela vinda da mulher do Mário Nunes e deixar o veículo numa oficina na referida localidade. Que grande azar o meu, mas, felizmente, o Mário Nunes compreendeu que eu era um “nabo” em termos de conhecimentos de carros. Só não sei se foi o Lusitânia que pagou o concerto do carro, mas penso que não. Com aquele presidente, José Gabriel Fragoso, o “tio patinhas”, não era fácil.
Mas, depois, volvidos alguns anos, mais uma história de um carro, desta feita muito menos problemática.
Num dos Jogos Juvenis Insulares, na ilha da Madeira, eu e o Sérgio Aguiar ( à noite andávamos sempre juntos), encontramos, a sair de um Hotel luxuoso (Sherton), o nosso Mário Nunes, conduzindo um Renault vermelho. Saiu do carro, deu-nos um abraço, pegou nas chaves e saiu-se assim: “pega o carro, depois falamos”. Repentinamente, voltou para dentro do Hotel (ali havia “pescaria” da boa). Eu e o Sérgio Aguiar fartamos de rir. Bom, até deu jeito o carro para darmos umas voltas na cidade do Funchal, com o Sérgio a conduzir. Pudera. Mas na minha mente continuava (e ainda hoje continua) a história passada com o Ford, que mais tarde acabaria mesmo por vir para a Terceira.
Ainda sobre o Renault, no dia seguinte, fomos entregá-lo ao Mário Nunes que nos esperava num dos estabelecimentos do presidente do Marítimo (António Henriques), ali bem pertinho do Lido Sol. Só aí é que o Mário Nunes nos contou o seu retorno ao Hotel. Entendeu-se... Naquela noite, fomos “os salvadores” do Mário Nunes.
Portanto, sempre que encontro um Ford do mesmo modelo daquele de 1977, lembro-me do Mário Nunes, do João Manuel Fraga, e de todas as peripécias em que ficamos envolvidos quando o carro começou a deitar muito fumo. Só sei que houve uma alma caridosa, que por ali passava que nos ajudou com um extintor. Creio que, sem aquela ajuda, o prejuízo seria muito maior. O Nunes apenas gastou 12 500 escudos, nada que causasse um “profundo rombo” no orçamento de um treinador de futebol que veio ganhar um vencimento muito razoável. Depois, justificado, com a subida à II Divisão.
Se me perguntarem, hoje não sei o paradeiro do Mário Nunes. Estará no Algarve, concretamente em Portimão? Será que aquele Ford entrou para o museu dos carros? Como dizem os brasileiros “putz grila”, que significa caramba, puxa a vida, etc.. E tudo isto tem a ver com aquele Ford que me deu imensas dores de cabeça.
NOTA FINAL - A minha companheira tem um Ford Classic, saído recentemente da fábrica. Há dias, quando passávamos pela Linha Amarela (centro do Rio de Janeiro), o carro estava quase sem gasolina. E como o tráfego ali é intenso, se parássemos ia ser bonito. Contudo, chegamos a tempo a um posto de gasolina. Mas, no percurso (rezando a todos os santinhos para chegar a essa “gasolineira de salvação”), lembrei-me logo da história do Ford do Mário Nunes.
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